|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para economistas, taxa pode levar a recessão
DA REPORTAGEM LOCAL
A manutenção da taxa básica de
juros decidida ontem pelo Banco
Central pode levar o país a uma
recessão no segundo semestre, na
avaliação de Ricardo Carneiro, diretor do Centro de Estudos de
Conjuntura e Política Econômica
da Unicamp. Para outro economista da Unicamp, Luiz Gonzaga
Belluzzo, os indicadores industriais já apontam recessão.
De acordo com Carneiro, a política monetária do BC faz parte de
"um conjunto de medidas de política fiscal e cambial que são extremamente contracionistas".
"Seguraram a taxa de juros para
tentar cumprir uma meta de inflação que é irreal", afirmou. O economista argumenta que, com a
queda nos indicadores de inflação, a taxa de juros básica real está
em crescimento, o que afeta diretamente setores produtivos: o crédito, além de escasso, é caro.
"Economistas conservadores
dizem que não tem importância
se a taxa de juros vai ser baixada
daqui a um ou dois meses, o que
importa é que a inflação baixe antes para estar dentro da meta. Eu
digo o contrário: a taxa deve ser
baixada antes, para que se preserve produção e emprego, para depois haver ajuste da inflação", disse Carneiro, que integrou o grupo
de economistas responsável pela
elaboração do programa econômico do PT.
O economista declarou achar
improvável uma eventual redução do percentual do recolhimento dos empréstimos compulsórios. Atualmente, os bancos são
obrigados a recolher no Banco
Central 60% do total dos depósitos à vista dos correntistas, o que
desaquece a economia.
"Acho que é apenas especulação. Se o compulsório fosse reduzido, a economia estaria sendo liberada de alguma forma. Isso fortaleceria a tese de que a taxa de juros foi mantida mais para manter
a rentabilidade do capital externo
do que conter a inflação", disse.
Para Gonzaga Belluzzo, o risco
da manutenção da atual política
monetária é obrigar a economia a
conviver com taxas altas de juros
reais (acima da inflação). ""O objetivo do BC é jogar a inflação dentro da meta ajustada. E, para ganhar quatro pontos [percentuais]
na inflação, eles vão produzir recessão", afirma o economista. ""Os
indicadores de atividade já mostram que estamos nesse quadro."
O professor sustenta ainda que
o governo cometeu um erro ao
permitir que houvesse uma valorização no câmbio (desde janeiro,
o dólar se desvalorizou 15,29%
diante do real). A valorização do
peso, diz ele, prejudicará os resultados das exportações nos próximos meses, com consequência direta no déficit em conta corrente
(que contabiliza as transações do
país com o exterior).
""Foi uma tolice monumental
não ter intervindo para evitar a
valorização do real. Agora a coisa
está posta: é fato que o BC vai baixar os juros nos próximos meses.
Só que a pressão do câmbio vai
voltar, pelos vencimentos de dívidas e porque com juros menores
o câmbio se aprecia. Quero ver
como vão se comportar se houver
efeitos do câmbio na inflação."
(MAELI PRADO E JOSÉ ALAN DIAS)
Texto Anterior: Governo admite crescimento menor do PIB Próximo Texto: Frase Índice
|