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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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Para economistas, taxa pode levar a recessão

DA REPORTAGEM LOCAL

A manutenção da taxa básica de juros decidida ontem pelo Banco Central pode levar o país a uma recessão no segundo semestre, na avaliação de Ricardo Carneiro, diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp. Para outro economista da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, os indicadores industriais já apontam recessão.
De acordo com Carneiro, a política monetária do BC faz parte de "um conjunto de medidas de política fiscal e cambial que são extremamente contracionistas".
"Seguraram a taxa de juros para tentar cumprir uma meta de inflação que é irreal", afirmou. O economista argumenta que, com a queda nos indicadores de inflação, a taxa de juros básica real está em crescimento, o que afeta diretamente setores produtivos: o crédito, além de escasso, é caro.
"Economistas conservadores dizem que não tem importância se a taxa de juros vai ser baixada daqui a um ou dois meses, o que importa é que a inflação baixe antes para estar dentro da meta. Eu digo o contrário: a taxa deve ser baixada antes, para que se preserve produção e emprego, para depois haver ajuste da inflação", disse Carneiro, que integrou o grupo de economistas responsável pela elaboração do programa econômico do PT.
O economista declarou achar improvável uma eventual redução do percentual do recolhimento dos empréstimos compulsórios. Atualmente, os bancos são obrigados a recolher no Banco Central 60% do total dos depósitos à vista dos correntistas, o que desaquece a economia.
"Acho que é apenas especulação. Se o compulsório fosse reduzido, a economia estaria sendo liberada de alguma forma. Isso fortaleceria a tese de que a taxa de juros foi mantida mais para manter a rentabilidade do capital externo do que conter a inflação", disse.
Para Gonzaga Belluzzo, o risco da manutenção da atual política monetária é obrigar a economia a conviver com taxas altas de juros reais (acima da inflação). ""O objetivo do BC é jogar a inflação dentro da meta ajustada. E, para ganhar quatro pontos [percentuais] na inflação, eles vão produzir recessão", afirma o economista. ""Os indicadores de atividade já mostram que estamos nesse quadro."
O professor sustenta ainda que o governo cometeu um erro ao permitir que houvesse uma valorização no câmbio (desde janeiro, o dólar se desvalorizou 15,29% diante do real). A valorização do peso, diz ele, prejudicará os resultados das exportações nos próximos meses, com consequência direta no déficit em conta corrente (que contabiliza as transações do país com o exterior).
""Foi uma tolice monumental não ter intervindo para evitar a valorização do real. Agora a coisa está posta: é fato que o BC vai baixar os juros nos próximos meses. Só que a pressão do câmbio vai voltar, pelos vencimentos de dívidas e porque com juros menores o câmbio se aprecia. Quero ver como vão se comportar se houver efeitos do câmbio na inflação."
(MAELI PRADO E JOSÉ ALAN DIAS)


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