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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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Prevendo ritmo menor das exportações, Fazenda reduz de 2,2% para 2% estimativa de expansão em 2003

Governo admite crescimento menor do PIB

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No mesmo dia em que o Banco Central manteve a taxa de juros inalterada em 26,5%, o Ministério da Fazenda divulgou documento com avaliação pessimista do desempenho da economia neste ano.
O texto, assinado pelo secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa, informa projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2003 menor do que o oficialmente divulgado pelo governo, que estava em 2,2%. A nova projeção é de 2%.
Segundo o documento, a economia só não terá um desempenho ainda pior porque a renda do setor agrícola deve ser recorde neste ano, compensando outros setores.
"O nível de atividade ao longo do ano será influenciado por um ritmo menos acentuado das exportações, pela intensidade das restrições ao crédito, pela evolução, ainda negativa, do salário real, e pelo bom desempenho do setor agrícola."
O mercado financeiro projeta crescimento da economia ainda menor. Segundo levantamento divulgado pelo BC na segunda-feira, os bancos estimam aumento de 1,9% do PIB (soma de toda riqueza produzida no país) neste ano.
No documento, a Fazenda ainda faz a ressalva de que o crescimento em torno de 2% depende de um desempenho mais forte do setor de serviços, para compensar a fraca performance da indústria. Segundo o estudo, a produção industrial (descontados efeitos temporários) recuou 1,1% no primeiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.
O texto ressalta que a renda real (descontada a inflação) do trabalhador no primeiro bimestre do ano caiu 5,7%. No entanto, a massa salarial (soma de todos os salários) subiu 0,8%, o que explicaria, em parte, a maior resistência para a queda dos preços.
A massa salarial teria subido por conta de maior ingresso de pessoas no mercado de trabalho, ainda que mais da metade dos postos tenha sido criada no segmento informal da economia. De 908 mil postos de trabalho abertos num período de 12 meses encerrado em março passado, 485 mil foram de empregados sem carteira ou de trabalhadores por conta própria.

Queda lenta
As expectativas do mercado, refletidas nos contratos de juros negociados no mercado futuro, apontam para uma queda da taxa básica (Selic) no longo prazo.
De acordo com o documento, a taxa dos contratos de juros com vencimento em 180 dias ficou em 25,29% em abril, enquanto a Selic estava (e ainda está) em 26,5% ao ano. Isso significa que o mercado projetava uma taxa básica próxima de 25% em seis meses.
A Secretaria de Política Econômica classificou as expectativas do mercado sobre uma queda dos juros "no longo prazo" como "coerente com o declínio observado nas taxas de inflação". Os últimos indicadores de preços apontaram queda da inflação.
No entanto o ministério ressaltou que "não se espera uma queda abrupta" da taxa básica de juros. Entre os motivos apontados, destacou que o recuo da inflação ocorre num ritmo ainda lento, que o regime de câmbio flutuante não assegura o dólar no nível atual (em torno de R$ 3) e que ainda "há um longo trajeto para a implementação das reformas previdenciária e tributária".
Ou seja, haveria risco de o dólar voltar a subir, o que prejudicaria novamente a queda da inflação.


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