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LUÍS NASSIF
A pós-graduação e a economia
O CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) está trabalhando na reformulação dos cursos de pós-graduação no país.
Comissões temáticas foram criadas para definir novos critérios,
que terão que levar em conta as
condições específicas de cada
área do conhecimento.
Isso tem tudo a ver com a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), embora não pareça.
Há anos o CNPq e a comunidade científica definiram como
critério de avaliação a publicação de "papers" em revistas especializadas estrangeiras. Foi um
critério correto na época, para
evitar o compadrio corporativo.
Com o tempo, acabou provocando distorções de monta. O
aluno entrava na pós pensando
exclusivamente na publicação
de seu trabalho.
Se nas exatas houve distorções,
nas humanas, especialmente na
economia, elas foram de maior
monta. A economia não é ciência exata, universal. Fornece um
conjunto de ferramentas, mas
que têm que ser adaptadas às
circunstâncias de cada realidade, ao ambiente econômico de
cada país, ao perfil do seu empresariado, do Congresso, às características macroeconômicas.
Os Estados Unidos e o Brasil
são economias distintas. O primeiro pode conviver com enormes déficits comerciais; o segundo, não; o primeiro tem uma
economia bastante aberta; o segundo, não. No primeiro, pode-se calibrar a inflação em cima de
pequenas variações da taxa de
juros. No segundo, o dólar pode
passar de R$ 2,40 para R$ 3,80 e
voltar e retornar em questão de
meses.
No entanto, como as publicações internacionais passaram a
ser o único critério de avaliação
dos trabalhos dos doutores brasileiros, essa rapaziada se desinteressou do estudo das características da economia brasileira
para se fixar em um falso universalismo da teoria econômica,
princípios econômicos, como se a
última teoria em voga tivesse
abolido as diferenças entre as diversas realidades econômicas e
conquistado a universalidade.
É isso o que explica essa loucura de aplicar uma teoria, a realidade responder de forma inteiramente contrária e prosseguir
em marchas insensatas. E
-pior- sempre passando essa
manipulação de especialista de
que o sofrimento leva à redenção, mesmo sabendo que esse
mesmo sofrimento, no primeiro
governo Fernando Henrique
Cardoso, não conseguiu produzir nem lições que evitassem, hoje em dia, a sua repetição.
AES
Parece um tanto fantasiosa a
reportagem do "Financial Times" sobre a venda da Eletropaulo. Segundo o repórter Demetri Sevastopulo, um acordo
entre a AES e a Enron teria afastado a segunda empresa da disputa, permitindo à primeira adquirir a empresa sem ágio.
Na época, a Enron já tinha se
endividado para adquirir a
Elektro. Ninguém esperava que
participasse do leilão. A esperança, aliás, era que a VBC, do grupo Votorantim, fosse a competidora.
Além disso, a AES não participou do leilão. O lance vencedor
foi da Light, na época controlada por quatro sócios gigantes, a
AES, a EDF francesa, a Houston
e a CSN.
O ano foi 1998, já havia cheiro
de maxidesvalorização. A falta
de compradores ficou patente no
exemplo da Bandeirante, colocada à venda no mesmo período
e que ficou sem comprador.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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