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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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LUÍS NASSIF

A pós-graduação e a economia

O CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) está trabalhando na reformulação dos cursos de pós-graduação no país. Comissões temáticas foram criadas para definir novos critérios, que terão que levar em conta as condições específicas de cada área do conhecimento.
Isso tem tudo a ver com a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), embora não pareça.
Há anos o CNPq e a comunidade científica definiram como critério de avaliação a publicação de "papers" em revistas especializadas estrangeiras. Foi um critério correto na época, para evitar o compadrio corporativo.
Com o tempo, acabou provocando distorções de monta. O aluno entrava na pós pensando exclusivamente na publicação de seu trabalho.
Se nas exatas houve distorções, nas humanas, especialmente na economia, elas foram de maior monta. A economia não é ciência exata, universal. Fornece um conjunto de ferramentas, mas que têm que ser adaptadas às circunstâncias de cada realidade, ao ambiente econômico de cada país, ao perfil do seu empresariado, do Congresso, às características macroeconômicas.
Os Estados Unidos e o Brasil são economias distintas. O primeiro pode conviver com enormes déficits comerciais; o segundo, não; o primeiro tem uma economia bastante aberta; o segundo, não. No primeiro, pode-se calibrar a inflação em cima de pequenas variações da taxa de juros. No segundo, o dólar pode passar de R$ 2,40 para R$ 3,80 e voltar e retornar em questão de meses.
No entanto, como as publicações internacionais passaram a ser o único critério de avaliação dos trabalhos dos doutores brasileiros, essa rapaziada se desinteressou do estudo das características da economia brasileira para se fixar em um falso universalismo da teoria econômica, princípios econômicos, como se a última teoria em voga tivesse abolido as diferenças entre as diversas realidades econômicas e conquistado a universalidade.
É isso o que explica essa loucura de aplicar uma teoria, a realidade responder de forma inteiramente contrária e prosseguir em marchas insensatas. E -pior- sempre passando essa manipulação de especialista de que o sofrimento leva à redenção, mesmo sabendo que esse mesmo sofrimento, no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, não conseguiu produzir nem lições que evitassem, hoje em dia, a sua repetição.

AES
Parece um tanto fantasiosa a reportagem do "Financial Times" sobre a venda da Eletropaulo. Segundo o repórter Demetri Sevastopulo, um acordo entre a AES e a Enron teria afastado a segunda empresa da disputa, permitindo à primeira adquirir a empresa sem ágio.
Na época, a Enron já tinha se endividado para adquirir a Elektro. Ninguém esperava que participasse do leilão. A esperança, aliás, era que a VBC, do grupo Votorantim, fosse a competidora.
Além disso, a AES não participou do leilão. O lance vencedor foi da Light, na época controlada por quatro sócios gigantes, a AES, a EDF francesa, a Houston e a CSN.
O ano foi 1998, já havia cheiro de maxidesvalorização. A falta de compradores ficou patente no exemplo da Bandeirante, colocada à venda no mesmo período e que ficou sem comprador.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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