|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RENEGOCIAÇÃO
Mudança feita por senadores impede que devedor com processo judicial possa aderir ao parcelamento do Refis 2
Cai no Senado anistia a empresa processada
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sob pressão de setores empresariais e após intensa negociação
entre governo e oposição, o Senado aprovou ontem o projeto de
conversão à medida provisória
que cria o novo Refis (Programa
de Recuperação Fiscal), estabelecendo as condições de parcelamento de débitos de empresas
com a Receita Federal, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e
o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Por articulação do líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), o Senado modificou o texto
aprovado na Câmara que, portanto, retorna àquela Casa para nova
votação. Uma das principais alterações foi a retirada do texto da
anistia aprovada na Câmara a empresas com processos judiciais
por crime de apropriação indébita -descontam a contribuição
previdenciária dos funcionários
mas não repassam os recursos para o INSS.
O governo enfrentou pressão de
sua própria base para manter a
anistia. Os deputados Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) e José Carlos
Martinez (PTB-PR), em reunião
de líderes partidários do Senado
na última terça-feira, tentaram a
mudança do texto. Mas foram
convencidos por Mercadante de
que a proposta é inconstitucional,
já que não se pode tratar de matéria penal em medida provisória.
Pressões
Nas negociações, o governo cedeu a pressões do PFL, do PSDB e
do PMDB para melhorar as condições de pagamento dos débitos
fiscais de empresas que, pela medida provisória, teriam de pagar
uma parcela mensal de 1,5% sobre o faturamento até a quitação
da dívida.
Como resultado do acordo, foi
fixado um prazo mínimo de 120
meses para o refinanciamento das
dívidas dessas empresas -que
poderão pagar uma parcela menor, comprometendo menos de
1,5% do seu faturamento mensal
com o pagamento da dívida.
Representantes da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo) tentaram ontem convencer os líderes a facilitar o parcelamento dos débitos também
das empresas que, pela medida
provisória, terão de quitá-los em
180 meses. Defendiam que as empresas pudessem pagar parcelas
menores no início, que seriam
elevadas posteriormente. Mas
não conseguiram sucesso.
Por causa do lobby do empresariado sobre os senadores, Mercadante decidiu ser o relator da matéria. ""É tanta pressão que resolvi
ser o relator", disse.
Prazo
Em outro ponto do acordo, em
torno da data adotada para a nova
consolidação dos débitos, governo, PFL, PSDB e PMDB chegaram
a um meio termo. O texto aprovado permite o refinanciamento dos
débitos consolidados até fevereiro
de 2003. O projeto da Câmara fixava esse prazo em 31 de dezembro de 2002.
Os partidos de oposição (PFL e
PSDB) queriam incluir as dívidas
consolidadas até a data da promulgação da lei, mas o governo
temia que isso estimulasse as empresas a suspender o pagamento
dos débitos. Após as negociações,
o governo concordou em ampliar
o prazo em dois meses.
Carga tributária
Apesar dos votos contrários do
PFL e do PSDB, o Senado manteve o aumento de 3% para 4% da
Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social)
para as instituições financeiras.
Manteve também a elevação (de
12% para 32%) da base de cálculo
sobre a qual incide a alíquota (de
9%) da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) para
os prestadores de serviço que declaram pelo lucro presumido (estimativa de faturamento). O aumento da base eleva a CSLL daquelas empresas em 166,67%.
Mas, por acordo entre governo
e oposição, foi incluída uma
emenda no texto para permitir
que a empresa que hoje recolhe
com base no lucro presumido
possa optar, ainda neste ano, pelo
recolhimento com base no lucro
real.
"Vão-se os anéis, ficam os dedos. Foi o melhor acordo para encontrar um caminho para os contribuintes inadimplentes. Vai ser
um grande alívio para as empresas", afirmou o líder do PFL, José
Agripino (RN).
Foram cerca de três horas de
discussão da proposta. A votação
do parecer foi simbólica (sem registro individual de votos), mas
houve votação nominal no caso
da CSLL -e o aumento da base
de cálculo foi mantido por 31 votos a 26.
O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), e outros dirigentes
do partido subiram à tribuna para
criticar o que consideram aumento da carga tributária. "O governo
está promovendo uma derrama.
Estamos caminhando para uma
recessão", disse Bornhausen.
Mercadante reagiu, lembrando
que o PFL apoiou por oito anos o
aumento da carga tributária de
26% para 36% do PIB.
"O novo governo não tem como
reduzir a carga tributária porque
precisamos manter o superávit
fiscal", disse Mercadante.
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Curto-circuito: Governo estuda reduzir poder de agências Índice
|