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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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ÁGUIA ABATIDA

Presidente do Fed afirma que prazo para recuperação dos EUA é incerto e que deflação "é uma possibilidade"

Indicadores desapontam, diz Greenspan

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente do Fed (o banco central dos EUA), Alan Greenspan, disse ontem que os recentes indicadores da economia americana têm sido ""desapontadores" e reconheceu que ""o prazo e a extensão da recuperação [do país] ainda permanecem incertos".
Greenspan disse reconhecer que ""a deflação é uma possibilidade" e sinalizou que o Fed pode cortar a taxa básica de juros americana em sua próxima reunião, no final de junho.
Um novo corte na taxa, hoje em 1,25% ao ano -o nível mais baixo em quatro décadas-, serviria tanto para ajudar a melhorar a atividade econômica como para combater a deflação.
Em depoimento no Congresso, o presidente do Fed qualificou como especialmente ""desapontadores" os indicadores de produção e emprego.
A capacidade ociosa da indústria americana está em seu nível mais baixo desde 1983. A taxa de desemprego, de 6%, representa 8,8 milhões de pessoas, 2,6 milhões das quais perderam o emprego no atual governo.
O presidente do Fed minimizou, mas não descartou, o risco de deflação (quando os preços caem como resultado da baixa atividade econômica).
""Não vemos uma iminente ou perigosa ameaça, mas uma ameaça mesmo que pequena é suficientemente grande e requer um acompanhamento detalhado e talvez -talvez- uma ação por parte do banco central", disse.

Compra de títulos
Greenspan ressaltou que não vê ""nenhuma possibilidade crível de em algum momento ficarmos sem munição de instrumentos monetários para combater problemas de deflação ou de qualquer outra natureza que afetem nossa economia".
Ele disse, por exemplo, que o Fed poderia agir comprando títulos do governo americano para diminuir as taxas de juro de longo prazo. As declarações foram suficientes para ontem mesmo pressionar para baixo as taxas dos papéis de 10 e 30 anos.
O mercado também interpretou as declarações como a senha para um possível corte na taxa básica no mês que vem.

Dólar fraco
Greenspan foi questionado pelos congressistas sobre a atual fragilidade do dólar, que já perdeu mais de 20% de seu valor ante o euro nos últimos 12 meses. Esquivou-se do assunto ao dizer que o responsável pela taxa de câmbio é o secretário do Tesouro, John Snow.
Snow vem sendo bombardeado nos últimos dias por diversos analistas e editoriais de jornais por ter dado a entender que interessa aos EUA um dólar mais fraco e que a moeda ainda tem espaço para se desvalorizar.
Muitos vêem a medida como estratégia política nos planos de reeleição de George W. Bush e eficiente apenas no curto prazo.
O dólar barato poderia impulsionar as exportações do setor industrial, no qual o desemprego vem subindo sistematicamente há 33 meses.
Por outro lado, se a desvalorização persistir por muito tempo, combinada a uma estagnação, investidores externos tenderão a tirar dinheiro dos EUA, de títulos do governo e das Bolsas. Hoje, mais de 10% do mercado acionário americano está nas mãos de estrangeiros.
No seu depoimento de ontem, Greenspan também demonstrou uma preocupação adicional com o déficit fiscal americano -na casa dos US$ 550 bilhões neste ano-, que deve ser agravado pelo pacote de corte de impostos proposto por Bush.


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