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ÁGUIA ABATIDA
Presidente do Fed afirma que prazo para recuperação dos EUA é incerto e que deflação "é uma possibilidade"
Indicadores desapontam, diz Greenspan
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O presidente do Fed (o banco
central dos EUA), Alan Greenspan, disse ontem que os recentes
indicadores da economia americana têm sido ""desapontadores" e
reconheceu que ""o prazo e a extensão da recuperação [do país]
ainda permanecem incertos".
Greenspan disse reconhecer
que ""a deflação é uma possibilidade" e sinalizou que o Fed pode
cortar a taxa básica de juros americana em sua próxima reunião,
no final de junho.
Um novo corte na taxa, hoje em
1,25% ao ano -o nível mais baixo
em quatro décadas-, serviria
tanto para ajudar a melhorar a atividade econômica como para
combater a deflação.
Em depoimento no Congresso,
o presidente do Fed qualificou como especialmente ""desapontadores" os indicadores de produção e
emprego.
A capacidade ociosa da indústria americana está em seu nível
mais baixo desde 1983. A taxa de
desemprego, de 6%, representa
8,8 milhões de pessoas, 2,6 milhões das quais perderam o emprego no atual governo.
O presidente do Fed minimizou, mas não descartou, o risco de
deflação (quando os preços caem
como resultado da baixa atividade econômica).
""Não vemos uma iminente ou
perigosa ameaça, mas uma ameaça mesmo que pequena é suficientemente grande e requer um
acompanhamento detalhado e
talvez -talvez- uma ação por
parte do banco central", disse.
Compra de títulos
Greenspan ressaltou que não vê
""nenhuma possibilidade crível de
em algum momento ficarmos
sem munição de instrumentos
monetários para combater problemas de deflação ou de qualquer outra natureza que afetem
nossa economia".
Ele disse, por exemplo, que o
Fed poderia agir comprando títulos do governo americano para
diminuir as taxas de juro de longo
prazo. As declarações foram suficientes para ontem mesmo pressionar para baixo as taxas dos papéis de 10 e 30 anos.
O mercado também interpretou
as declarações como a senha para
um possível corte na taxa básica
no mês que vem.
Dólar fraco
Greenspan foi questionado pelos congressistas sobre a atual fragilidade do dólar, que já perdeu
mais de 20% de seu valor ante o
euro nos últimos 12 meses. Esquivou-se do assunto ao dizer que o
responsável pela taxa de câmbio é
o secretário do Tesouro, John
Snow.
Snow vem sendo bombardeado
nos últimos dias por diversos analistas e editoriais de jornais por ter
dado a entender que interessa aos
EUA um dólar mais fraco e que a
moeda ainda tem espaço para se
desvalorizar.
Muitos vêem a medida como
estratégia política nos planos de
reeleição de George W. Bush e eficiente apenas no curto prazo.
O dólar barato poderia impulsionar as exportações do setor industrial, no qual o desemprego
vem subindo sistematicamente
há 33 meses.
Por outro lado, se a desvalorização persistir por muito tempo,
combinada a uma estagnação, investidores externos tenderão a tirar dinheiro dos EUA, de títulos
do governo e das Bolsas. Hoje,
mais de 10% do mercado acionário americano está nas mãos de
estrangeiros.
No seu depoimento de ontem,
Greenspan também demonstrou
uma preocupação adicional com
o déficit fiscal americano -na casa dos US$ 550 bilhões neste
ano-, que deve ser agravado pelo pacote de corte de impostos
proposto por Bush.
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