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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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FÓRUM NACIONAL

Ministro Celso Amorim fala em "risco de agravamento" em negociações e pede prioridade para o Mercosul

Governo sinaliza ceticismo com Alca e OMC

ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O governo brasileiro deu um sinal claro ontem de que suas intenções estão cada vez mais longe da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e mais perto de negociações com parceiros da América Latina e de outros continentes.
Um discurso do chanceler Celso Amorim lido ontem no 15º Fórum Nacional pelo ministro interino das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, revelou uma forte desilusão do governo em relação às chances de êxito da Alca e da Rodada Doha na OMC (Organização Mundial do Comércio).
Amorim fala de um "risco de agravamento" das "iniquidades das regras e práticas hoje prevalecentes" nas negociações da Alca e da OMC. Enfatiza a necessidade de que o Brasil dê prioridade ao fortalecimento do Mercosul, a um projeto de integração da América do Sul e a tentativas de acordos com outros parceiros, como México, China, África do Sul e Índia.
"O Brasil não necessitaria de uma estrutura negociadora como a da Alca para se associar mais estreitamente às economias da América do Sul ou do México", disse Amorim, em seu discurso.
Esse tom de ceticismo em relação ao sucesso da Alca e da Rodada Doha, na OMC, foi constante nas apresentações dos palestrantes do painel "Ordem Mundial e Inserção Global do Brasil: OMC, Mercosul, Alca, Zona de Livre Comércio com a União Européia" do Fórum.
O embaixador Clodoaldo Hugueney, subsecretário-geral de Assuntos de Integração Econômica e de Comércio Exterior, chegou a dizer em sua apresentação que as negociações externas não são centrais para determinar o crescimento das exportações.
Segundo ele, que está cuidando no ministério dos assuntos relacionados à OMC, as questões internas é que são determinantes para a expansão das vendas externas brasileiras.
Hugueney citou políticas tributária, cambial, macroeconômicas, industriais e agrícolas como fundamentais para que o país melhore sua competitividade no mercado externo.
Indo além da constatação de Hugueney, o cientista político Luciano Martins afirmou que fatores políticos se sobrepõem hoje às relações econômicas entre países. No âmbito comercial, isso já tem, segundo Martins, se manifestado sob a forma de retaliações.
Ele citou como exemplo o fato de os EUA terem esticado as negociações para a assinatura de um acordo de livre comércio com o Chile em 2002. Para Martins, isso foi represália à postura do governo chileno, que faz parte do Conselho de Segurança da ONU e se opôs à Guerra do Iraque.
A aparente postura do governo brasileiro de priorizar as negociações com parceiros regionais está em linha com o que defende o novo presidente argentino, Néstor Kirchner. Em visita a Lula, Kirchner havia afirmado que a Alca não deveria entrar no topo da lista de prioridades do Mercosul.
O economista Ricardo Marwald, diretor-geral da Funcex (Fundação Centro de Estudo de Comércio Exterior), disse ontem que parte da estagnação do Mercosul nos últimos anos se deveu a uma postura recalcitrante do governo brasileiro em negociar pontos como mecanismos técnicos para a solução de controvérsias.
Mas, segundo ele, o atual governo tem adotado uma orientação diferente em relação ao bloco que pode levar a avanços.


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