|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FÓRUM NACIONAL
Ministro Celso Amorim fala em "risco de agravamento" em negociações e pede prioridade para o Mercosul
Governo sinaliza ceticismo com Alca e OMC
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O governo brasileiro deu um sinal claro ontem de que suas intenções estão cada vez mais longe da
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) e mais perto de negociações com parceiros da América
Latina e de outros continentes.
Um discurso do chanceler Celso
Amorim lido ontem no 15º Fórum Nacional pelo ministro interino das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, revelou uma forte desilusão do governo em relação às chances de êxito
da Alca e da Rodada Doha na
OMC (Organização Mundial do
Comércio).
Amorim fala de um "risco de
agravamento" das "iniquidades
das regras e práticas hoje prevalecentes" nas negociações da Alca e
da OMC. Enfatiza a necessidade
de que o Brasil dê prioridade ao
fortalecimento do Mercosul, a um
projeto de integração da América
do Sul e a tentativas de acordos
com outros parceiros, como México, China, África do Sul e Índia.
"O Brasil não necessitaria de
uma estrutura negociadora como
a da Alca para se associar mais estreitamente às economias da
América do Sul ou do México",
disse Amorim, em seu discurso.
Esse tom de ceticismo em relação ao sucesso da Alca e da Rodada Doha, na OMC, foi constante
nas apresentações dos palestrantes do painel "Ordem Mundial e
Inserção Global do Brasil: OMC,
Mercosul, Alca, Zona de Livre Comércio com a União Européia"
do Fórum.
O embaixador Clodoaldo Hugueney, subsecretário-geral de
Assuntos de Integração Econômica e de Comércio Exterior, chegou
a dizer em sua apresentação que
as negociações externas não são
centrais para determinar o crescimento das exportações.
Segundo ele, que está cuidando
no ministério dos assuntos relacionados à OMC, as questões internas é que são determinantes
para a expansão das vendas externas brasileiras.
Hugueney citou políticas tributária, cambial, macroeconômicas,
industriais e agrícolas como fundamentais para que o país melhore sua competitividade no mercado externo.
Indo além da constatação de
Hugueney, o cientista político Luciano Martins afirmou que fatores políticos se sobrepõem hoje às
relações econômicas entre países.
No âmbito comercial, isso já tem,
segundo Martins, se manifestado
sob a forma de retaliações.
Ele citou como exemplo o fato
de os EUA terem esticado as negociações para a assinatura de um
acordo de livre comércio com o
Chile em 2002. Para Martins, isso
foi represália à postura do governo chileno, que faz parte do Conselho de Segurança da ONU e se
opôs à Guerra do Iraque.
A aparente postura do governo
brasileiro de priorizar as negociações com parceiros regionais está
em linha com o que defende o novo presidente argentino, Néstor
Kirchner. Em visita a Lula, Kirchner havia afirmado que a Alca não
deveria entrar no topo da lista de
prioridades do Mercosul.
O economista Ricardo Marwald, diretor-geral da Funcex
(Fundação Centro de Estudo de
Comércio Exterior), disse ontem
que parte da estagnação do Mercosul nos últimos anos se deveu a
uma postura recalcitrante do governo brasileiro em negociar pontos como mecanismos técnicos
para a solução de controvérsias.
Mas, segundo ele, o atual governo tem adotado uma orientação
diferente em relação ao bloco que
pode levar a avanços.
Texto Anterior: BC do Japão afirma temer crise financeira Próximo Texto: Bush pede fim de subsídios à agricultura Índice
|