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FOLHAINVEST
Cresce a concentração bancária no país
Número de instituições financeiras recuou 17% entre 2000 e 2005, enquanto o de correntistas teve alta de quase 50%
Para analistas, tendência no setor, iniciada há dez anos, poderá trazer reflexos negativos à concorrência se continuar no ritmo atual
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de bancos que
operam no país não pára de
cair. Na outra ponta, nunca
houve tantos correntistas. Com
os últimos dois negócios realizados no setor bancário -com
a compra do BankBoston pelo
Itaú e do Pactual pelo UBS-,
analistas voltaram a discutir
mais acaloradamente o tema da
concentração bancária.
Dados do Banco Central
mostram que o total de bancos
recuou de 191 em 2000 para 159
no fim de 2005 -o que representa queda de 16,8%. Foram
considerados os bancos múltiplos e comerciais.
Enquanto a variedade de instituições bancárias oferecidas
ao público caiu ano a ano, o número de contas correntes deu
um salto considerável, como
reflexo da chamada bancarização -ou seja, mais pessoas têm
hoje acesso a serviços bancários. Em 2000, eram 63,7 milhões de contas correntes. No
ano passado, essa cifra já havia
alcançado 95,1 milhões (crescimento de 49%).
"Nos últimos dez anos tem
havido um processo de encolhimento na quantidade de bancos, o que sem dúvida representa maior concentração. No
longo prazo, se esse processo
continuar no ritmo atual, poderemos começar a nos deparar
com seus potenciais efeitos negativos", afirma Edson Carminatti, analista financeiro do
Inepad (Instituto de Ensino e
Pesquisa em Administração).
Carminatti explica que sempre é arriscado um setor da economia ficar nas mãos de poucos. As opções de escolha se
restringem, e os efeitos positivos da concorrência -como
preços menores e benefícios
para atrair clientes- acabam
por desaparecer. "Quando a
concorrência encolhe muito, o
cliente é quem acaba por sofrer
mais. Para o consumidor, a
concentração bancária é sempre perigosa", afirma.
Procurada pela Folha, a Febraban (Federação Brasileira
dos Bancos) preferiu não se
manifestar sobre o tema.
Mais postos
Ao menos a queda no número de bancos não se refletiu em
encolhimento na rede de atendimento. Pelo contrário. Considerando o total de dependências -agências, postos de atendimento e eletrônicos, entre
outros-, a cifra chegou no fim
de 2005 a 123,9 mil unidades.
Em 2000 eram 54,1 mil.
Bruno Pereira, analista de
bancos do UBS, diz que "há tendência clara de consolidação no
setor, como mostram os números. O setor público tem diminuído sua participação no setor
bancário nos últimos anos". Ele
afirma que "alguma consolidação não é negativa". "Não vejo
pontos negativos nesse processo até o momento. Ainda há
competição nesse mercado."
Em tese, a venda de um banco para outro poderia ser um
complicador para uma empresa. Se ela tivesse um crédito
pré-aprovado em um banco e
este fosse vendido para outro,
poderia acontecer de perder essa operação, vendo-a ser recusada pelo novo proprietário da
instituição. Ao menos, com a
farta oferta de crédito que existe no país atualmente, é difícil
que algo assim ocorra.
Analistas afirmam que, se o
atual processo de diminuição
no número de bancos fosse decorrência de uma quebradeira
no setor, o movimento seria
preocupante. Mas, se for resultado de compras e fusões sadias, o atual cenário representa menos perigo e menos riscos.
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