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Montadoras devem ter um ano de crescimento chinês
4 grandes esperam elevar vendas em até 20%, puxadas pelo mercado interno
Pela primeira vez, e aproveitando valorização do real, Fiat compra aço no exterior, mais barato que o produto vendido no país
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado automotivo brasileiro terá um ano de crescimento chinês. A expectativa
das quatro grandes montadoras no país -Volkswagen (VW),
Fiat, Ford e General Motors
(GM)- é de alta de 17% a 20%
nas vendas, com 2,2 milhões de
veículos de passeio e comerciais leves comercializados.
Já algumas consultorias, que
participaram do seminário
"Revisão de perspectivas
2007", acreditam que o aumento nas vendas ficará em torno
de 10% a 11%, superando um
pouco os 2 milhões de carros.
Mas isso não significa incremento na mesma proporção na
produção, no número de vagas
ou nos investimentos no país.
Como a expectativa de crescimento da produção no ano é de
5% a 6%, boa parte da demanda
do mercado interno será atendida por importações. A consultoria Booz Allen Hamilton
prevê aumento de 145% nas
importações de carros.
"Aumentamos nossas importações em mais de 1.000%, porque a base do ano anterior era
muito baixa", disse Ray Young,
presidente da GM do Brasil. A
Fiat é a única das quatro que
não elevou importações.
Além disso, as montadoras
estão deixando de exportar não
só para atender à demanda interna aquecida, como também
para driblar o real forte. A VW
prevê uma redução de 25% em
suas vendas ao exterior, até
2012. A GM, de 30% em 2008.
As montadoras esperam o
dólar em torno de R$ 1,80 a R$
1,90, até o fim do ano. "Estamos
tentando fazer um hedge [proteção cambial] para diminuir a
vulnerabilidade", diz Young.
Para aproveitar a valorização
do real, a Fiat, inclusive, começou, pela primeira vez, a importar 10% do aço que usará neste
ano da Coréia do Sul. É uma
ação inédita. "Os produtores
brasileiros de aço vendem mais
barato lá fora, para serem competitivos no mercado internacional", afirma Cledorvino Belini, presidente da Fiat. "É um
absurdo a gente conseguir trazer aço mais barato lá de fora,
porque quem está ganhando dinheiro com isso é o navio."
Mesmo sem investir em aumento de capacidade, as montadoras separaram valores consideráveis para os próximos
anos. A Volkswagen investirá
R$ 2,5 bilhões nos próximos
cinco anos. A GM pleiteia US$ 1
bilhão para os anos de 2009 e
2010 junto à matriz, e a Ford
prevê gastar R$ 2,2 bilhões entre 2007 e 2011. Já a Fiat pretende aplicar R$ 1 bilhão em
2007 e está para concluir os
planos de investimento para os
próximos anos. O dinheiro será
gasto no lançamento de novos
carros e em reformas estruturais para elevar produtividade.
"As quatro grandes são gatos
escaldados de investimentos
no passado", diz Letícia Costa,
presidente da Booz Allen Hamilton. "É um grande problema explicar às matrizes que daqui para a frente tudo vai ser diferente no Brasil."
Ela refere-se ao fato de as
montadoras terem feito grandes investimentos no fim da
década de 1990, quando o volume de carros vendidos beirou
as 2 milhões de unidades. Logo
em seguida, o mercado entrou
em retração, e muitos projetos
tiveram de ser revistos e, até
mesmo, encerrados. "Depois de
dez anos de crise e três injeções
de capital, ter um ano de bons
resultados não é tão significativo", diz Thomas Schmall, presidente da VW. "A grande questão é se o crescimento será sustentado nos próximos anos."
Expectativa
Há indicadores que mostram
boa expectativa nesse sentido.
O número de financiamentos
com mais de 36 meses aumentou em 78% este ano. "Isso significa que as pessoas estão mais
confiantes", diz Schmall. Costa,
da Booz Allen, no entanto, não
é tão otimista. Para ela, é difícil
saber se o crescimento é proveniente da entrada de novos
consumidores ou se é apenas
renovação de frota. "Alguma
massa de novos consumidores
existe", diz ela. "Porém é difícil
saber se ela é significativa."
Segundo ela, o mercado brasileiro tem capacidade de chegar a 4 milhões de carros vendidos por ano, principalmente
com a entrada de novos competidores, como Toyota e Hyundai. A GM, inclusive, afirma que
o Brasil está participando da
concorrência para abrigar a
produção de um carro mundial.
Mas novas decisões de investimento em capacidade deverão tomar como base o mercado argentino, incógnita em ano eleitoral. "É o melhor momento do setor, mas precisamos tomar cuidado de não nos fecharmos só para o mercado doméstico", diz Marcos de Oliveira,
presidente da Ford Mercosul.
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