São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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Montadoras devem ter um ano de crescimento chinês

4 grandes esperam elevar vendas em até 20%, puxadas pelo mercado interno

Pela primeira vez, e aproveitando valorização do real, Fiat compra aço no exterior, mais barato que o produto vendido no país

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado automotivo brasileiro terá um ano de crescimento chinês. A expectativa das quatro grandes montadoras no país -Volkswagen (VW), Fiat, Ford e General Motors (GM)- é de alta de 17% a 20% nas vendas, com 2,2 milhões de veículos de passeio e comerciais leves comercializados.
Já algumas consultorias, que participaram do seminário "Revisão de perspectivas 2007", acreditam que o aumento nas vendas ficará em torno de 10% a 11%, superando um pouco os 2 milhões de carros.
Mas isso não significa incremento na mesma proporção na produção, no número de vagas ou nos investimentos no país. Como a expectativa de crescimento da produção no ano é de 5% a 6%, boa parte da demanda do mercado interno será atendida por importações. A consultoria Booz Allen Hamilton prevê aumento de 145% nas importações de carros.
"Aumentamos nossas importações em mais de 1.000%, porque a base do ano anterior era muito baixa", disse Ray Young, presidente da GM do Brasil. A Fiat é a única das quatro que não elevou importações.
Além disso, as montadoras estão deixando de exportar não só para atender à demanda interna aquecida, como também para driblar o real forte. A VW prevê uma redução de 25% em suas vendas ao exterior, até 2012. A GM, de 30% em 2008.
As montadoras esperam o dólar em torno de R$ 1,80 a R$ 1,90, até o fim do ano. "Estamos tentando fazer um hedge [proteção cambial] para diminuir a vulnerabilidade", diz Young.
Para aproveitar a valorização do real, a Fiat, inclusive, começou, pela primeira vez, a importar 10% do aço que usará neste ano da Coréia do Sul. É uma ação inédita. "Os produtores brasileiros de aço vendem mais barato lá fora, para serem competitivos no mercado internacional", afirma Cledorvino Belini, presidente da Fiat. "É um absurdo a gente conseguir trazer aço mais barato lá de fora, porque quem está ganhando dinheiro com isso é o navio."
Mesmo sem investir em aumento de capacidade, as montadoras separaram valores consideráveis para os próximos anos. A Volkswagen investirá R$ 2,5 bilhões nos próximos cinco anos. A GM pleiteia US$ 1 bilhão para os anos de 2009 e 2010 junto à matriz, e a Ford prevê gastar R$ 2,2 bilhões entre 2007 e 2011. Já a Fiat pretende aplicar R$ 1 bilhão em 2007 e está para concluir os planos de investimento para os próximos anos. O dinheiro será gasto no lançamento de novos carros e em reformas estruturais para elevar produtividade.
"As quatro grandes são gatos escaldados de investimentos no passado", diz Letícia Costa, presidente da Booz Allen Hamilton. "É um grande problema explicar às matrizes que daqui para a frente tudo vai ser diferente no Brasil."
Ela refere-se ao fato de as montadoras terem feito grandes investimentos no fim da década de 1990, quando o volume de carros vendidos beirou as 2 milhões de unidades. Logo em seguida, o mercado entrou em retração, e muitos projetos tiveram de ser revistos e, até mesmo, encerrados. "Depois de dez anos de crise e três injeções de capital, ter um ano de bons resultados não é tão significativo", diz Thomas Schmall, presidente da VW. "A grande questão é se o crescimento será sustentado nos próximos anos."

Expectativa
Há indicadores que mostram boa expectativa nesse sentido. O número de financiamentos com mais de 36 meses aumentou em 78% este ano. "Isso significa que as pessoas estão mais confiantes", diz Schmall. Costa, da Booz Allen, no entanto, não é tão otimista. Para ela, é difícil saber se o crescimento é proveniente da entrada de novos consumidores ou se é apenas renovação de frota. "Alguma massa de novos consumidores existe", diz ela. "Porém é difícil saber se ela é significativa."
Segundo ela, o mercado brasileiro tem capacidade de chegar a 4 milhões de carros vendidos por ano, principalmente com a entrada de novos competidores, como Toyota e Hyundai. A GM, inclusive, afirma que o Brasil está participando da concorrência para abrigar a produção de um carro mundial.
Mas novas decisões de investimento em capacidade deverão tomar como base o mercado argentino, incógnita em ano eleitoral. "É o melhor momento do setor, mas precisamos tomar cuidado de não nos fecharmos só para o mercado doméstico", diz Marcos de Oliveira, presidente da Ford Mercosul.


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