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Queda do dólar preocupa equipe econômica
Governo discute medidas para evitar que câmbio prejudique recuperação da economia; para a Fazenda, saída é cortar mais os juros
Para o BC, estrangeiros
retomaram apetite por
mercados emergentes;
Meirelles volta a fazer alerta
sobre "excesso de euforia"
LEANDRA PERES
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A valorização do real em relação à moeda americana nas últimas semanas reacendeu no
governo a discussão sobre as
causas e, consequentemente,
as medidas que devem ser adotadas para evitar que a subida
da moeda brasileira prejudique
a recuperação da economia.
No Ministério da Fazenda
prevalece a visão de que a taxa
de juros brasileira, alta para os
padrões internacionais, explica
a enxurrada de dólares de investidores estrangeiros que está levando à valorização da
moeda. No Banco Central, por
sua vez, a análise se baseia na
melhora do ambiente internacional, que faz os investidores
recuperarem o apetite por aplicações em países em desenvolvimento, mais arriscados.
Essas diferenças ficam claras
em declarações públicas de autoridades da equipe econômica. Em depoimento nesta semana na Câmara, o secretário
de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson
Barbosa, disse que os juros podem cair abaixo dos 9% projetados pelo mercado para o final
do ano por causa da valorização
do real. Para ele, esse movimento reduzirá ainda mais as
pressões inflacionárias e abrirá
espaço para o BC ser mais ousado na política monetária.
Já o presidente do BC, Henrique Meirelles, falou ontem
em "excesso de euforia". "O
mercado internacional já começa a apostar que o Brasil vai
sair da crise antes que a maior
parte dos países. Na realidade,
nossa preocupação hoje é com
um excesso de euforia que alguns setores do mercado mostram em relação ao Brasil."
A divergência no diagnóstico
leva a soluções diferentes. A
equipe econômica -tanto BC
quanto Ministério da Fazenda- concorda que um dólar cotado a R$ 2,50, como no início
de dezembro do ano passado,
um dos piores momentos da
crise econômica, não era sustentável. Em ambos os cenários
há uma previsão de valorização
da moeda brasileira.
Neste mês, o dólar acumula
queda de 6,6% em relação ao
real. A entrada de capital externo também se acelerou, chegando a US$ 2,1 bilhões nas primeiras duas semanas de maio.
No curto prazo, a estratégia
do BC tem sido comprar dólares para as reservas internacionais do país. Desde setembro,
quando a crise ficou mais aguda, o país vendeu US$ 14,5 bilhões das reservas no mercado
de câmbio. Com a cotação do
dólar caindo para perto de R$ 2,
este seria o momento de o BC
recompor sua posição em moeda forte. Oficialmente, a instituição não admite estar mirando uma taxa de câmbio.
Para a Fazenda, a solução
passa por reduções mais agressivas dos juros. A compra de dólares é vista como necessária,
mas não dará conta do recado
sozinha. Mesmo com reservas
acima de US$ 200 bilhões, ainda haveria espaço de sobra para
o país acumular dólares. Mas,
para a Fazenda, o efeito dessas
compras não seria tão poderoso como o da queda dos juros.
A argumentação é que os investidores estrangeiros vão trazer seus dólares para o país porque os juros que o governo paga
são muito mais altos do que o
que eles conseguiriam aplicando em outros países. Assim,
uma redução nos juros diminuiria a atratividade do país e
também a entrada de dólares.
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