São Paulo, sexta-feira, 22 de maio de 2009

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Queda do dólar preocupa equipe econômica

Governo discute medidas para evitar que câmbio prejudique recuperação da economia; para a Fazenda, saída é cortar mais os juros

Para o BC, estrangeiros retomaram apetite por mercados emergentes; Meirelles volta a fazer alerta sobre "excesso de euforia"

LEANDRA PERES
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A valorização do real em relação à moeda americana nas últimas semanas reacendeu no governo a discussão sobre as causas e, consequentemente, as medidas que devem ser adotadas para evitar que a subida da moeda brasileira prejudique a recuperação da economia.
No Ministério da Fazenda prevalece a visão de que a taxa de juros brasileira, alta para os padrões internacionais, explica a enxurrada de dólares de investidores estrangeiros que está levando à valorização da moeda. No Banco Central, por sua vez, a análise se baseia na melhora do ambiente internacional, que faz os investidores recuperarem o apetite por aplicações em países em desenvolvimento, mais arriscados.
Essas diferenças ficam claras em declarações públicas de autoridades da equipe econômica. Em depoimento nesta semana na Câmara, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que os juros podem cair abaixo dos 9% projetados pelo mercado para o final do ano por causa da valorização do real. Para ele, esse movimento reduzirá ainda mais as pressões inflacionárias e abrirá espaço para o BC ser mais ousado na política monetária.
Já o presidente do BC, Henrique Meirelles, falou ontem em "excesso de euforia". "O mercado internacional já começa a apostar que o Brasil vai sair da crise antes que a maior parte dos países. Na realidade, nossa preocupação hoje é com um excesso de euforia que alguns setores do mercado mostram em relação ao Brasil."
A divergência no diagnóstico leva a soluções diferentes. A equipe econômica -tanto BC quanto Ministério da Fazenda- concorda que um dólar cotado a R$ 2,50, como no início de dezembro do ano passado, um dos piores momentos da crise econômica, não era sustentável. Em ambos os cenários há uma previsão de valorização da moeda brasileira.
Neste mês, o dólar acumula queda de 6,6% em relação ao real. A entrada de capital externo também se acelerou, chegando a US$ 2,1 bilhões nas primeiras duas semanas de maio.
No curto prazo, a estratégia do BC tem sido comprar dólares para as reservas internacionais do país. Desde setembro, quando a crise ficou mais aguda, o país vendeu US$ 14,5 bilhões das reservas no mercado de câmbio. Com a cotação do dólar caindo para perto de R$ 2, este seria o momento de o BC recompor sua posição em moeda forte. Oficialmente, a instituição não admite estar mirando uma taxa de câmbio.
Para a Fazenda, a solução passa por reduções mais agressivas dos juros. A compra de dólares é vista como necessária, mas não dará conta do recado sozinha. Mesmo com reservas acima de US$ 200 bilhões, ainda haveria espaço de sobra para o país acumular dólares. Mas, para a Fazenda, o efeito dessas compras não seria tão poderoso como o da queda dos juros.
A argumentação é que os investidores estrangeiros vão trazer seus dólares para o país porque os juros que o governo paga são muito mais altos do que o que eles conseguiriam aplicando em outros países. Assim, uma redução nos juros diminuiria a atratividade do país e também a entrada de dólares.


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