São Paulo, sexta-feira, 22 de maio de 2009

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análise

Desemprego, uma má boa notícia

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não, leitor, não houve erro no título deste artigo.
Ocorre que os resultados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego), divulgados ontem pelo IBGE, constituíram, à primeira vista, uma inequívoca boa notícia: contrariando todos os prognósticos, a taxa de desemprego média nas seis principais regiões metropolitanas do país recuou ligeiramente, de março para abril, de 9% para 8,9% da PEA (População Economicamente Ativa).
No entanto, um exame mais atento dos números revela que essa melhora do mercado de trabalho metropolitano foi apenas aparente. Em rigor, os números da PME mostraram que ficou mais difícil conseguir um emprego: sem dúvida uma má notícia. O que explica esse paradoxo são dois resultados (quase) sem precedentes relativos a abril.
O primeiro é o crescimento da PEA -ou seja, do contingente de pessoas a partir de dez anos de idade que estavam trabalhando ou procurando uma ocupação. Ele foi atipicamente baixo: a PEA metropolitana foi só 0,6% maior que aquela estimada para o mesmo mês de 2008. É a oitava menor taxa de crescimento interanual da PEA já vista desde que a pesquisa do IBGE adotou sua atual metodologia (em março de 2002). Se a PEA tivesse crescido ao ritmo médio observado nos meses de abril entre 2004 e 2008 (1,5%), a taxa de desemprego teria aumentado significativamente de março para abril (conforme se esperava), passando a 9,6%.
O outro resultado, esse rigorosamente sem precedentes, diz respeito à expansão da ocupação (ou seja, das vagas de trabalho, sejam formais, informais ou por conta própria). O aumento do número de pessoas com algum tipo de ocupação econômica, comparativamente a abril de 2008, foi mínimo: só 0,2%. Nunca antes neste país, desde que o atual presidente assumiu o cargo, o emprego metropolitano cresceu tão pouco.
É esse o resultado mais significativo da pesquisa. Ele não foi de todo inesperado, pois a economia vem revelando um ritmo de criação de vagas de trabalho cada vez mais fraco desde meados de 2008.
Mesmo assim, os piores prognósticos a respeito do comportamento do mercado de trabalho não vão se confirmando. Depois da piora súbita observada no final do ano passado (sobretudo do emprego formal), vários analistas passaram a prever que o desemprego metropolitano saltaria para 10% da PEA em 2009 (ante uma média de 7,9% em 2008).
O que a PME e o Caged (o cadastro do emprego formal do Ministério do Trabalho e Emprego) vêm mostrando é uma piora cada vez mais lenta do mercado de trabalho. Mas ainda uma piora.


FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.


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