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LUÍS NASSIF
O fast food do mercado
A crítica ao fast food da análise econômica começa a se ampliar pelo mercado, após a sucessão de análises falhas por
parte de analistas nacionais e
internacionais. Quanto mais
são expostas as falhas de análise, mais choca a maneira arrogante com que se produziram
análises definitivas sobre a crise brasileira, condicionando toda a política econômica a gurus
sem nenhum espírito científico,
utilizando suposições vagas como se fossem verdades definitivas.
Reproduzo dois e-mails recebidos, em resposta à coluna de
ontem. A primeira, de Ailton
Coentro Filho, consultor de São
Paulo:
"Sou economista com anos de
pós-graduação (mestrado e
doutorado na FGV-Rio) e anos
de militância no mercado de capitais, mas devo admitir que as
mudanças e a evolução da economia mundial nos últimos
anos pegou os economistas no
mundo todo algo despreparados, sem um suporte teórico adequado para compreender e explicar adequadamente a natureza dessas mudanças, suas causas, suas consequências e se vivemos de fato um novo paradigma.
Dir-se-ia que a realidade está
correndo à frente do pensamento econômico cristalizado na
teoria atualmente consagrada.
Um fenômeno parecido com o
que motivou a perplexidade entre os economistas durante a depressão dos anos 30, quando a
ciência econômica simplesmente não admitia a possibilidade
da existência de desemprego involuntário. Isso não constava
dos manuais, os quais teimavam e demonstravam que a economia sempre tendia ao equilíbrio de pleno emprego. Mas os
manuais foram desmoralizados
pela realidade: como explicar,
afinal, que 25% dos trabalhadores norte-americanos estavam
desempregados, contra sua vontade, por volta de 1933?
Precisou aparecer um certo
Lorde Keynes para mostrar que
nem sempre o mercado, sozinho,
é capaz de conduzir a economia
automaticamente ao equilíbrio
de pleno emprego. (...) Hoje,
também, alguns dogmas e verdades consagrados em economia estão sendo desafiados pela
realidade e a teoria econômica
ainda não conseguiu explicá-los
convincentemente. Eis dois
exemplos:
Até recentemente, todo economista norte-americano sabia
que se a taxa de desemprego
caísse abaixo de 6%, isso significaria que a inflação estava a caminho no horizonte, o que forçaria o Fed a desacelerar o ritmo
da atividade. Pois bem: os EUA
estão com 4,3% de desemprego
(na faixa dos trabalhadores com
diploma universitário o desemprego é de 1,5%), há vários meses abaixo dos 6% e a inflação é
a menor em 30 anos.
E a prolongada crise de inapetência que envolve o Japão desde
o início desta década? Ninguém
conseguiu até agora explicar
(...).
Ou seja, como você bem assinalou, os economistas precisam
melhorar a qualidade da análise econômica para poder falar
de forma mais qualificada -e,
portanto, com maior credibilidade- sobre o momento atual
no Brasil e no mundo. Sem tais
cuidados, correm o risco de ver
suas recomendações citadas por
Cacciolas da vida como justificativa para as desastradas apostas feitas pelo Banco Marka no
mercado de câmbio em janeiro"."
Argentina e Petrobrás
De uma analista setorial, desiludida com o mercado:
"Nos últimos dias estava me
debruçando sobre a Petrobrás,
tentando imaginar o que vai
acontecer com a empresa dentro
de um contexto de introdução
de competição na indústria. E
fui surpreendida com a notícia
que a YPF -a supereficiente ex-estatal argentina- seria "delisted", ou seja, tiraria suas ações
de circulação pública.
Meu entendimento foi que no
contexto em que a maior competidora por investimentos de porta-fólio da Petrobrás saísse de
circulação, haveria um fluxo
natural de investimentos para a
Petrobrás -que fundamentalmente tem um potencial de realização de ganhos de eficiência
bem maior.
Qual não foi minha surpresa
ao ver vários analistas indicando o contrário sob a alegação
que ainda seria mais interessante manter investimentos na Argentina... etc.
Mark Mobius -o pretenso guru que perdeu todas a apostas
na Ásia, literalmente todas, mas
conservou a pose-, foi um dos
que declararam amor eterno-enquanto-dure-a-insensatez à
Argentina (há duas semanas).
De novo, gostaria de saber quem
ele ama agora!
É essa a triste lógica imediatista que ainda determina as decisões da boiada. E como você
mesmo me disse uma vez, é bem
mais confortável fazer parte de
qualquer boiada...
Que Deus me conserve a lucidez!"
E-mail: lnassif@uol.com.br
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