São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEMENTE DA DISCÓRDIA

País atribui contaminação à sobra da safra de soja modificada

Brasil culpa mistura com transgênico

DE PEQUIM

A permissão para o plantio de soja transgênica na safra 2003/4 foi apontada pelo governo brasileiro como a principal causa da contaminação do produto exportado para os chineses, durante a reunião de ontem no Ministério da Quarentena, na China.
Os produtores que já haviam comprado sementes convencionais decidiram comprar sementes transgênicas depois da autorização e ficaram com excedente de grãos. Essas sementes são tratadas com agroquímicos e, teoricamente, não são para consumo.
Pela tese que o Ministério da Agricultura apresentou, alguns exportadores decidiram se livrar dessas sementes misturando-as à soja destinada à exportação.
O governo e os próprios exportadores reconhecem que houve um problema sério no primeiro navio vetado pela China, o Bunga Saga Tujuh.
Segundo participantes da reunião, os chineses afirmaram que a contaminação na carga era muito alta. Caio Cezar Vianna, representante de cooperativas e de dois terminais portuários gaúchos, afirma que esse navio foi carregado com sobras da safra do ano passado, o que chamou de "a raspa do tacho".
Depois desse episódio, os chineses passaram a olhar as cargas brasileiras "com lupa", afirma.
A rejeição dos navios pela China ajudou a derrubar o preço da soja no mercado internacional. Para muitos "traders", o problema sanitário nada mais foi do que um pretexto dos chineses para se livrar de uma carga que haviam comprado a preço muito alto, ainda no ano passado.

Mistura elevada
A última safra de soja teve altos índices de contaminação por fungicidas devido à demora do governo federal para editar a medida provisória para os transgênicos, no início do plantio da safra.
Os produtores, por sua vez, que não são fiscalizados, têm o hábito de não respeitar receituário agronômico dos produtos químicos e de misturar soja-semente (tratada com fungicidas) à soja-grão (usada para o consumo e a industrialização).
Esses dois fatores levaram os produtores a misturar, só no Rio Grande do Sul, 60 mil toneladas de soja-semente aos grãos para comercialização. Esses números, que técnicos do próprio Ministério da Agricultura só admitiam extra-oficialmente, foram agora admitidos nas negociações para derrubar o veto chinês.


Colaborou José Maschio, da Agência Folha, em Londrina

Texto Anterior: Cliente sempre tem razão, diz Rodrigues
Próximo Texto: Perda é irrecorrível, diz Rodrigues
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.