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OPINIÃO ECONÔMICA
Rumo ao tri!
BENJAMIN STEINBRUCH
Há menos de um mês, quando o FMI (Fundo Monetário
Internacional) divulgou o seu
"Perspectivas para a Economia
Mundial", uma informação assustou muitos brasileiros, eu entre
eles. Na América do Sul, em termos de crescimento econômico, o
Brasil só deverá ter neste ano desempenho melhor do que dois
países: Paraguai e Guiana.
Essa previsão constrangedora,
num ano em que o país deve
apresentar até uma taxa razoável
de crescimento (3,5%), coincide
com o momento em que se comemoram os dez anos do Plano
Real, que ficará para a história
pelo "milagre" da estabilização
dos preços.
Sem nenhuma dúvida, passados dez anos do lançamento do
Real, podemos dizer que estão
apagados da memória brasileira
os terríveis momentos da hiperinflação. A figura do dragão indomável a soltar fogo pela boca, que
representava a inflação, tão comum nos jornais e revistas do início dos anos 90, já não diz nada à
nova geração de adolescentes
brasileiros. Ficou para trás aquele
desesperador primeiro semestre
de 1994, quando a inflação anual
havia atingido 5.000%.
Tudo isso foi um grande avanço, com méritos totais do ministro
da Fazenda e depois presidente
Fernando Henrique Cardoso e de
economistas que se juntaram a
ele. Mas voltemos ao enfoque do
primeiro parágrafo. Se o Brasil só
ganha de Paraguai e Guiana em
matéria de crescimento econômico, isso também é uma herança
do Plano Real.
Com a mesma maestria usada
para aniquilar a inflação, a equipe do Real tratou de menosprezar
o crescimento da economia. O
Brasil, após ostentar até os anos
70 uma das maiores taxas mundiais de expansão do PIB no século 20, caiu para as últimas posições no ranking.
São desoladoras para os brasileiros as estatísticas do próprio
FMI para o período 1996-2005.
Considerando o que já ocorreu
nos últimos oito anos e as previsões para 2004 e 2005, o Brasil terá um crescimento médio anual
de apenas 2,1% neste decênio. Será um dos piores desempenhos
entre os países emergentes, que
crescerão 5% em média. Também
ficará abaixo dos índices de expansão da economia mundial e
dos países desenvolvidos (veja tabela nesta página).
Antonio Delfim Netto, em artigo na Folha, observou que "o custo final do Real foi, infelizmente,
muito alto para a sociedade". E
foi alto por duas razões: porque
fez empacar a economia e porque
provocou um brutal aumento do
endividamento público interno e
externo.
Os responsáveis pelo lançamento do Real merecem todas as homenagens pela estabilização. Mas
eles mesmos devem admitir, passados esses dez anos, que erraram
a mão na condução do plano, jogaram na retranca sempre que alguma crise apontou no horizonte
e exageram na ortodoxia monetária. Toda vez em que se depararam com turbulências, elevaram
absurdamente as taxas de juros,
política que acentuou o efeito maléfico da sobrevalorização cambial na economia. Essa prática,
mantida durante dez anos, tornou escasso e caro o crédito aos
negócios produtivos, estimulou a
intermediação financeira, enriqueceu os bancos e, ao mesmo
tempo, elevou a dívida pública a
um nível jamais visto na história
do país. A relação dívida/PIB passou de 30% em 1994 para 59% em
2003.
Por essas razões, a verdadeira
história do Real deverá contemplar o sucesso e o fracasso. De um
lado, o vitorioso controle da inflação. De outro, o registro de oportunidades perdidas. Por timidez
ou conservadorismo exagerado, o
Brasil atravessou a década de 90 e
iniciou os anos 2000 sem gozar
dos benefícios da grande expansão da economia americana, na
era Clinton.
Tudo isso é lamentável, mas
chega a ser deprimente constatar
que o comportamento retranqueiro do governo anterior continua inalterado no atual. O Banco
Central de hoje é ainda mais exagerado que o de ontem na ortodoxia ao se deparar com turbulências e conserva os juros reais em
níveis inexplicavelmente altos,
que mantêm a economia com o
freio de mão puxado e aumentam
de forma brutal a dívida pública.
Há dias, recebi um e-mail do
amigo Baldomero Barbará Neto,
observando que o governo precisa
apresentar um programa de sustentabilidade da dívida pública
interna, que já passa de R$ 820 bilhões. Tio B, como o chamo carinhosamente, acha que, se o governo conseguisse demonstrar como
pretende administrar a dívida
pública interna, haveria queda
dos prêmios de risco, menor pressão sobre o câmbio, juros mais
baixos e aumento da atividade
econômica. Sem esse plano, seguindo com a trajetória atual da
dívida, o Brasil em breve vai "comemorar" o tri, porque, pelas previsões de Tio B, a dívida pública
vai atingir a cifra estratosférica
de R$ 1 trilhão em março.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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