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LUÍS NASSIF
A hora de buscar o novo
Vamos juntar algumas
pontas para tentar discutir as saídas para a perda
de rumo do país. Há cada vez
mais uma confluência de
diagnósticos sobre a incapacidade do modelo econômico
atual de produzir desenvolvimento.
A elite intelectual do país
-não esses papagaios "cabeça de planilha"- já sabe que
desenvolvimento se produz
com poupança interna e atração de capital produtivo, não
o de curto prazo; com inovação e educação, não com cortes nem com desperdícios em
gastos sociais; com políticas
indutivas, não com protecionismo; com responsabilidade
fiscal, mas com qualidade de
gastos. Não há consenso sobre
as maneiras de o Estado intervir no processo econômico.
Esse pessoal vem da social
democracia, da esquerda e do
chamado pensamento liberal,
tem formação estruturalista
ou monetarista. Em comum,
a capacidade de enxergar a
realidade de forma mais sofisticada e complexa do que o
pensamento linear raso que
caracterizou os herdeiros do
Cruzado. Talvez por isso mesmo tinha escassa visibilidade
na opinião pública -já que a
discussão pública tende a privilegiar as simplificações, ainda que enganadoras.
Há convergência entre o
diagnóstico de pessoas de formações diversas, como Luiz
Gonzaga Belluzzo e Paulo
Rabello de Castro, Yoshiaki
Nakano e Ibrahim Eris, Luiz
Carlos Bresser Pereira e Luis
Paulo Rosemberg, João Sayad
e Paulo Nogueira Batista Jr.,
Rubens Ricupero e José Luiz
Fiori, os irmãos Mendonça de
Barros e Delfim Netto e Carlos
Lessa. O que falta para acender o estopim capaz de promover as mudanças necessárias no modo de pensar do
país e na pauta de discussões?
Três pontos devem ser considerados.
O primeiro, o fato de que o
país já tem um norte que se
impôs por si. Se a globalização é inevitável, a única maneira de enfrentá-la será com
um esforço decidido no aumento da competitividade e
do valor agregado das exportações. Esse é o ponto de consenso e a área do governo que
tem tido melhor desempenho,
talvez a maior, senão a única
herança positiva do governo
Lula até agora.
O objetivo final não é meramente o aumento das exportações e do superávit comercial. É ser o indutor do esforço
de dotar as empresas brasileiras de condições competitivas,
de investir na educação, ampliar a ênfase na inovação, na
inclusão social, na pesquisa
tecnológica, na gestão, na melhoria da infra-estrutura, nos
acordos comerciais.
O segundo ponto é a proposta de Lula de criação do "Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento", juntando
pensadores do Brasil, da Argentina e de outros países da
região. Pode ser uma iniciativa relevante, que crie a massa
crítica de diagnósticos capazes de mudar a pauta de discussão, desde que paire acima
de governos e de partidos políticos.
O terceiro ponto é a figura
capaz de aglutinar setores tão
diversos, que tenha respeitabilidade intelectual e trânsito
em todas as frentes. Por seus
artigos, pela extraordinária
repercussão da reunião da
Unctad, por ele presidida, e
por seu trânsito por todos os
setores, o embaixador Rubens
Ricupero se tornou figura referencial para essa mudança
na agenda.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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