São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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LUÍS NASSIF

A hora de buscar o novo

Vamos juntar algumas pontas para tentar discutir as saídas para a perda de rumo do país. Há cada vez mais uma confluência de diagnósticos sobre a incapacidade do modelo econômico atual de produzir desenvolvimento.
A elite intelectual do país -não esses papagaios "cabeça de planilha"- já sabe que desenvolvimento se produz com poupança interna e atração de capital produtivo, não o de curto prazo; com inovação e educação, não com cortes nem com desperdícios em gastos sociais; com políticas indutivas, não com protecionismo; com responsabilidade fiscal, mas com qualidade de gastos. Não há consenso sobre as maneiras de o Estado intervir no processo econômico.
Esse pessoal vem da social democracia, da esquerda e do chamado pensamento liberal, tem formação estruturalista ou monetarista. Em comum, a capacidade de enxergar a realidade de forma mais sofisticada e complexa do que o pensamento linear raso que caracterizou os herdeiros do Cruzado. Talvez por isso mesmo tinha escassa visibilidade na opinião pública -já que a discussão pública tende a privilegiar as simplificações, ainda que enganadoras.
Há convergência entre o diagnóstico de pessoas de formações diversas, como Luiz Gonzaga Belluzzo e Paulo Rabello de Castro, Yoshiaki Nakano e Ibrahim Eris, Luiz Carlos Bresser Pereira e Luis Paulo Rosemberg, João Sayad e Paulo Nogueira Batista Jr., Rubens Ricupero e José Luiz Fiori, os irmãos Mendonça de Barros e Delfim Netto e Carlos Lessa. O que falta para acender o estopim capaz de promover as mudanças necessárias no modo de pensar do país e na pauta de discussões?
Três pontos devem ser considerados.
O primeiro, o fato de que o país já tem um norte que se impôs por si. Se a globalização é inevitável, a única maneira de enfrentá-la será com um esforço decidido no aumento da competitividade e do valor agregado das exportações. Esse é o ponto de consenso e a área do governo que tem tido melhor desempenho, talvez a maior, senão a única herança positiva do governo Lula até agora.
O objetivo final não é meramente o aumento das exportações e do superávit comercial. É ser o indutor do esforço de dotar as empresas brasileiras de condições competitivas, de investir na educação, ampliar a ênfase na inovação, na inclusão social, na pesquisa tecnológica, na gestão, na melhoria da infra-estrutura, nos acordos comerciais.
O segundo ponto é a proposta de Lula de criação do "Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento", juntando pensadores do Brasil, da Argentina e de outros países da região. Pode ser uma iniciativa relevante, que crie a massa crítica de diagnósticos capazes de mudar a pauta de discussão, desde que paire acima de governos e de partidos políticos.
O terceiro ponto é a figura capaz de aglutinar setores tão diversos, que tenha respeitabilidade intelectual e trânsito em todas as frentes. Por seus artigos, pela extraordinária repercussão da reunião da Unctad, por ele presidida, e por seu trânsito por todos os setores, o embaixador Rubens Ricupero se tornou figura referencial para essa mudança na agenda.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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