São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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ANÁLISE

País deve ser o 2º nas Américas

ÉRICA FRAGA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dada a magnitude do aperto monetário que ainda parece vir pela frente, dificilmente o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro terá uma expansão acima de 4% no próximo ano. Ainda assim, em 2009 o Brasil quase certamente crescerá pelo terceiro ano consecutivo acima da média da economia mundial, o que não ocorria desde o triênio 1993-95. Tudo indica que esse cenário se sustentará entre 2010 e 2012, quando o PIB brasileiro deverá crescer a uma média anual superior a 4%, contra pouco mais de 3% da economia global (medida a taxas de câmbio de mercado).
Segundo projeções da EIU (Economist Intelligence Unit), no fim deste ano, a economia do Brasil, hoje a décima maior do mundo em termos nominais e em dólares, já será maior que a do Canadá, atual nona colocada no ranking. Mas o Brasil não está correndo sozinho na disputa por lugares mais altos no ranking de grandes potências. Se deve superar o Canadá, se tornando a segunda maior economia das Américas, será ultrapassado pela Rússia, se não neste ano, quase certamente no ano que vem.
Mesmo assumindo que a atual taxa de expansão real do PIB brasileiro se desacelere bastante, para algo em torno de 3,5% nos anos subseqüentes a 2012, em dez anos contados a partir de agora, a economia do país já será maior que a italiana, a atual sétima colocada no ranking. E, em 2029, deverá ultrapassar a francesa, chegando em 2030 como a oitava maior potência do mundo, tendo sido ultrapassada por Rússia e Índia, mas à frente de três países do G7 (grupo que reúne as sete nações mais avançadas do mundo) e da Espanha.
Projeções de longo prazo estão sujeitas a grandes riscos. Quando o banco Goldman Sachs criou a sigla Bric (em referência ao grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), em 2003, tudo indicava que o PIB brasileiro ultrapassaria o italiano somente por volta de 2025 e o francês depois de 2030. Condições externas altamente favoráveis para os países emergentes, e para o Brasil, em particular, que ajudaram a impulsionar uma forte recuperação da demanda doméstica, foram o principal fator por trás dessa mudança de cenário.
Mas a história futura do crescimento brasileiro também poderá se revelar pior ou melhor do que a esperada hoje. Isso vai depender em parte de fatores difíceis de se prever, mas principalmente do rumo de políticas econômicas domésticas. Uma coisa é certa: quanto mais o crescimento for impulsionado por um aumento do investimento produtivo, melhor.
Embora a forte expansão da taxa de investimento na economia brasileira tenha sido fonte de boas notícias nos últimos tempos, aquela velha análise de que neste quesito o Brasil deixa muito a desejar continua sendo atual. Basta colocar o Brasil em um ranking com dezenas de outros países para concluir isso. Em uma lista de 145 países ordenada por ordem decrescente de taxa de investimento, o Brasil ocupava a módica 122ª posição no ano passado.
Acima do Brasil no ranking aparecem todos os grandes países emergentes, como China, Índia, Rússia, Chile e México. Abaixo, tirando os Estados Unidos, que são um caso a parte (o setor de serviços representa uma enorme fatia do PIB americano), todos os demais países têm mercados consumidores relativamente pequenos. Uma análise caso a caso revelará outras causas para as baixas taxas de investimento nesses países (como instabilidade política na Bolívia em anos recentes).
Isso leva a uma inevitável pergunta: como o Brasil foi parar aí? Outro ranking comparativo traz parcialmente a resposta. Quando comparado com as mesmas 145 nações no quesito participação dos gastos do governo no PIB, o Brasil aparecia no 34º lugar no ano passado.
O fato de que o Brasil está no grupo dos 20% de países com menores taxas de investimento da economia e também figura entre os 25% com setores públicos mais inchados não é coincidência. Existe aí uma relação de causalidade predatória em que o setor público sufoca e limita a expansão da área privada.
Na competição com o setor privado por recursos para financiar seus gastos, o governo acaba pressionando o custo do dinheiro. Isso explica, em grande medida, por que o Brasil ainda ostenta taxas de juros tão altas que desestimulam o investimento privado.
É verdade que recentemente os investimentos (medidos pela chamada formação bruta de capital fixo) vêm crescendo a um ritmo vigoroso. No primeiro trimestre deste ano, a taxa de investimento atingiu 18,3% do PIB. Mas esse patamar ainda parece baixo para sustentar um ritmo de crescimento na casa dos 5% ao ano, que poderia levar a economia brasileira, por exemplo, a ultrapassar a italiana até antes de 2018. Sem uma taxa de investimento bem maior, a tendência é que qualquer expansão mais forte do consumo bata na capacidade de produção das empresas, gerando pressões inflacionárias.
Altos preços de commodities, forte demanda doméstica e redução na volatilidade do crescimento do PIB são fatores que ajudam a explicar a forte recuperação recente no crescimento dos investimentos. Mas no longo prazo será preciso mais do que isso. Um aumento continuado da taxa de investimento vai depender de um encolhimento do setor público. Receita conhecida, mas politicamente dolorosa.


ÉRICA FRAGA é editora de América Latina da consultoria britânica Economist Intelligence Unit


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