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FolhaInvest
Juros em queda levam a fuga recorde dos fundos DI
Participação da categoria no total da indústria de fundos é a menor da história
Investimento acompanha
de perto a variação dos
juros básicos; altas taxas
de administração também
pesam na aplicação
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com os juros pagos no país
cada vez em níveis mais baixos,
os brasileiros começam a rever
suas opções de investimento.
Nesse processo, os maiores
prejudicados têm sido os fundos DI, categoria que acompanha mais de perto as oscilações
dos juros. Nenhum outro tipo
de fundo tem sofrido uma sangria tão grande quanto os DIs.
Nas primeiras duas semanas
de junho, já saiu dos fundos DI
o equivalente aos resgates de
todo o mês de maio. Se o ritmo
for mantido, este será o pior
mês desde dezembro passado.
Parte dos recursos migra para a
poupança (leia texto abaixo).
A captação líquida (diferença
entre as aplicações e os resgates) nesses fundos ficou negativa em R$ 1,63 bilhão até o dia 15
deste mês. Nos últimos 30 dias,
a saída líquida alcança os R$
4,15 bilhões.
No ano, a categoria lidera os
saques, com a fuga de R$ 6,4 bilhões, segundo levantamento
da Anbid (Associação Nacional
dos Bancos de Investimento).
"O investidor está atento à
queda da taxa e seu impacto no
retorno dos fundos. O que estamos presenciando é uma mudança de paradigma nos investimentos dos brasileiros. Não
dá mais para sonhar em ganhar
20% no ano sem esforço, como
era comum há não muito tempo", afirma o professor e educador financeiro Mauro Calil.
A carteira dos fundos DI é
formada em grande parte por
títulos atrelados às oscilações
da taxa básica Selic, que vem
sendo reduzida de forma expressiva nos últimos meses.
Dessa forma, o retorno da categoria tem sido achatado, o que
motiva muitos investidores a
trocar de aplicação.
Os fundos são uma comunhão de recursos de vários investidores. Esses recursos servem para os gestores adquirirem títulos públicos e privados
(como debêntures, vendidos
pelas empresas) que serão os
responsáveis pela rentabilidade oferecida pelo fundo.
A saída de capital que se intensificou nas últimas semanas
fez a participação do DI no patrimônio total da indústria de
fundos recuar para seu menor
percentual da história. O mais
recente levantamento da Anbid
mostrou que os fundos DI respondem no momento por
14,99% do total do mercado.
Em 2005, o percentual superava 20% e no final da década de
90 chegou a ser de mais de 33%.
Custos altos
"É um momento complicado
para a categoria. Uma expressiva redução da taxa de administração poderia ser um caminho
para elevar a atratividade dos
fundos DI. O mercado de fundos deve se reorganizar, ou o DI
pode acabar por desaparecer
no futuro", afirma Calil.
Com a redução das taxas de
juros, que afetou os fundos DI
mais do que qualquer outra categoria, o custo da taxa de administração é outro problema
que tem minado a aplicação.
Com a taxa básica Selic em
9,25% anuais, apenas fundos
com taxa de administração de
1% ou menos conseguem ser
mais atrativos do que a poupança. E poucos fundos, especialmente no varejo -segmento destinado àqueles que têm
menos recursos para aplicar-,
cobram taxa tão baixa. Ou seja,
para a fuga do DI perder fôlego,
os bancos teriam de abrir mão
de parte dos ganhos que têm
com as taxas de administração.
Presente em todos os fundos,
a taxa de administração engole
parte dos ganhos das aplicações. No caso dos fundos dirigidos ao varejo, costuma oscilar
entre 2% e 3% ao ano. Com a
Selic no atual patamar, uma taxa de administração de 3% é
proporcionalmente muito alta
-representa quase um terço do
ganho anual da aplicação.
Os fundos DI vão pagar em
torno de 10% brutos neste ano.
Desse percentual, o investidor
ainda terá de abrir mão dos custos da taxa de administração,
além da cobrança de IR.
"Para conseguir ganhos
maiores, o investidor vai ter de
arriscar mais", diz o administrador de investimentos Fábio
Colombo.
No caso da Bolsa, há a possibilidade de conquistar um retorno bem maior. No ano, por
exemplo, o índice Ibovespa
(das 65 ações mais negociadas)
tem alta de 36,8%. Mas o investimento é mais arriscado, pois a
Bolsa pode cair e causar prejuízo ao aplicador.
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