São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009

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FolhaInvest

Juros em queda levam a fuga recorde dos fundos DI

Participação da categoria no total da indústria de fundos é a menor da história

Investimento acompanha de perto a variação dos juros básicos; altas taxas de administração também pesam na aplicação


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com os juros pagos no país cada vez em níveis mais baixos, os brasileiros começam a rever suas opções de investimento. Nesse processo, os maiores prejudicados têm sido os fundos DI, categoria que acompanha mais de perto as oscilações dos juros. Nenhum outro tipo de fundo tem sofrido uma sangria tão grande quanto os DIs.
Nas primeiras duas semanas de junho, já saiu dos fundos DI o equivalente aos resgates de todo o mês de maio. Se o ritmo for mantido, este será o pior mês desde dezembro passado. Parte dos recursos migra para a poupança (leia texto abaixo).
A captação líquida (diferença entre as aplicações e os resgates) nesses fundos ficou negativa em R$ 1,63 bilhão até o dia 15 deste mês. Nos últimos 30 dias, a saída líquida alcança os R$ 4,15 bilhões.
No ano, a categoria lidera os saques, com a fuga de R$ 6,4 bilhões, segundo levantamento da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
"O investidor está atento à queda da taxa e seu impacto no retorno dos fundos. O que estamos presenciando é uma mudança de paradigma nos investimentos dos brasileiros. Não dá mais para sonhar em ganhar 20% no ano sem esforço, como era comum há não muito tempo", afirma o professor e educador financeiro Mauro Calil.
A carteira dos fundos DI é formada em grande parte por títulos atrelados às oscilações da taxa básica Selic, que vem sendo reduzida de forma expressiva nos últimos meses. Dessa forma, o retorno da categoria tem sido achatado, o que motiva muitos investidores a trocar de aplicação.
Os fundos são uma comunhão de recursos de vários investidores. Esses recursos servem para os gestores adquirirem títulos públicos e privados (como debêntures, vendidos pelas empresas) que serão os responsáveis pela rentabilidade oferecida pelo fundo.
A saída de capital que se intensificou nas últimas semanas fez a participação do DI no patrimônio total da indústria de fundos recuar para seu menor percentual da história. O mais recente levantamento da Anbid mostrou que os fundos DI respondem no momento por 14,99% do total do mercado. Em 2005, o percentual superava 20% e no final da década de 90 chegou a ser de mais de 33%.

Custos altos
"É um momento complicado para a categoria. Uma expressiva redução da taxa de administração poderia ser um caminho para elevar a atratividade dos fundos DI. O mercado de fundos deve se reorganizar, ou o DI pode acabar por desaparecer no futuro", afirma Calil.
Com a redução das taxas de juros, que afetou os fundos DI mais do que qualquer outra categoria, o custo da taxa de administração é outro problema que tem minado a aplicação.
Com a taxa básica Selic em 9,25% anuais, apenas fundos com taxa de administração de 1% ou menos conseguem ser mais atrativos do que a poupança. E poucos fundos, especialmente no varejo -segmento destinado àqueles que têm menos recursos para aplicar-, cobram taxa tão baixa. Ou seja, para a fuga do DI perder fôlego, os bancos teriam de abrir mão de parte dos ganhos que têm com as taxas de administração.
Presente em todos os fundos, a taxa de administração engole parte dos ganhos das aplicações. No caso dos fundos dirigidos ao varejo, costuma oscilar entre 2% e 3% ao ano. Com a Selic no atual patamar, uma taxa de administração de 3% é proporcionalmente muito alta -representa quase um terço do ganho anual da aplicação.
Os fundos DI vão pagar em torno de 10% brutos neste ano. Desse percentual, o investidor ainda terá de abrir mão dos custos da taxa de administração, além da cobrança de IR.
"Para conseguir ganhos maiores, o investidor vai ter de arriscar mais", diz o administrador de investimentos Fábio Colombo.
No caso da Bolsa, há a possibilidade de conquistar um retorno bem maior. No ano, por exemplo, o índice Ibovespa (das 65 ações mais negociadas) tem alta de 36,8%. Mas o investimento é mais arriscado, pois a Bolsa pode cair e causar prejuízo ao aplicador.


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