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Relações públicas faz estreia em Cannes
Campanhas tentam realçar ações positivas na tentativa de minimizar impactos negativos para a imagem
CRISTIANE BARBIERI
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Enquanto o Senado enfrenta
uma de suas maiores crises de
credibilidade, sua secretaria de
RP (relações públicas) inscreveu um concurso de redações
em escolas públicas sobre o Dia
da Bandeira no Festival Internacional de Publicidade de
Cannes, que começou ontem
no balneário francês.
Criticada por ter tentado minimizar o impacto de 1.300 demissões com um anúncio no
qual ressaltava suas contratações, a Vale também levou a
Cannes uma campanha de RP
com um tema mais leve.
Batizada de "Minha Árvore",
ela tornou dezenas de jornalistas, que participaram do almoço de fim de ano da mineradora, donos de uma árvore numa
área de reflorestamento, com
direito a acompanhar seu crescimento pela internet.
Num cenário dominado pela
tentativa de vender produtos e
empresas da melhor maneira
possível, as abordagens positivas com relação à realidade das
empresas não causaram estranheza em Cannes. "Relações
públicas é mostrar o que está
sendo feito por empresas e instituições para todos seus públicos", diz Andrew Greenlees, sócio da agência de comunicação
CDN e jurado brasileiro de RP,
categoria recebida pela primeira vez no festival.
As empresas têm outros argumentos favoráveis às inscrições. "A Vale foi criticada, mas
falou a verdade e tratou os empregados com respeito", diz
Fernando Thompson, diretor
de comunicação e imprensa da
Vale. "Cada área tem suas necessidades, e a questão da sustentabilidade é fundamental
para uma mineradora."
Argumento semelhante é
usado pelo Senado. "Apesar da
crise com a imagem da instituição e de haver fatos reprováveis
na Casa, o Senado representa a
sociedade", diz Juliana Rebelo,
diretora da secretaria de relações públicas do Senado. "Ações
como a que fizemos ajudam o
futuro eleitor a refletir sobre cidadania e representatividade."
Mesmo com o maior espaço
dado à categoria no festival, um
dos livros distribuídos aos inscritos foi "The Fall of PR & The
Rise of Advertising" ("A queda
das relações públicas e a ascensão da propaganda", em tradução livre). O autor, Stefan Engeseth, contesta um livro clássico
da área e diz, entre outros pontos, que o consumidor de hoje
percebe as mensagens expostas
por estratégias de RP. Por isso, a
área seria menos efetiva.
Segundo Greenlees, o retorno
das campanhas de RP em conteúdo espontâneo -como são
chamadas as reportagens jornalísticas veiculadas em jornais e
revistas, TV e internet a partir
de notícias divulgadas por assessorias- tinha grande peso
na decisão dos jurados.
Num dos casos inscritos, o
Itaú mostrou que teve gastos de
US$ 4,7 milhões em anúncios
do projeto Itaúbrasil, que celebrou os 50 anos da Bossa Nova.
Conseguiu US$ 27 milhões em
mídia espontânea.
O Brasil inscreveu 26 casos
de RP. Dois foram selecionados
para a final: a campanha contra
a dengue da Prefeitura de São
Paulo e o "Mil Casmurros", da
rede Globo. Os vencedores serão conhecidos hoje.
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