São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009

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Fluxo de dólares para emergentes não vai cobrir dívidas, diz Bird

Para US$ 1 tri que vence neste ano, países terão entrada de US$ 363 bi; moedas podem sofrer desvalorização

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Passada a fase inicial de forte contração econômica, os países emergentes agora enfrentam um abrupto estrangulamento na disponibilidade de dólares para pagar dívidas contraídas durante o mais recente boom na economia internacional, entre 2002 e 2007.
Segundo novo relatório do Bird (Banco Mundial), os emergentes têm neste ano cerca de US$ 1 trilhão (quase o PIB do Brasil) em dívidas corporativas e oficiais vencendo. Elas são denominadas em dólares e devem ser pagas ou refinanciadas.
Diferentemente do que ocorria há duas décadas, quando os governos deviam muito, os débitos hoje são predominantemente privados.
As empresas respondem por 75% deles. Há 20 anos, os governos é que deviam a bancos ou organismos internacionais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) 80% do total dos financiamentos.
O problema é que, para uma dívida de US$ 1 trilhão com vencimento neste ano, o fluxo de dólares em investimentos produtivos ou especulativos para os emergentes será o menor em vários anos, de estimados US$ 363 bilhões. Como comparação, ele chegou a US$ 1,2 trilhão em 2007.
A diferença entre as necessidades totais e o fluxo, como já vem ocorrendo em vários países do Leste Europeu, terá de ser coberta com empréstimos emergenciais do FMI ou com reservas próprias dos bancos centrais de cada país, como ocorre na América Latina.
Se não houver financiamentos emergenciais ou dólares disponíveis em determinados países, a tendência é uma forte desvalorização da moeda local. Além da necessidade de esfriar ainda mais a atividade econômica visando poupar dólares que seriam usados na compra de produtos importados.
As dívidas de US$ 1 trilhão são, essencialmente, resultado da onda de otimismo que levou grandes empresas a tomar empréstimos para ampliar a produção -algo já interrompido.
Hoje, essas companhias estão diante não apenas da conta desses financiamentos passados como sofrem com a queda no faturamento provocada pela crise econômica global.
Entre 2002 e 2007, segundo o Bird, 700 empresas nos países emergentes emitiram títulos (mediante o pagamento de juros aos compradores) no mercado internacional. Outras quase mil companhias também tomaram empréstimos diretos de sindicatos de bancos.
Agora, na hora de pagar boa parte da conta, não apenas os fluxos de dólares secaram, mas o custo de novos refinanciamentos cresceu muito. Saltou de 6,4% ao ano antes da crise para 12% entre os emergentes.
Segundo o Bird, o problema do endividamento corporativo é muito mais grave no Leste Europeu, mas afeta de maneira diferente quase todos os países.

Brasil
Em seu relatório, o Bird faz a ressalva de que, além da China, o Brasil está relativamente bem posicionado tanto para enfrentar a atual crise como para suprir seu mercado interno com dólares, quando necessário.
"O Brasil encontra-se mais resistente a possíveis choques externos do que quase todas as outras economias de sua região, especialmente porque o comércio internacional representa uma parcela pequena de seu PIB e porque ainda há espaço para novos cortes na taxa básica de juros", diz o relatório.
O Bird diz ainda que os mais de US$ 200 bilhões em reservas do país ajudam a amortecer os efeitos da diminuição nos fluxos de moeda estrangeira.


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