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Fluxo de dólares para emergentes não vai cobrir dívidas, diz Bird
Para US$ 1 tri que vence neste ano, países terão entrada
de US$ 363 bi; moedas podem sofrer desvalorização
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Passada a fase inicial de forte
contração econômica, os países
emergentes agora enfrentam
um abrupto estrangulamento
na disponibilidade de dólares
para pagar dívidas contraídas
durante o mais recente boom
na economia internacional, entre 2002 e 2007.
Segundo novo relatório do
Bird (Banco Mundial), os
emergentes têm neste ano cerca de US$ 1 trilhão (quase o PIB
do Brasil) em dívidas corporativas e oficiais vencendo. Elas são
denominadas em dólares e devem ser pagas ou refinanciadas.
Diferentemente do que ocorria há duas décadas, quando os
governos deviam muito, os débitos hoje são predominantemente privados.
As empresas respondem por
75% deles. Há 20 anos, os governos é que deviam a bancos
ou organismos internacionais,
como o FMI (Fundo Monetário
Internacional) 80% do total
dos financiamentos.
O problema é que, para uma
dívida de US$ 1 trilhão com
vencimento neste ano, o fluxo
de dólares em investimentos
produtivos ou especulativos
para os emergentes será o menor em vários anos, de estimados US$ 363 bilhões. Como
comparação, ele chegou a
US$ 1,2 trilhão em 2007.
A diferença entre as necessidades totais e o fluxo, como já
vem ocorrendo em vários países do Leste Europeu, terá de
ser coberta com empréstimos
emergenciais do FMI ou com
reservas próprias dos bancos
centrais de cada país, como
ocorre na América Latina.
Se não houver financiamentos emergenciais ou dólares
disponíveis em determinados
países, a tendência é uma forte
desvalorização da moeda local.
Além da necessidade de esfriar
ainda mais a atividade econômica visando poupar dólares
que seriam usados na compra
de produtos importados.
As dívidas de US$ 1 trilhão
são, essencialmente, resultado
da onda de otimismo que levou
grandes empresas a tomar empréstimos para ampliar a produção -algo já interrompido.
Hoje, essas companhias estão diante não apenas da conta
desses financiamentos passados como sofrem com a queda
no faturamento provocada pela
crise econômica global.
Entre 2002 e 2007, segundo
o Bird, 700 empresas nos países
emergentes emitiram títulos
(mediante o pagamento de juros aos compradores) no mercado internacional. Outras
quase mil companhias também
tomaram empréstimos diretos
de sindicatos de bancos.
Agora, na hora de pagar boa
parte da conta, não apenas os
fluxos de dólares secaram, mas
o custo de novos refinanciamentos cresceu muito. Saltou
de 6,4% ao ano antes da crise
para 12% entre os emergentes.
Segundo o Bird, o problema
do endividamento corporativo
é muito mais grave no Leste
Europeu, mas afeta de maneira
diferente quase todos os países.
Brasil
Em seu relatório, o Bird faz a
ressalva de que, além da China,
o Brasil está relativamente bem
posicionado tanto para enfrentar a atual crise como para suprir seu mercado interno com
dólares, quando necessário.
"O Brasil encontra-se mais
resistente a possíveis choques
externos do que quase todas as
outras economias de sua região, especialmente porque o
comércio internacional representa uma parcela pequena de
seu PIB e porque ainda há espaço para novos cortes na taxa básica de juros", diz o relatório.
O Bird diz ainda que os mais
de US$ 200 bilhões em reservas do país ajudam a amortecer
os efeitos da diminuição nos
fluxos de moeda estrangeira.
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