São Paulo, Terça-feira, 22 de Junho de 1999
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LETRA CAPITAL

Conceição Tavares prega no deserto

GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas

Brasileira: profissão, resistente. A personalidade e a trajetória intelectual da economista Maria da Conceição Tavares bem poderiam ser resumidas nessa adaptação do título de uma famosa peça teatral de Paulo Pontes ("Brasileiro: Profissão Esperança").
Em "Destruição Não Criadora", ela condensa as "memórias de um mandato popular contra a recessão, o desemprego e a globalização subordinada".
Em primeiro plano está o perfil de uma batalhadora incansável, sempre disposta a pensar contra a corrente dominante.
Conceição Tavares talvez represente atualmente, no debate econômico, um papel semelhante ao que outro articulista da Folha, Carlos Heitor Cony, assume na política. Ambos viveram com entusiasmo períodos em que a "profissão esperança" tinha mais força.
Desiludidos com os caminhos do país, levam o oposicionismo ao extremo. Para Conceição, "a evolução política de Fernando Henrique Cardoso é a síntese perfeita dos descaminhos da nossa transição democrática".
O título do novo livro de Conceição Tavares não é casual. O ex-presidente do BC Gustavo Franco gostava de usar a imagem da "destruição criadora", criada pelo economista Joseph A. Schumpeter para descrever o capitalismo. Conceição Tavares dá o troco, afirmando que o modelo econômico atual destrói em vez de criar.
O governo FHC, na sua visão, sofre de uma incapacidade de "coordenação das equipes técnicas em distintos níveis do aparelho de Estado", tem "baixa capacidade de decisão em condições de incerteza" e é incapaz de formular "projetos estratégicos", o que levaria o país a "condições de vulnerabilidade nunca vistas desde o século passado".
Conceição Tavares coloca o holofote sobre uma agenda ética e existencial. A intenção da economista é, em geral, alimentar as energias voltadas para a mudança.
Mas o seu discurso crítico e, enfim, ele mesmo demolidor, dá uma desagradável sensação de resignação a cada um de seus leitores.
É como se cada um de nós estivesse reagindo sempre menos que o devido.
Talvez, não por acaso, ela mesma admite: "Numa nação como a nossa, em que o povo ainda não conquistou a cidadania, a luta continuará sempre". Parece que a velha batalhadora, mesmo quando nutre esperança (o povo "ainda" não conquistou a cidadania; portanto acabará por fazê-lo), se mostra resignada, aceitando resistir até o final dos tempos.

A OBRA
Destruição Não Criadora - Maria da Conceição Tavares. Editora Record (rua Argentina, 171, Rio de Janeiro, RJ. CEP 20921-380). Telefone: 585-2000. 300 páginas.
Internet: www.record.com.br


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