|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LETRA CAPITAL
Conceição Tavares prega no deserto
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Brasileira:
profissão, resistente. A personalidade e a trajetória intelectual da economista Maria da
Conceição Tavares bem poderiam ser resumidas
nessa adaptação do título de uma
famosa peça teatral de Paulo Pontes ("Brasileiro: Profissão Esperança").
Em "Destruição Não Criadora",
ela condensa as "memórias de um
mandato popular contra a recessão, o desemprego e a globalização
subordinada".
Em primeiro plano está o perfil
de uma batalhadora incansável,
sempre disposta a pensar contra a
corrente dominante.
Conceição Tavares talvez represente atualmente, no debate econômico, um papel semelhante ao
que outro articulista da Folha,
Carlos Heitor Cony, assume na política. Ambos viveram com entusiasmo períodos em que a "profissão esperança" tinha mais força.
Desiludidos com os caminhos do
país, levam o oposicionismo ao extremo. Para Conceição, "a evolução política de Fernando Henrique
Cardoso é a síntese perfeita dos
descaminhos da nossa transição
democrática".
O título do novo livro de Conceição Tavares não é casual. O ex-presidente do BC Gustavo Franco gostava de usar a imagem da "destruição criadora", criada pelo economista Joseph A. Schumpeter para
descrever o capitalismo. Conceição Tavares dá o troco, afirmando
que o modelo econômico atual
destrói em vez de criar.
O governo FHC, na sua visão, sofre de uma incapacidade de "coordenação das equipes técnicas em
distintos níveis do aparelho de Estado", tem "baixa capacidade de
decisão em condições de incerteza" e é incapaz de formular "projetos estratégicos", o que levaria o
país a "condições de vulnerabilidade nunca vistas desde o século passado".
Conceição Tavares coloca o holofote sobre uma agenda ética e
existencial. A intenção da economista é, em geral, alimentar as
energias voltadas para a mudança.
Mas o seu discurso crítico e, enfim, ele mesmo demolidor, dá uma
desagradável sensação de resignação a cada um de seus leitores.
É como se cada um de nós estivesse reagindo sempre menos que
o devido.
Talvez, não por acaso, ela mesma
admite: "Numa nação como a nossa, em que o povo ainda não conquistou a cidadania, a luta continuará sempre". Parece que a velha
batalhadora, mesmo quando nutre
esperança (o povo "ainda" não
conquistou a cidadania; portanto
acabará por fazê-lo), se mostra resignada, aceitando resistir até o final dos tempos.
A OBRA
Destruição Não Criadora - Maria da Conceição Tavares. Editora
Record (rua Argentina, 171, Rio de
Janeiro, RJ. CEP 20921-380). Telefone: 585-2000. 300 páginas.
Internet: www.record.com.br
Texto Anterior: Opinião econômica - Benjamin Steinbruch: Sejam bem-vindos, a casa é sua Próximo Texto: Debate marca lançamento Índice
|