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OPINIÃO ECONÔMICA
Sejam bem-vindos, a casa é sua
BENJAMIN STEINBRUCH
Depois de enfrentar tanta confusão, desvalorização, grampos,
notícias de corrupção, disputas
entre poderes e uma repetição
desagradável de crises políticas,
tudo isso embrulhado em manchetes negativas e pesquisas desalentadoras publicadas pela
mídia, resolvi pegar a família e
passar um fim-de-semana prolongado na terrinha. Quando
cheguei aqui a Lisboa, tive a
exata sensação de que meu corpo e minha cabeça pediam uma
pausa, um recarregador de baterias para que, na volta, fosse
mais fácil enfrentar tanta desmotivação. Falei com amigos
brasileiros, dentro e fora do nosso mundo empresarial e político, e senti que não estava sozinho nesse cansaço.
Quando é esse o clima e a auto-estima chega a grandes níveis
de carência, é hora de dar uma
arejada, mudar de paisagem,
conversar com outras gentes.
Portugal me pareceu o destino
ideal. Fui ver as coisas acontecerem onde são, realmente, grandes e surpreendentes. E vim descobrir como aqui estão dando
certo as medidas políticas, econômicas e sociais que defendemos para o nosso Brasil.
Estar em Portugal é sempre
uma satisfação para aqueles
que, como eu, acompanham este
país há mais de 15 anos e viram
o desenvolvimento e o crescimento econômico tomarem conta de toda uma região. Nossos
irmãos portugueses estão realmente de parabéns. Tudo aquilo
que precisava ser feito em termos de mudanças estruturais foi
realizado com planejamento,
determinação e sucesso e levou o
país a viver uma realidade fabulosa, que lhe abriu um lugar de
destaque no Primeiro Mundo,
no mundo desenvolvido.
Longe estão os tempos em que
os brasileiros diziam: "Coitadinho de Portugal". E passavam a
falar desse país pequenino, pobre, antigo, subdesenvolvido, de
quem havíamos herdado toda a
burocracia, a maioria dos contratos complicados, dos carimbos desnecessários e dos selos
inúteis... Passados mais de 15
anos, temos aqui um país renovado e pujante para servir de
exemplo para o Brasil.
É verdade que Portugal está
inserido na Europa. É verdade
que é um país pequeno em extensão territorial, comparado
com o Brasil. É verdade que Portugal tem uma população quase
a mesma de São Paulo. Mas
também é verdade que os portugueses mudaram sua cabeça,
modernizaram seu país, abriram-se para o mundo e resolveram dar vários passos à frente.
Tudo isso sem perder sua autonomia e soberania, enquanto
investiam o mais possível em
educação, saúde, habitação, infra-estrutura. Cortaram o país
com autopistas e, por onde se
anda, sempre se é acompanhado
de gruas construindo o progresso.
Inseriram-se no Primeiro
Mundo pela porta da frente, negociaram bem suas dificuldades
e fraquezas e criaram condições
para abrir o país à globalização,
mas exigiram vias de duas
mãos, em que os estrangeiros
são muito bem recebidos, mas os
empreendedores portugueses,
apoiados pelo seu governo, converteram-se em agentes ativos e
fortes na nova realidade internacional.
Estamos testemunhando, no
Brasil, a postura das empresas
portuguesas que chegaram comprando, e bem, companhias privatizadas de serviços, bancos e
empresas de tecnologia, apoiadas pela estabilidade e pelo desenvolvimento conseguidos, ao
mesmo tempo, em Portugal.
As empresas portuguesas hoje
têm a seu dispor financiamentos
de sete a oito anos, com carência
de, no mínimo, três anos, a juros
anuais de 3,5%. Elas conseguem
a participação do governo no
capital, a fundo perdido, para
novos empreendimentos e a expansão dos seus atuais negócios,
dentro e fora das fronteiras portuguesas. Estão muito certas. O
governo português está ativamente engajado nos investimentos novos, estimulando a criação de empregos e a agressividade de suas empresas, que não visam apenas à busca da sobrevivência dentro do processo de
globalização. As autoridades
portuguesas, seus políticos, suas
lideranças empresariais e trabalhadoras sabem que no mundo
de hoje não basta apenas resistir
para manter posições.
É preciso avançar, buscar caminhos permanentes de superação, para que a sobrevivência
procurada pelas empresas seja
um estímulo ao progresso do
país, à melhoria dos níveis de vida da população, à redução das
desigualdades sociais. Para que
Portugal se credenciasse como
um competidor global de futuro,
era e é essencial que sua indústria e a oferta de seus serviços tivessem escala de produção e custos baixos. Isso só se tornaria
possível se os investidores portugueses, os grandes e os pequenos,
pudessem dispor de financiamentos a juros internacionais,
apoiados em moeda estável que
lhes desse condições de investir
no mínimo em condições iguais
às das grandes potências econômicas. Foi o que fizeram ontem.
Foi o que permitiu a geração dos
frutos que hoje são colhidos.
Está quase impossível, hoje em
dia, para o empresário brasileiro investir no Brasil. O juro pago
por nós, os empreendedores, é,
em média, seis vezes maior do
que o pago na Europa. O financiamento de "longo prazo" para
investimento não passa de um
ano, enquanto lá é oito vezes isso. O governo brasileiro não tem
formas de incentivar e participar de investimentos brasileiros,
quanto mais a fundo perdido. O
que nos resta, então, é contemplar o enfraquecimento gradativo do empresariado brasileiro,
abrir a porta aos que vêm de fora e dizer: "Sejam bem-vindos, a
casa é sua".
Benjamin Steinbruch, 45, empresário, graduado em administração de empresas e marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional
e da Companhia Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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