São Paulo, Terça-feira, 22 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMÉRCIO
Phillips, Evadin e Sony, que têm R$ 126 milhões a receber, não aceitam o acordo proposto pela rede de lojas
Futuro da Arapuã depende dos credores

FÁTIMA FERNANDES
DAVID FRIEDLANDER
da Reportagem Local

Está nas mãos de três grandes credores o futuro da Arapuã, em concordata desde o ano passado. A empresa não tem dinheiro suficiente para liquidar a primeira parcela de sua dívida, de cerca de R$ 260 milhões, que vence amanhã. "Não podemos pagar. A dívida é grande e só pode ser honrada a longo prazo", diz Ricardo Tepedino, advogado da Arapuã.
Nos últimos meses, os advogados da Arapuã tentaram costurar um acordo com os principais credores da rede, que são os fabricantes de eletrodomésticos. A proposta da família Simeira Jacob, dona da Arapuã, é que os credores troquem suas dívidas por ações de uma nova empresa, que assumiria as operações da Arapuã concordatária, mas ficaria limpa das dívidas.
O acordo já foi aceito pela maior parte dos credores, que detêm 80% da dívida total, hoje de R$ 900 milhões (desse total, o débito no processo de concordata é de R$ 650 milhões).
O problema da Arapuã é que Phillips, Evadin (fabricante da marca Mitsubishi) e Sony não aceitaram o acordo, pois querem receber o que a empresa lhes deve e podem pedir a falência da rede de lojas se ela não pagar a primeira parcela.
"Nós só aceitamos o cumprimento da concordata", diz Antônio Martins Lima, diretor-superintendente da Evadin. "Se eles depositarem o que devem, estará tudo bem. Caso contrário, o problema ficará nas mãos do juiz."
Até ontem, o que a Arapuã dava como certo era o pagamento de apenas R$ 2 milhões, para liquidar dívidas com 480 pequenos fornecedores, que têm a receber no máximo R$ 100 mil cada um. Tepedino acha que ainda há tempo para convencer Phillips, Evadin e Sony a aceitar o acordo. "Espero que eles não peçam a falência da Arapuã, pois isso não interessa a ninguém", diz o advogado.
A dívida da Arapuã com a Evadin é da ordem de R$ 80 milhões; com a Philips, de R$ 31 milhões, e com a Sony, de R$ 15 milhões.
A Evadin já pediu a falência da Arapuã duas vezes neste ano, mas a Justiça não aceitou. Entre a Evadin, do empresário Leo Kryss, e a Arapuã, comandada por Jorge Simeira Jacob, há um problema pessoal. Os dois eram muito amigos, mas acabaram brigando depois da concordata.
Leo Kryss costumava conceder à Arapuã vantagens que não dava a nenhuma outra rede de lojas. Chegou a fabricar aparelhos de TV exclusivos para as lojas de Simeira Jacob e a conceder prazos especiais para pagamento. O dono da Evadin, que foi criticado várias vezes pela família pela parceria com Simeira Jacob, teria se sentido traído quando do pedido de concordata.
Há alguns meses, a Evadin foi à Justiça questionar um empréstimo de R$ 235 milhões concedido pela Arapuã a uma empresa controlada pela família Simeira Jacob. "É estarrecedor que, às vésperas da concordata, a devedora (Arapuã) tenha efetuado o empréstimo", diz a petição da Evadin.
Tepedino, o advogado de Simeira Jacob, diz que já está explicado que o dinheiro foi usado para pagar fornecedores da Arapuã, "e não houve nenhum ato ilícito". "Não tem nada explicado ainda", diz Martins, o superintendente da Arapuã. Tepedino diz que a Arapuã entrou em crise em razão da inadimplência. Segundo ele, se a Arapuã recebesse dos clientes tudo o que financiou em 97, ela teria crédito de R$ 600 milhões.
Se não fossem as dívidas a pagar e a receber, a empresa estaria bem. Tepedino diz que no primeiro trimestre deste ano, mesmo com a flexibilização do câmbio e a recessão econômica, a empresa conseguiu fechar quase equilibrada. "O prejuízo operacional foi de apenas R$ 1,5 milhão."


Texto Anterior: Salário do argentino tem queda
Próximo Texto: Pactual muda diretoria, e Fernandes está de saída
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.