São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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Fórum Social pede suspensão da cúpula devido à morte do ativista; número de prisões chega a 69

De luto, 70 mil protestam contra o G-8

LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A GÊNOVA

Mais de 70 mil manifestantes retomaram ontem nas ruas de Gênova protestos contra o capitalismo global, a cúpula do G-8 (os sete países mais ricos e a Rússia), aos gritos de "assassinos, assassinos", contra a primeira morte nos chamados protestos antiglobalização. Na sexta-feira, o manifestante Carlo Giuliani, 23, morreu depois de ser baleado e atropelado por policiais, a quem tentara agredir momentos antes.
Um grupo de cerca de mil manifestantes, vestidos de preto e símbolos anarquistas, alguns mascarados, atearam fogo em pelo menos três carros, destruíram algumas vitrines e atiraram cacos de vidro contra a polícia. Os policiais responderam com latas gás lacrimogêneo e cacetadas.
Segundo a polícia, até agora 67 manifestantes foram presos, 49 deles acusados de tentativa de assassinato. Na maior parte os presos eram italianos, mas a cadeia genovesa também recebeu alemães, franceses, espanhóis, suíços, gregos e norte-americanos.
O principal protesto programado para ontem, a Marcha Internacional, começou às 9h (hora de Brasília), com dezenas de milhares de manifestantes se concentrando na praça Sturla, três quilômetros a leste da zona vermelha, área fechada do centro histórico da cidade portuária italiana em que se encontram os líderes do G-8. A manifestação foi organizada pelo Fórum Social de Gênova, "cúpula" paralela ao G-8, que reúne grupos sociais do mundo todo.
O Fórum pediu aos líderes do G-8 que suspendessem o encontro de cúpula, além da renúncia do ministro do Interior da Itália, a quem a polícia é subordinada.
Os choques começaram depois que os manifestantes ocuparam totalmente os dois quilômetros de extensão da avenida Itália.
A reportagem da Folha presenciou o momento em que a polícia e os anarquistas se confrontaram. Com o avanço dos ativistas, que gritavam "assassinos, assassinos", os policiais recuaram cerca de 500 metros e lançaram bombas de gás lacrimogêneo.
Em resposta, os manifestantes atiraram pedras contra o cordão policial e incendiaram lixeiras e dois carros. O gás forçou a dispersão dos ativistas, pondo fim ao conflito após 15 minutos.
Enquanto isso, líderes do Fórum Social de Gênova se deslocavam entre a multidão para garantir que o cortejo continuasse, em calma. Naquele momento, segundo a polícia, 70 mil pessoas engrossavam a marcha; nas contas dos organizadores, eram 100 mil. Quase todos usavam uma faixa preta no braço, em luto pela morte de Carlo Giuliani.
Centenas de movimentos diferentes estavam representados na passeata, desde grupos ambientalistas, como a italiana Legambiente, até partidos de esquerda, como o Partido Comunista Grego.
No meio do cortejo, alguns manifestantes, cobertos por tinta vermelha, usavam camisetas com os dizeres, em inglês, "Vocês não podem matar todos nós". Atrás deles, o grupo Globalise Resistence carregava uma faixa com o desenho de um "trem da resistência", em que as estações de parada eram Seattle, Washington, Praga e Nice, locais de protestos anteriores contra o capitalismo global.
Entre a maioria pacífica, havia também uma banda tocando a "Internacional Comunista".
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra carregava uma bandeira do Brasil no meio da marcha da Via Campesina, organização internacional de camponeses.
Em uma nota conjunta, os líderes de Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia condenaram "firme e absolutamente a violência provocada por uma reduzida minoria".


Com agências internacionais

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