São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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Governo afrouxa critério de obra prioritária

Projetos de saneamento e habitação do PAC foram incluídos no rol dos que podem ser descontados da meta de resultado fiscal

Programa acertado com FMI prevê inclusão de obras que dariam retorno aos cofres públicos; ministério diz que segue critérios econômicos

Bruno Domingos - 14.09.2006/Reuters
Vista aérea da favela da Rocinha, que deve receber parte do orçamento do PPI deste ano; governo prevê liberar R$ 11,3 bilhões


LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal afrouxou os critérios de seleção das obras prioritárias do Orçamento para encaixar investimentos em saneamento e habitação previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Com isso, a seleção das obras deixou de ser feita com base apenas em critérios econômicos objetivos e passou a incluir também considerações socioeconômicas.
Iniciado em 2005, o programa com as obras mais importantes do governo federal, conhecido como PPI (Projeto Piloto de Investimento), foi negociado com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
A idéia era escolher projetos em que o investimento público retornasse aos cofres depois que a obra fosse encerrada. A construção de estradas com a possibilidade de cobrança de pedágio é um exemplo. A contrapartida seria a garantia de não haver bloqueio de recursos no Orçamento, como anualmente acontece por causa do ajuste fiscal.
Na negociação com o FMI, o governo acertou que esses investimentos poderiam ser abatidos da meta de resultado fiscal, uma vez que teriam retorno futuro.
No primeiro ano de funcionamento, a equipe econômica selecionou 104 projetos, que tiveram garantidos R$ 3,3 bilhões. O gasto naquele ano, porém, não chegou a R$ 1 bilhão.
Neste ano, as obras do PAC exigiram que avaliações socioeconômicas fossem consideradas para encaixar projetos em saneamento e habitação.
De acordo com técnicos que trabalham na seleção das obras do PPI, a comissão interministerial que avalia os projetos levou em conta estudos econômicos no caso de setores como transportes, metrôs e ferrovias, mas não nos casos de saneamento e habitação.
O Ministério da Fazenda, um dos coordenadores do PPI, explicou, por meio da assessoria de imprensa, que não deixou as avaliações econômicas de lado.
"Continuam como premissas válidas a eliminação de gargalos para o crescimento da economia, bem como a escolha de projetos com forte potencial de impacto econômico e retorno fiscal", diz a nota.
O governo ressalta que obras como os metrôs e projetos de irrigação já estavam incluídos no PPI desde 2005. Na lista de 2007, porém, há previsão de liberação de recursos para urbanização de favelas como o Complexo do Alemão e a Rocinha, no Rio de Janeiro, e proteção de mananciais em São Paulo, que não estavam em anos anteriores.
Além disso, quando o PPI foi discutido, em 2005, o Ministério das Cidades tentou incluir as obras de saneamento. O argumento era que esses projetos iriam reduzir os gastos do governo com o sistema público de saúde. Mas, como era difícil mensurar exatamente o impacto econômico para os cofres públicos, ficaram de fora do programa.
Na lista das obras que receberão parte dos R$ 11,3 bilhões reservados para o PPI neste ano, há cerca de R$ 2,5 bilhões em obras de saneamento e habitação, comandadas pelo Ministério das Cidades.
"Quando se começa a ampliar ou flexibilizar o critério, o risco é caminhar para um vale-tudo. Daqui a pouco, todo investimento é PPI", afirma Fábio Giambiagi, professor da PUC do Rio de Janeiro.
Na avaliação do economista, porém, o uso do PPI como redutor da meta de resultado fiscal é inexistente. Como a receita do governo tem crescido muito e o governo não consegue gastar a verba do PPI prevista para cada ano, o superávit primário acaba acima da meta descontada.
O estrategista sênior para América Latina do banco WestLB, Roberto Padovani, considera que a inclusão das obras de saneamento e habitação no PPI piora a qualidade do investimento público. "Essas são áreas em que, com uma boa regulação, o setor privado poderia entrar. O investimento público poderia ser direcionado, por exemplo, a educação e saúde", afirma o economista.


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