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Governo acerta redução no ritmo da queda dos juros
Meirelles diz a Lula que agressividade agora traz risco de alta da taxa em 2010
Petista afirma que o BC tem condições de promover nova queda na Selic hoje
e que autoridade monetária fará o "melhor para o Brasil"
SHEILA D'AMORIM
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na conversa que teve com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, na semana passada, o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, preparou
o caminho para redução no ritmo de queda nos juros neste segundo semestre do ano e até
para uma possível parada técnica nos próximos meses.
Segundo a Folha apurou,
apesar de Lula manifestar a
vontade de que os juros continuem caindo, Meirelles pondera que, quanto mais agressivo
for o BC daqui para a frente,
maiores serão os riscos de ter
que subir os juros no ano que
vem, em plena campanha eleitoral.
Com isso, o presidente do BC
tenta minimizar a pressão sobre o Copom -o comitê que
define a taxa de juros de referência para o país, a Selic-,
qualquer que seja o desfecho da
reunião de hoje para definir a
nova taxa.
Tudo porque o cenário ainda
é incerto e há divergências na
equipe econômica e no próprio
BC em relação ao futuro. A expectativa dentro e fora do governo é que haja um corte de
0,5 ponto percentual na taxa
Selic, para 8,75%.
Cobrança
Ontem, Lula afirmou que o
Copom tem como reduzir os juros. "Do ponto de vista da sustentabilidade da economia brasileira, está se permitindo margem de manobra para fazer os
cortes. Se vai ser 0,5%, se vai ser
1%, se vai ser 0,75%, são as pessoas que estão com as tabelas
que vão decidir, e acho que certamente decidirão o que será
melhor para o Brasil", disse o
presidente.
Lula não interfere diretamente nas resoluções do Copom porque, apesar de não
existir lei garantido autonomia
do Banco Central no país, ele a
respeita.
"Se eu tivesse que pedir, eu
não pediria. Eu determinava.
Mas eu não determinei porque
temos uma cultura que está
dando certo de que, embora
não tenha nenhuma lei garantindo autonomia ao Banco
Central, a relação entre nós
permite que haja certa autonomia, e colhemos bons resultados até agora", disse Lula.
Desde janeiro, início do ciclo
atual de redução da Selic, por
causa da crise econômica global, a taxa foi de 13,75% para
9,25%.
Eleições
Segundo a Folha apurou,
Henrique Meirelles quer evitar
uma elevação dos juros em
2010, tese que já está incorporada nas projeções do mercado
financeiro e é baseada nas
apostas de que haverá uma forte retomada da economia brasileira já a partir do início do
próximo ano.
Recentemente, ele até chamou a atenção dos investidores
por causa dos prêmios, considerados exagerados, embutidos nos contratos de juros futuros. Para o presidente do BC,
o ideal é que o país saia da crise
sem a necessidade de solavancos nos juros. Para isso, a expectativa dos agentes econômicos é importante.
Neste ano, o impacto da crise
econômica mundial exigiu uma
flexibilização maior na definição dos juros, mas o desmonte
da estratégia iniciada em janeiro deve ocorrer da forma mais
suave possível, segundo avalia
Meirelles.
Dentro do BC defende-se
que a calibragem dos juros nos
próximos meses será determinante. As reduções promovidas
até agora ainda não surtiram
efeito integral na economia.
Além disso, os sinais de recuperação do nível de atividade ainda não estão claros.
O BC não quer correr o risco
de ter que aumentar juros ao
longo do primeiro semestre de
2010 por causa de alta na inflação, o que poderá significar um
balde de água fria no crescimento. Ao mesmo tempo, a
equipe do BC também está
preocupada com a recuperação
dos investimentos produtivos e
do emprego. O primeiro é o que
dará ao país condições de crescer de forma sustentável, sem
pressão nos preços, e o segundo assegurará renda aos trabalhadores para manter o consumo aquecido.
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