São Paulo, quarta-feira, 22 de julho de 2009

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Governo acerta redução no ritmo da queda dos juros

Meirelles diz a Lula que agressividade agora traz risco de alta da taxa em 2010

Petista afirma que o BC tem condições de promover nova queda na Selic hoje e que autoridade monetária fará o "melhor para o Brasil"

SHEILA D'AMORIM
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na conversa que teve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, preparou o caminho para redução no ritmo de queda nos juros neste segundo semestre do ano e até para uma possível parada técnica nos próximos meses.
Segundo a Folha apurou, apesar de Lula manifestar a vontade de que os juros continuem caindo, Meirelles pondera que, quanto mais agressivo for o BC daqui para a frente, maiores serão os riscos de ter que subir os juros no ano que vem, em plena campanha eleitoral.
Com isso, o presidente do BC tenta minimizar a pressão sobre o Copom -o comitê que define a taxa de juros de referência para o país, a Selic-, qualquer que seja o desfecho da reunião de hoje para definir a nova taxa.
Tudo porque o cenário ainda é incerto e há divergências na equipe econômica e no próprio BC em relação ao futuro. A expectativa dentro e fora do governo é que haja um corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, para 8,75%.

Cobrança
Ontem, Lula afirmou que o Copom tem como reduzir os juros. "Do ponto de vista da sustentabilidade da economia brasileira, está se permitindo margem de manobra para fazer os cortes. Se vai ser 0,5%, se vai ser 1%, se vai ser 0,75%, são as pessoas que estão com as tabelas que vão decidir, e acho que certamente decidirão o que será melhor para o Brasil", disse o presidente.
Lula não interfere diretamente nas resoluções do Copom porque, apesar de não existir lei garantido autonomia do Banco Central no país, ele a respeita.
"Se eu tivesse que pedir, eu não pediria. Eu determinava. Mas eu não determinei porque temos uma cultura que está dando certo de que, embora não tenha nenhuma lei garantindo autonomia ao Banco Central, a relação entre nós permite que haja certa autonomia, e colhemos bons resultados até agora", disse Lula.
Desde janeiro, início do ciclo atual de redução da Selic, por causa da crise econômica global, a taxa foi de 13,75% para 9,25%.

Eleições
Segundo a Folha apurou, Henrique Meirelles quer evitar uma elevação dos juros em 2010, tese que já está incorporada nas projeções do mercado financeiro e é baseada nas apostas de que haverá uma forte retomada da economia brasileira já a partir do início do próximo ano.
Recentemente, ele até chamou a atenção dos investidores por causa dos prêmios, considerados exagerados, embutidos nos contratos de juros futuros. Para o presidente do BC, o ideal é que o país saia da crise sem a necessidade de solavancos nos juros. Para isso, a expectativa dos agentes econômicos é importante.
Neste ano, o impacto da crise econômica mundial exigiu uma flexibilização maior na definição dos juros, mas o desmonte da estratégia iniciada em janeiro deve ocorrer da forma mais suave possível, segundo avalia Meirelles.
Dentro do BC defende-se que a calibragem dos juros nos próximos meses será determinante. As reduções promovidas até agora ainda não surtiram efeito integral na economia. Além disso, os sinais de recuperação do nível de atividade ainda não estão claros.
O BC não quer correr o risco de ter que aumentar juros ao longo do primeiro semestre de 2010 por causa de alta na inflação, o que poderá significar um balde de água fria no crescimento. Ao mesmo tempo, a equipe do BC também está preocupada com a recuperação dos investimentos produtivos e do emprego. O primeiro é o que dará ao país condições de crescer de forma sustentável, sem pressão nos preços, e o segundo assegurará renda aos trabalhadores para manter o consumo aquecido.


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