São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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TRABALHO

Segundo o IBGE, número de pessoas trabalhando cresce 0,7%, apesar de a taxa de desemprego ficar estável; renda cai 3,1%

Desemprego não cai, salários não sobem

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A taxa de desemprego aberto ficou em 7,5% em julho -o mesmo nível registrado no mês anterior. Mesmo com a manutenção do nível do desemprego, houve uma pequena melhora no mercado de trabalho, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
É que aumentou o ritmo de criação de novas vagas: o número de pessoas trabalhando cresceu 0,7% em relação a junho. Na comparação com julho de 2001, a alta foi de 2,4%. O total de pessoas ocupadas havia crescido 1,9% e 1,3%, respectivamente, em maio e junho na comparação com igual período de 2001.
Em números absolutos, ingressaram no mercado 129 mil pessoas de junho para julho. De julho de 2001 para julho de 2002, entraram 408 mil pessoas.
Descontadas as influências sazonais -típicas de cada período do ano-, a taxa de desemprego ficou em 7,4% em julho, a maior desde fevereiro de 2000, mês no qual chegou a 7,8%.
Apesar do aumento de vagas, a renda do trabalhador continuou em queda, tendência iniciada em janeiro de 2001. Houve retração de 3,1% em relação a junho de 2001.
Shyrlene Ramos de Souza, economista do Departamento de Emprego e Rendimento do IBGE, disse que, mesmo com o aumento da oferta de trabalho, o desemprego se manteve elevado, pois continua crescendo o ingresso de pessoas no mercado.
"O mercado está gerando novos postos, mas eles não são suficientes para atender toda a procura por trabalho nem para diminuir a taxa de desemprego."
O número de pessoas procurando emprego cresceu 1,4% de junho para julho (20 mil pessoas). Em relação a julho de 2001, a alta foi de 28,4%, o que corresponde a um acréscimo de 324 mil pessoas.
De acordo com a pesquisadora Adriana Fontes, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), o aumento da ocupação está relacionado à retração da renda. Isso porque o chefe da família está ganhando menos com as sucessivas quedas no rendimento, o que reduz o orçamento familiar e obrigar outras pessoas da casa a procurar trabalho.
Apesar de dizer que a situação melhorou, a economista do IBGE diz que "não se espera que sejam gerados postos de trabalhos suficientes" para reduzir a taxa de desemprego nos próximos meses.
"Os agentes econômicos, num ano eleitoral, não devem tomar decisões [de contratar". Não esperamos que a taxa caia significativamente no segundo semestre."
Luiz Afonso Lima, economista do BBV, discorda da avaliação de que houve uma recuperação, pois vários indicadores estão negativos. Afirma que a renda caiu, o tempo médio de procura por um novo emprego aumentou e a taxa de desemprego cresceu. O cenário, diz, mostra um desaquecimento do mercado de trabalho.
O desempregado demorava, em média, 21,9 semanas para encontrar um nova vaga em julho de 2001. Em julho deste ano, o tempo cresceu para 24,2 semanas.
Para Adriana Fontes, o crescimento da ocupação não pode ser comemorado quando a renda está em baixa e o desemprego alto.


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