|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EM TRANSE
Nota divulgada pelo Copom justifica a manutenção da taxa devido ao aumento das incertezas na economia do país
BC mantém juros em 18% e indica queda
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central decidiu manter os juros básicos da economia em 18% ao ano, mas sinalizou que pode reduzir a taxa em breve. Ontem, o Copom (Comitê de Política
Monetária do BC) adotou o que é chamado de viés de baixa.
Esse instrumento permite que o presidente do BC reduza os juros
antes mesmo da próxima reunião do Copom, marcada para os dias
17 e 18 de setembro.
O BC informou, por meio de
uma nota, que "as incertezas na
economia aumentaram desde a
última reunião do Copom", o que
justifica a manutenção dos juros
em 18% ao ano.
Por outro lado, ainda segundo o
BC, "fatos recentes reforçam a
perspectiva de melhora no cenário, confirmando a previsão de inflação para 2003 abaixo da meta".
Não foi dito quais são esses "fatos
recentes". Essa seria a explicação
para a adoção do viés de baixa.
Em outras palavras, o BC estaria
reconhecendo que, mesmo depois de fechado um novo acordo
com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a situação atual ainda é pior do que a observada na
reunião do Copom do mês passado. Nesse período, o dólar passou
de R$ 2,87 para R$ 3,10, enquanto
a taxa de risco-país aumentou de
1.500 pontos para cerca de 1.900
pontos.
Ambos os indicadores, porém,
já estiveram piores há algumas semanas. O dólar chegou a ser negociado a R$ 3,61, e o risco-país,
que mede a desconfiança do mercado em relação à economia brasileira, bateu em 2.390 pontos.
Pela explicação dada ontem, o
BC demonstra apostar na continuidade da queda do dólar e do
risco-país, o que permitiria a redução dos juros antes da próxima
reunião do Copom.
Essa é a segunda vez em três meses que o BC adota o viés de baixa.
Em junho, o instrumento foi usado em situação semelhante à
atual: dizia-se que a inflação estava sob controle, mas uma redução
dos juros só seria feita se o humor
do mercado financeiro mostrasse
sinais de melhora.
No final, essa melhora não se
concretizou na velocidade esperada, e o viés não foi efetivamente
usado pelo BC. Os juros só caíram
na reunião de julho do Copom,
quando a taxa Selic passou de
18,5% para 18% ao ano.
Metas de inflação
A nota divulgada ontem também
indica que a meta de inflação deste ano foi definitivamente abandonada, e que, a partir de agora, o
BC irá definir os juros para buscar
o cumprimento da meta do ano
que vem.
A meta fixada pelo governo para este ano é de inflação, medida
pelo IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo), de 3,5%,
com margem de tolerância de
dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
No mês passado o Banco Central já admitia que a inflação deve
ficar acima do teto de 5,5%.
No novo acordo fechado com o
FMI, porém, a meta de inflação
acertada é de 6,5%, com margem
de 2,5 pontos. Ou seja, a alta do
IPCA pode chegar a 9% e, mesmo
assim, o compromisso com o
Fundo será respeitado.
Para o ano que vem a meta do
governo é de 4%, também com
margem de 2,5 pontos. O Banco
Central projeta inflação de aproximadamente 3% para 2003, bem
abaixo do teto da meta, o que, teoricamente, permitiria a redução
dos juros. O problema é a baixa precisão das projeções feitas com
muita antecedência.
Texto Anterior: Ação de especuladores pressiona preço do barril Próximo Texto: Dívida interna com correção pelo dólar já subiu R$ 63,4 bi neste ano Índice
|