São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Nota divulgada pelo Copom justifica a manutenção da taxa devido ao aumento das incertezas na economia do país

BC mantém juros em 18% e indica queda

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central decidiu manter os juros básicos da economia em 18% ao ano, mas sinalizou que pode reduzir a taxa em breve. Ontem, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) adotou o que é chamado de viés de baixa.
Esse instrumento permite que o presidente do BC reduza os juros antes mesmo da próxima reunião do Copom, marcada para os dias 17 e 18 de setembro.
O BC informou, por meio de uma nota, que "as incertezas na economia aumentaram desde a última reunião do Copom", o que justifica a manutenção dos juros em 18% ao ano.
Por outro lado, ainda segundo o BC, "fatos recentes reforçam a perspectiva de melhora no cenário, confirmando a previsão de inflação para 2003 abaixo da meta". Não foi dito quais são esses "fatos recentes". Essa seria a explicação para a adoção do viés de baixa.
Em outras palavras, o BC estaria reconhecendo que, mesmo depois de fechado um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a situação atual ainda é pior do que a observada na reunião do Copom do mês passado. Nesse período, o dólar passou de R$ 2,87 para R$ 3,10, enquanto a taxa de risco-país aumentou de 1.500 pontos para cerca de 1.900 pontos.
Ambos os indicadores, porém, já estiveram piores há algumas semanas. O dólar chegou a ser negociado a R$ 3,61, e o risco-país, que mede a desconfiança do mercado em relação à economia brasileira, bateu em 2.390 pontos.
Pela explicação dada ontem, o BC demonstra apostar na continuidade da queda do dólar e do risco-país, o que permitiria a redução dos juros antes da próxima reunião do Copom.
Essa é a segunda vez em três meses que o BC adota o viés de baixa. Em junho, o instrumento foi usado em situação semelhante à atual: dizia-se que a inflação estava sob controle, mas uma redução dos juros só seria feita se o humor do mercado financeiro mostrasse sinais de melhora.
No final, essa melhora não se concretizou na velocidade esperada, e o viés não foi efetivamente usado pelo BC. Os juros só caíram na reunião de julho do Copom, quando a taxa Selic passou de 18,5% para 18% ao ano.
Metas de inflação A nota divulgada ontem também indica que a meta de inflação deste ano foi definitivamente abandonada, e que, a partir de agora, o BC irá definir os juros para buscar o cumprimento da meta do ano que vem.
A meta fixada pelo governo para este ano é de inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), de 3,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
No mês passado o Banco Central já admitia que a inflação deve ficar acima do teto de 5,5%.
No novo acordo fechado com o FMI, porém, a meta de inflação acertada é de 6,5%, com margem de 2,5 pontos. Ou seja, a alta do IPCA pode chegar a 9% e, mesmo assim, o compromisso com o Fundo será respeitado.
Para o ano que vem a meta do governo é de 4%, também com margem de 2,5 pontos. O Banco Central projeta inflação de aproximadamente 3% para 2003, bem abaixo do teto da meta, o que, teoricamente, permitiria a redução dos juros. O problema é a baixa precisão das projeções feitas com muita antecedência.


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