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São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2003

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Investimento direto se recupera

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de sofrer forte queda ao longo do primeiro semestre, os investimentos estrangeiros diretos recebidos pelo Brasil se recuperaram no mês passado, segundo dados do Banco Central. Em julho, o ingresso de capital externo totalizou US$ 1,247 bilhão, o maior resultado deste ano.
O governo atribui o saldo positivo a um aumento da confiança dos estrangeiros no Brasil.
Mas analistas de bancos dizem que a recuperação nos investimentos reflete em parte o aumento das chamadas operações de conversão de dívida, em que débitos são transformados contabilmente em investimentos, sem que haja uma maior entrada de capital no país. Dos US$ 4,747 bilhões recebidos entre janeiro e julho, US$ 1,164 bilhão -ou 24,5% do total- se referem a conversões.
Em junho, o país havia recebido apenas US$ 186 milhões em investimentos estrangeiros. Portanto, de um mês para o outro, o saldo de entrada de capital estrangeiro no país deu um pulo de 570,4%.
Mesmo com o resultado de julho, o acumulado nos sete primeiros meses deste ano, porém, continua bem abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Os US$ 4,747 bilhões deste ano equivalem a menos da metade dos US$ 10,547 bilhões observados nos primeiros sete meses de 2002. De qualquer maneira, o desempenho de julho ajudou a diminuir essa diferença -nos primeiros seis meses de 2003, comparados ao mesmo período de 2002, a queda havia sido de 63%.
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, disse que não se deve esperar que o Brasil volte a registrar ingressos muito fortes de capital externo. "O resultado ainda é baixo quando comparado a períodos anteriores, mas precisamos considerar que não temos mais privatizações", afirmou.

Desestatização
Em 2000, por exemplo, o Brasil recebeu US$ 33,4 bilhões em investimento estrangeiro direto. Desse total, US$ 7 bilhões se referem ao dinheiro colhido com o programa de desestatização. Além disso, nos últimos anos os estrangeiros investiram muitos dólares para modernizar as empresas recém-privatizadas. "Isso já não está mais acontecendo", disse Lopes.
Por outro lado, segundo ele, a expectativa é que o fluxo de capital externo para o Brasil no segundo semestre fique um pouco acima do registrado até agora. "A queda no ingresso de investimento estrangeiro direto no início do ano reflete as decisões tomadas pelas empresas no final do ano passado, quando tínhamos uma volatilidade muito alta", afirmou.
Ou seja, a desconfiança dos investidores em relação ao Brasil no final de 2002 teria feito com que muitas multinacionais cancelassem seus planos no país, o que se refletiu em uma menor entrada de dólares no primeiro semestre deste ano.
Segundo dados parciais registrados até ontem, o total de investimento estrangeiro direto recebido pelo país neste mês estava em US$ 700 milhões. Lopes disse que esse valor deve chegar a US$ 1,1 bilhão até o final de agosto.

Revisões
Desde o início do ano, o Banco Central refez, por várias vezes, suas projeções relativas ao ingresso de investimento estrangeiro para 2003.
Em janeiro, contava-se com um fluxo positivo de US$ 16 bilhões -próximo dos US$ 16,6 bilhões de 2002. Para que essa estimativa se concretizasse, o Brasil precisaria receber cerca de US$ 1,3 bilhão por mês em capital externo.
No primeiro semestre, porém, a média foi de US$ 583 milhões. Diante desses fracos resultados, a projeção do BC foi modificada para US$ 15 bilhões e depois para US$ 13 bilhões. A estimativa mais recente, feita em junho, ficou em US$ 10 bilhões.
Essa é a estimativa oficial. Entre analistas, porém, a conversa é diferente. A expectativa de cem bancos e instituições financeiras, apurada pelo boletim Focus no último dia 15, do BC, era de ingresso de capital estrangeiro de apenas US$ 8,3 bilhões em 2003. Há um mês, a mesma pesquisa indicava perspectiva de entrada de US$ 9 bilhões.
O investimento direto estrangeiro é uma das fontes utilizadas para financiar as contas externas, que contabilizam todos os dólares que entram e saem do país.
Normalmente, ele é utilizado no setor produtivo e se difere do capital especulativo -que entra no país aplicado em papéis do mercado financeiro, atrelados ao câmbio ou às taxas de juros-, muito mais volátil.


Com a Redação


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