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São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2003

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RENOVAÇÃO

Especialistas afirmam que situação do país melhorou, mas que um novo acordo com Fundo poderia ser benéfico

Economistas defendem negociar com FMI

ADRIANA MATTOS
JOSÉ ALAN DIAS

ENVIADOS ESPECIAIS A CAMPOS DO JORDÃO

A economia brasileira começa a dar sinais de recuperação, mas, ainda assim, o governo deveria cogitar a renovação do acordo com o Fundo Monetário Internacional, segundo a opinião de economistas presentes a um congresso sobre mercado financeiro, ontem, em Campos do Jordão (SP).
Em momentos distintos, a retomada da economia foi citada pelo ex-diretor do FMI Stanley Fischer e por dois dos principais economistas brasileiros: Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, e José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade Princeton (EUA).
Entre os três, só Fischer não quis falar sobre eventuais renegociações com o FMI. Mas partiu dele os maiores elogios à condução das políticas monetária e fiscal.
Fischer afirmou que o país superou a crise deflagrada em 2002 durante o processo eleitoral, que obrigou a recorrer ao FMI. "Vemos que o Brasil agora está em uma trajetória correta, que permite a redução da inflação e o crescimento sustentado."
O ex-vice-diretor-gerente do FMI argumentou que a existência de um sistema financeiro sofisticado (e a adoção de políticas austeras) permitiram ao Brasil atravessar os períodos de crise da última sem sofrer os mesmos efeitos recessivos que outros países. "Estou dando meus parabéns ao Brasil pelo que fez com o socorro [dinheiro] do FMI."
Scheinkman sustentou que, em decorrência da política fiscal austera, que, segundo ele, estabeleceu prerrogativas para uma política monetária menos restritiva, a economia entrará no curto prazo "em uma fase muito favorável".
"O problema do Brasil não é esse [retomar o crescimento], mas mudar o patamar de expansão. O país teria de conviver com crescimento de 2% em momentos de crise e de 5% em períodos normais. Hoje, porém, quando há crise, o crescimento é zero e, quando está tudo bem, no máximo crescemos 2%", disse.
Pastore disse que a economia crescerá "fortemente" no último trimestre do ano, em virtude da retomada do consumo. A expansão da indústria não ocorreria de forma imediata, porque o setor acusa de forma mais lenta efeitos do aumento da demanda.
Mesmo com divergências quanto a necessidade de novos recursos do FMI, tanto Pastore quanto Scheinkman disseram que o governo deveria considerar seriamente a hipótese.
Pastore disse que em 2004 o país precisará cumprir meta de superávit primário (receitas menos despesas, excluindo-se o pagamento de juros) de 4,25% do PIB, se pretende reduzir a relação dívida/PIB e diminuir o risco-país. Lembrou ainda que o governo terá que cumprir a meta de inflação de 5,5%, para assegurar a credibilidade do regime de metas.
"Se temos que cumprir tudo isso, melhor que seja com o Fundo. O país ficará menos exposto à instabilidade internacional", afirmou. "Caso ocorra um sinalzinho de recuperação de economia dos EUA, o Fed [BC americano] aumenta os juros e afeta o fluxo de capitais para o Brasil."
Scheinkman preferiu outro caminho. "O Brasil não está em desespero como em outras ocasiões. Não haverá uma crise cambial se não tiver acordo. Vamos fazer se for bom para nós." O "bom" significa o governo obter concessões para poder investir mais.
Mas Scheinkman também ponderou: "O dinheiro do Fundo pode ser muito útil. Sem contar que os juros são mais baixos que no mercado internacional".


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