São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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PORTA GIRATÓRIA

Economistas e banqueiros saem do setor público para assumir cargos de destaque no mercado financeiro

Passagem pelo governo alavanca carreiras

FERNANDO RODRIGUES
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Economistas e banqueiros que passaram por cargos estratégicos no governo nos últimos dez anos estão hoje em posições de destaque no mercado financeiro ou em atividades correlatas. Quando no setor público, todos desempenharam funções que exigiam contato com a iniciativa privada, sobretudo na área financeira.
Levantamento da Folha no Banco Central, no Banco do Brasil e no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) apurou, no período dos últimos dez anos, o que faziam 32 economistas, engenheiros, banqueiros e advogados antes de entrarem para o governo e o que passaram a fazer depois. Dos 32, 25 estão hoje em bancos, corretoras, empresas de investimentos ou consultorias econômicas e financeiras. Antes do serviço público, só 15 estavam no mercado.
Ao entrar para o governo, há um preço a pagar. Primeiro, a alta exposição pública, que muitas vezes resulta em processos administrativos e judiciais -levantamento da Folha mostra que 36 ex-dirigentes do BC enfrentam hoje ações na Justiça. Além disso, ao assumir o cargo público, o profissional quase sempre se sujeita a receber um salário menor do que receberia na iniciativa privada.
Um diretor do Banco Central, por exemplo, recebe R$ 8.362,80 mensais (o equivalente a R$ 108.716,40 anuais). O único benefício é um auxílio-moradia de R$ 1.800 mensais para quem não tem imóvel em Brasília.
Quando saem do governo, integrantes da diretoria do BC encontram salários maiores no mercado financeiro. Segundo a consultoria Catho, a remuneração total de altos executivos de grandes instituições financeiras gira em torno de R$ 700 mil por ano. Segundo profissionais do mercado ouvidos pela Folha, não é difícil encontrar quem ganhe mais de R$ 1 milhão por ano.
A atração é grande. Somadas as equipes e os membros dos conselhos de Itaú e Unibanco, por exemplo, seria possível montar uma diretoria colegiada inteira do Banco Central somente com ex-dirigentes da instituição.
Estão hoje no Itaú: Pérsio Arida, Gustavo Loyola, Fernão Bracher (ex-presidentes) e Tereza Grossi (ex-diretora de Fiscalização), todos em conselhos do banco. Trabalha ainda para o Itaú o ex-diretor de Política Econômica do BC Sérgio Werlang, como diretor-executivo. Fora os ex-BC, trabalham também para o Itaú Alcides Tápias (ex-ministro do Desenvolvimento) e Roberto Teixeira da Costa, ex-presidente da CVM.
No Unibanco, o Conselho de Administração é presidido pelo ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, que antes comandou o BC. No mesmo conselho está o também ex-presidente do BC Armínio Fraga. No quadro executivo do banco estão Demósthenes Madureira de Pinho Neto (ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC), vice-presidente da área de gestão de patrimônio, e Daniel Gleizer (ocupou no BC o mesmo cargo que Demósthenes), diretor-executivo da área de riscos.
A diretoria colegiada do BC hoje, que forma o Copom (Comitê de Política Monetária) e decide os juros básicos, é composta por nove membros -o presidente e oito diretores. Itaú e Unibanco têm hoje nove ex-BC.


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