São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2008 |
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VINICIUS TORRES FREIRE Mais trabalho, dinheiro nem tanto
TAXAS DE desemprego por vezes causam ilusões, em especial quando se presta atenção em variações mensais apenas. Uma falha normal de estatística e um desânimo transitório dos trabalhadores, por exemplo, podem provocar mudanças que dizem pouco. O aumento da taxa de desemprego, publicada ontem pelo IBGE, em si mesmo não ajuda muito a entender a situação do trabalho. No conjunto, os dados mostram que o mercado continua quente. Aliás, faz tempo que não havia tanto emprego, embora a proporção de pessoas que não consigam trabalhar ainda seja alta para um país "em desenvolvimento" e, de resto, constitua sempre um desperdício e/ou uma incapacidade forte de educar a força de trabalho. Desde o início do período no qual é possível fazer comparações (em 2002, quando o IBGE mudou sua estatística), o nível de ocupação nunca foi tão alto, na média dos últimos 12 meses. O nível da ocupação é a proporção de pessoas ocupadas em relação ao total de pessoas em idade de trabalhar (em "idade ativa"). A taxa de desemprego, o número mais famoso, é a proporção das pessoas que não conseguiram trabalho entre aquelas que procuraram trabalhar, indicador que aumentou de 7,8% para 8,1% de junho para julho (mas que era de horríveis 9,5% em julho de 2007). A massa salarial cresceu 5,93% nos últimos 12 meses, em termos reais (isto é, acima da inflação), o que é forte, mas há uma mudança de ênfase. Tem se alterado o peso dos fatores que contribuem para o crescimento da massa de salários (essa "massa" é o rendimento médio vezes o número de pessoas ocupadas, o "salário de todo mundo"). O rendimento médio está crescendo mais devagar (2,3%, na média de 12 meses) que o número de pessoas ocupadas (3,55%), ciclo que começou nos primeiros meses de 2007 e continua se intensificando. Parece que estão sendo criados mais empregos em setores que pagam relativamente menos ou em posições que exigem menor qualificação em qualquer setor. É o que deve influenciar as estatísticas de redução da desigualdade de salários nas regiões metropolitanas (nas seis em que o IBGE faz sua pesquisa mensal de emprego). Ressalte-se, porém, que o rendimento médio dos trabalhadores metropolitanos ainda é inferior ao de 2002, embora desde então tenha havido recuperação. Um dos motivos menos obscuros e imediatos de o aumento do emprego ser acompanhado de uma recuperação modesta da média dos rendimentos parece ser o desempenho dos salários de setores como o de construção. Os ganhos desses trabalhadores são os mais baixos, afora os dos trabalhadores domésticos, mas os que cresceram mais rapidamente, em especial nos últimos 12 meses (6,3%). Na indústria, nota-se quase uma estagnação. O aumento da massa salarial é relativamente forte (apesar de inferior ao de 2007); o do crédito é brutal. O efeito disso está evidente no varejo, cujas vendam crescem a 10% ao ano. Que a oferta não tem dado conta, o repique da inflação o evidenciou. Mas não se vê "espiral de preços e salários". E os aumentos reais de salário não parecem estar batendo os aumentos de produtividade, no entanto sempre difíceis de medir. vinit@uol.com.br
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