São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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Bernanke deverá manter cargo, diz editor do "WSJ"

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

A permanência de Ben Bernanke após o término de seu mandato no Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) é dada como certa por David Wessel, editor do "Wall Street Journal" e autor do livro "In Fed We Trust" (No Fed, Nós Confiamos, em tradução livre), que será lançado no Brasil em novembro. O livro trata dos bastidores das decisões do Fed. Para Wessel, a Casa Branca ainda não anunciou a decisão porque procura se certificar de que a economia americana está, de fato, em trajetória de recuperação. Leia trechos da entrevista à Folha:

 

FOLHA - Há especulação sobre quem será o novo presidente do Fed. Bernanke continuará no cargo?
DAVID WESSEL
- Se o presidente [Barack Obama] tivesse de tomar uma decisão hoje, ele escolheria Bernanke. O mandato acaba em janeiro de 2010 e mudar o motorista quando a estrada ainda é trepidante e sinuosa é arriscado. Se ele mudar e houver a percepção de que quis colocar um amigo no cargo, o dólar vai cair e a inflação se tornará um elemento mais provável.

FOLHA - A Casa Branca está esperando a confirmação da melhora da economia?
WESSEL
- Sim. Até o fim de outubro o presidente vai ter de anunciar uma decisão porque pode chegar o momento em que a incerteza sobre a permanência de Bernanke se torne um problema.

FOLHA - Há outros nomes cogitados para o cargo?
WESSEL
- Durante um tempo houve uma crença generalizada de que Larry Summers, conselheiro econômico de Obama, poderia assumir o cargo. Há também Janet Yellen, presidente do Fed de San Francisco e que trabalhou na Casa Branca no governo de Bill Clinton, e Roger Ferguson, que trabalhou com Alan Greenspan no Fed. Minha leitura é que todos esses candidatos têm prós e contras e, a menos que a economia desande, o presidente escolherá Bernanke.

FOLHA - A taxa de desemprego afetará a decisão?
WESSEL
- É muito difícil explicar para o povo americano como Wall Street e o mercado de ações se recuperaram, a recessão está acabando, o PIB voltando a crescer e a taxa de desemprego está em 9% a 10%. Obama deverá argumentar que faz a escolha baseada em quem poderá reduzir a taxa.

FOLHA - Como compara o estilo do ex-presidente do Fed, Alan Greenspan e o de Bernanke?
WESSEL
- No início, Bernanke queria ser o anti-Greenspan. Ele pensava que muita gente via Greenspan como o próprio Fed. Há cerca de um ano, mudou sua avaliação e viu que em momentos de crise as pessoas ficam confusas se toda a equipe fala. Passou a cultivar uma imagem pública.

FOLHA - No livro, você destaca que o Fed foi além da receita de subir e descer a taxa básica de juros. Como vê a atuação futura do banco?
WESSEL
- Os bancos centrais irão, e nós esperamos isso deles, gastar mais tempo pensando em estabilidade financeira e em evitar o chamado risco sistêmico. Vamos esperar que eles sejam mais vigilantes em aspectos como a bolha imobiliária e os empréstimos para consumidores sem histórico de bom pagador. O que se espera hoje é que evitem a especulação desenfreada.

FOLHA - No verão americano, há uma verdadeira febre de livros sobre a crise. Por quê?
WESSEL
- Há um grande apetite da população para entender o que de fato aconteceu. Dois ou três anos atrás você poderia ler que existia uma bolha, mas a economia americana parecia invencível. Hoje o desemprego está num patamar tão elevado que muita gente nunca viu uma situação assim. As pessoas querem saber se as coisas voltarão a ser como eram antes.


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