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Bernanke deverá manter cargo, diz editor do "WSJ"
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
A permanência de Ben Bernanke após o término de seu
mandato no Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) é dada como certa por
David Wessel, editor do "Wall
Street Journal" e autor do livro
"In Fed We Trust" (No Fed,
Nós Confiamos, em tradução livre), que será lançado no Brasil
em novembro. O livro trata dos
bastidores das decisões do Fed.
Para Wessel, a Casa Branca
ainda não anunciou a decisão
porque procura se certificar de
que a economia americana está, de fato, em trajetória de recuperação. Leia trechos da entrevista à Folha:
FOLHA - Há especulação sobre
quem será o novo presidente do
Fed. Bernanke continuará no cargo?
DAVID WESSEL - Se o presidente
[Barack Obama] tivesse de tomar uma decisão hoje, ele escolheria Bernanke. O mandato
acaba em janeiro de 2010 e mudar o motorista quando a estrada ainda é trepidante e sinuosa
é arriscado. Se ele mudar e houver a percepção de que quis colocar um amigo no cargo, o dólar vai cair e a inflação se tornará um elemento mais provável.
FOLHA - A Casa Branca está esperando a confirmação da melhora da
economia?
WESSEL - Sim. Até o fim de outubro o presidente vai ter de
anunciar uma decisão porque
pode chegar o momento em
que a incerteza sobre a permanência de Bernanke se torne
um problema.
FOLHA - Há outros nomes cogitados para o cargo?
WESSEL - Durante um tempo
houve uma crença generalizada
de que Larry Summers, conselheiro econômico de Obama,
poderia assumir o cargo. Há
também Janet Yellen, presidente do Fed de San Francisco
e que trabalhou na Casa Branca
no governo de Bill Clinton, e
Roger Ferguson, que trabalhou
com Alan Greenspan no Fed.
Minha leitura é que todos esses
candidatos têm prós e contras
e, a menos que a economia desande, o presidente escolherá
Bernanke.
FOLHA - A taxa de desemprego
afetará a decisão?
WESSEL - É muito difícil explicar para o povo americano como Wall Street e o mercado de
ações se recuperaram, a recessão está acabando, o PIB voltando a crescer e a taxa de desemprego está em 9% a 10%.
Obama deverá argumentar que
faz a escolha baseada em quem
poderá reduzir a taxa.
FOLHA - Como compara o estilo do
ex-presidente do Fed, Alan Greenspan e o de Bernanke?
WESSEL - No início, Bernanke
queria ser o anti-Greenspan.
Ele pensava que muita gente
via Greenspan como o próprio
Fed. Há cerca de um ano, mudou sua avaliação e viu que em
momentos de crise as pessoas
ficam confusas se toda a equipe
fala. Passou a cultivar uma imagem pública.
FOLHA - No livro, você destaca que
o Fed foi além da receita de subir e
descer a taxa básica de juros. Como
vê a atuação futura do banco?
WESSEL - Os bancos centrais
irão, e nós esperamos isso deles, gastar mais tempo pensando em estabilidade financeira e
em evitar o chamado risco sistêmico. Vamos esperar que eles
sejam mais vigilantes em aspectos como a bolha imobiliária e os empréstimos para consumidores sem histórico de
bom pagador. O que se espera
hoje é que evitem a especulação
desenfreada.
FOLHA - No verão americano, há
uma verdadeira febre de livros sobre
a crise. Por quê?
WESSEL - Há um grande apetite
da população para entender o
que de fato aconteceu. Dois ou
três anos atrás você poderia ler
que existia uma bolha, mas a
economia americana parecia
invencível. Hoje o desemprego
está num patamar tão elevado
que muita gente nunca viu uma
situação assim. As pessoas querem saber se as coisas voltarão
a ser como eram antes.
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