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Sobretaxa contra calçado chinês deve encarecer tênis
Aplicação de nova alíquota antidumping deve ser decidida na próxima semana
Fabricantes brasileiros
dizem que querem evitar
competição desleal; para
marcas de tênis e lojistas,
vendas se tornarão inviáveis
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os tênis de alta performance,
que hoje chegam ao consumidor por R$ 500 em média, correm o risco de ficar ainda mais
caros. Na próxima semana, o
Decom (Departamento de Defesa Comercial), do Ministério
do Desenvolvimento, deve decidir se o Brasil aplicará ou não
sobretaxa de US$ 25,99 por par
sobre todos calçados provenientes da China. Com isso, dizem os fabricantes de tênis, o
preço dos produtos mais sofisticados chegará a R$ 750.
"Voltaremos à década de 90",
afirma Marcelo Ferreira, presidente da Adidas do Brasil. "O
consumidor vai ter o acesso aos
produtos cerceado, os mais favorecidos irão a Miami, e o contrabando voltará a explodir."
Já os calçadistas brasileiros,
representados pela Abicalçados (Associação Brasileira das
Indústrias de Calçados), que
pediu a medida antidumping,
têm outra visão. Para eles, além
de a competição com a China
ser injusta, os fabricantes de tênis são capazes de produzir no
Brasil todos os modelos, inclusive os de alto desempenho.
"Antes da crise, o governo
chinês dava 9% de subsídio às
exportações da indústria leve,
como os fabricantes de calçados", diz Milton Cardoso, presidente da Abicalçados. "Em dezembro, o percentual foi a 12%,
e, em junho, a 15%. Não temos
medo da concorrência, mas
desde que ela venha de países
com economia de mercado e
sem dumping."
Nem todos os fabricantes
têm a mesma posição de Cardoso, que também é presidente
da Vulcabras/Azaleia, dona das
marcas Reebok e Olympikus. A
Alpargatas, das marcas Mizuno, Topper e Rainha, e outras
indústrias já vieram a público
discordar do pedido de sobretaxação. Especificamente, eles
querem que os tênis que custem acima de US$ 10 sejam excluídos da medida.
Na mesma linha estão os filiados à Abramesp (Associação
Brasileira do Mercado Esportivo), que reúne Nike, Adidas,
Asics e Puma. Para eles, que dizem fabricar até 60% dos tênis
vendidos no Brasil, o modelo de
negócio de suas empresas concentra a produção de determinadas linhas em alguns países.
"Além de não termos tecnologia no Brasil, falta escala", diz
Ferreira, que preside a Abramesp. "Como vou produzir
aqui mil pares de alguns modelos, que é quanto o mercado nacional consome?"
Cardoso diz que os fabricantes já tiveram essa tecnologia,
deixada de lado com a decisão
de concentrar a produção na
China. Afirma também que o
consumidor não vai sofrer com
o aumento de preços, porque as
grandes marcas não vão querer
perder o mercado brasileiro, o
quinto maior consumidor
mundial, e passarão a produzir
aqui, com preços menores.
"Essas marcas, que dominam
60% ou 70% do mercado mundial, dizem que não vão produzir aqui e todos aceitam. Eles
querem ficar num país que não
tem salário de mercado e subsidia exportações para que aufiram margem de lucro absurda",
diz Cardoso. "Isso destrói os
empregos brasileiros e entope
nosso mercado com produtos
que não são vendidos em outros países por conta da crise."
Se Cardoso diz defender os
empregos na indústria, os varejistas afirmam temer pelas vagas em sua área. Segundo
Adriano Obeid, sócio da Authentic Feet, que tem 90 lojas,
os tênis de alto desempenho representam entre 30% e 40%
das vendas. São eles, porém,
que atraem consumidores que
sonham com a chuteira de Kaká ou Ronaldinho. "O marketing das marcas é mundial e feito em cima desses produtos",
diz Obeid. "Imagina ter uma
Copa sem que ninguém consiga
comprar os tênis top de linha?"
Sebastião Bonfim, dono do
grupo SBF (lojas Centauro,
ByTennis e Nike Sportswear),
diz estar revendo planos de investimento para abrir 40 lojas
em 2010. "Tenho linha de crédito de R$ 280 milhões aprovada pelo BNDES e poderia gerar
1.400 empregos", diz. "Só que,
se houver essa sobretaxa, vamos criar vagas em Miami."
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