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Concessão do litoral norte não atrai empresas
Governo de SP não desistiu do plano, mas investimento de R$ 4,4 bi e riscos na duplicação da Tamoios podem engavetar projeto
PPP prevê contrapartida do Estado de R$ 2,9 bi em 20 anos, mas nem assim o projeto "para em pé", diz especialista em concessões
Alex Almeida/Folha Imagem
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Movimento de carros em túnel na rodovia dos Tamoios, em SP
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A concessão das rodovias do
litoral norte paulista, principal
projeto para a nova etapa do
programa de desestatização de
rodovias do Estado, corre sério
risco de não sair do papel. Nem
na modalidade de PPP (Parceria Público-Privada), com contrapartida anual do Tesouro
paulista de R$ 145 milhões durante 20 anos e prazo estendido de concessão por 35 anos (o
normal tem sido 25), conseguiu-se viabilizar a concessão.
A notícia representa, por um
lado, um alívio para a população da região, que ganharia
-segundo uma das versões do
projeto-13 praças de pedágio
ao todo. Serão seis praças no
trecho da Rio-Santos, caso o
projeto siga adiante, e outras
seis nas três rodovias de acesso
à Baixada: Mogi-Bertioga, Tamoios e Oswaldo Cruz. Há uma
remanescente na estrada para
Campos do Jordão.
O problema é que, da forma
como ficou o plano, há grandes
chances de não haver investidores interessados, segundo
apurou a Folha. O projeto não
morreu, mas agoniza, e o governador José Serra (PSDB)
tenta salvá-lo da gaveta.
Procurado, o secretário dos
Transportes, Mauro Arce, não
se pronunciou sobre o tema.
É esse, aliás, o motivo pelo
qual a ata da reunião entre
membros do PED (Programa
Estadual de Desestatização)
sobre a abertura da nova fase
de concessões em São Paulo
não foi publicada até agora. "O
projeto não para em pé. O governo ouviu do setor privado:
"Não ponha na rua, porque como está vai dar vazio'", disse
uma fonte ouvida pela Folha.
"Dar vazio" no jargão do setor de concessões equivale a dizer que não haverá propostas.
O governo teme o risco de um
fracasso na licitação, como o
que ocorreu em março de
2008, quando a privatização da
Cesp foi suspensa por falta de
interessados.
São vários os problemas no
projeto do litoral norte. A começar pelo tamanho do investimento que o concessionário
terá de fazer: R$ 4,4 bilhões,
dos quais cerca de R$ 1,7 bilhão
em duplicação de estradas.
Uma boa parte dessa conta
será gasta na rodovia dos Tamoios, principal acesso do Vale
do Paraíba às praias do litoral
norte. Só nessa rodovia, a conta
é de R$ 1 bilhão, com exigência
de concluir a construção em
três anos, com apenas um ano
de carência depois do início da
concessão para ser iniciada.
"É muito pouco tempo, e não
há nenhuma certeza quanto ao
tempo para licenciamento dessa obra, tampouco o tamanho
das compensações ambientais
que serão impostas", afirma a
fonte. Três rodovias incluídas
no lote cruzam o parque estadual da Serra do Mar, área de
proteção ambiental.
A alternativa avaliada pelo
governo é prorrogar investimentos do concessionário. Na
forma atual, o governo determina que mais de 80% das
obras sejam executadas em até
dez anos, mas não há garantia
de que isso irá funcionar.
Pelo cálculos, a taxa interna
de retorno (TIR, no jargão do
setor) é de 8% ao ano. É quanto
o investidor vai receber por
apostar na concessão. Renato
Vale, presidente da CCR
-maior concessionária de rodovias do país-, já disse, em
entrevista à Folha publicada
no domingo passado, que projetos que envolvam construção
exigem taxas de 16% ao ano,
dado o risco.
A Tamoios é o grande gargalo
para a viabilização do corredor
de exportação, que inclui as rodovias Anhanguera, D. Pedro,
Carvalho Pinto e Tamoios para
acesso ao porto de São Sebastião, como se sabe, controlado
pela Companhia Docas do Estado de São Paulo, alternativa
ao porto de Santos, administrado pela federal Codesp.
Litoral sul
Ao contrário do litoral norte,
o corredor de 153 quilômetros
que corta todo o litoral sul (da
Praia Grande, passando por Peruíbe, até alcançar o município
de Miracatu, na BR-116) está
pronto para ser concedido.
O investimento total é de R$
650 milhões. Pelo projeto, o
corredor terá dois pedágios, o
primeiro em Peruíbe (com valor definido de R$ 5,70), o outro,
em Praia Grande, com valor-teto de R$ 10,50. Quem oferecer a
menor tarifa para esse pedágio
deve ser escolhido para administrar a rodovia por 20 anos.
O governo fez a redução de
prazo (em vez de 25 anos) para
fazer coincidir o fim do prazo
dessa concessão com o fim da
concessão do complexo Anchieta-Imigrantes, administrado pela Ecorodovias. A ideia é
então reunir todas essas rodovias numa só lote para licitá-lo.
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