São Paulo, Quarta-feira, 22 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VEÍCULOS
Revelação de Demel foi feita em entrevista a jornal alemão; empresa não comenta e sindicalista critica
Presidente da Volks prevê demissões

FÁBIA PRATES
em São Paulo

O presidente da Volkswagen no Brasil, Herbert Demel, disse em entrevista ao jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung" que a empresa vai reduzir o número de funcionários de 26,4 mil para 24,4 mil até o final do próximo ano.
A montadora estaria trabalhando com excedente de 3.500 empregados. Dos 2.000 demitidos, metade deixaria a empresa ainda este ano e a outra metade no ano que vem.
"A redução de pessoal será feita de maneira gradual. A empresa precisa negociar com o forte sindicato do setor", disse.
A assessoria de imprensa da montadora não quis comentar a entrevista de Demel, que ontem continuava viajando para a Alemanha.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, considerou "uma irresponsabilidade" a declaração do executivo ao jornal alemão.
"Não é a primeira vez que ele faz isso. Desse jeito só cria confusão", disse o sindicalista.
A revolta de Marinho se deve ao fato de o sindicato ter assinado em dezembro do ano passado um acordo com a montadora que garante o nível de emprego até 2003.
Por ocasião do acordo, a Volkswagen ameaçava demitir 7.500 funcionários.
Para evitar demissão em massa, o sindicato aceitou reduzir os salários em 15%, e em contrapartida a montadora passou a adotar semana de quatro dias durante três semanas por mês.
Na ocasião, Marinho definiu o acordo como "uma opção difícil, mas uma saída sensata e responsável diante do dramático quadro econômico imposto do país".
É exatamente por causa desse acordo que Marinho criticou a declaração de Demel. Os termos acordados entre trabalhadores e montadoras previa a saída apenas voluntária, com preferência para os aposentados a partir de dezembro deste ano.
Naquela ocasião, 3.000 funcionários da empresa já eram aposentados por tempo de serviço ou já tinham conquistado o direito à aposentadoria.
A idéia era desligar aqueles que tivessem completado 36 meses após a obtenção da aposentadoria. Os cálculos de Marinho em dezembro de 98 eram de que 1.300 funcionários se enquadrassem nessas condições após dezembro próximo.
Tanto a assessoria de imprensa da montadora quanto o presidente do sindicato do ABC disseram acreditar que Demel estivesse falando dessa parcela de empregados que se enquadram nas condições de desligamento impostos pelo acordo, mas a reportagem do jornal alemão não especifica se foi mesmo isso.
De acordo com o jornal, o espaço das unidades de Taubaté e Anchieta, em São Paulo, serão reduzidas em um terço, sem dar maiores detalhes.
Na entrevista, Demel diz também que as perspectivas no Brasil para os próximos três anos não são as melhores. "As perspectivas ainda são uma grande pergunta para a reestruturação", diz.
Apesar de afirmar ao jornal que a indústria automotiva está em baixa no Brasil, o executivo acredita que a situação vai melhorar e ficará bem.
Líder no país, a Volkswagen vendeu no mês passado 31.830 veículos. Apesar de ter registrado incremento de 12,93% sobre o resultado do mês anterior, as vendas de agosto foram 19,14% inferiores às do mesmo mês do ano passado.
De janeiro a agosto deste ano, as vendas caíram 14,29% na comparação com o mesmo período de 99, segundo dados da Anfavea.


Texto Anterior: Comércio exterior: Governo revê projeções para a balança e admite déficit em 99
Próximo Texto: Modernização: Ford investe US$ 1 bi em reestruturação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.