São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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REFORMA

FMI conclui troca radical de cargos e põe técnicos linha-dura como responsáveis pelas economias latino-americanas

"Durões" vão negociar com Brasil e Argentina

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) concluiu na semana passada uma reforma radical em seu departamento responsável pelas economias da América Latina. O indiano Anoop Singh, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo, trouxe alguns dos técnicos mais rígidos da instituição para negociar com os governos do Brasil e da Argentina e acompanhar de perto as evoluções das economias desses dois países.
O novo encarregado da economia brasileira é o argentino Jorge Marquez-Ruarte, economista com fama de "durão" que participou de missões do Fundo na Coréia do Sul e na Rússia. Ruarte conhece Singh há cerca de 20 anos, tendo trabalhado com ele na divisão de Ásia e Pacífico do FMI, antes de transferir-se para um dos departamentos de Europa do Fundo.
Com a indicação de Ruarte, a economia brasileira deixará de ser seguida de perto por Lorenzo Perez, atual diretor-assistente do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI. Perez vai continuar no cargo, mas perderá sua interlocução direta com o governo brasileiro.
Como resultado, é de se esperar que a próxima equipe econômica brasileira seja obrigada a negociar com uma equipe do FMI ainda mais severa que a atual em termos de ajuste fiscal, política monetária e controle inflacionário.
Para monitorar a Argentina, Singh colocou outra pessoa de sua confiança: o inglês John Dodsworth, que, com o indiano, participou das difíceis negociações do FMI com o governo da Indonésia, em 1998 e em 1999.

Reforma profunda
Essas nomeações representam um aprofundamento da reforma que vem sendo implementada por Singh desde que chegou ao cargo, em fevereiro deste ano. Ex-subdiretor do Fundo para as regiões da Ásia e Pacífico, Singh foi "promovido" por determinação de Horst Kohler, diretor-gerente do FMI.
Kohler estava insatisfeito com a atuação de Loser e com a de seu vice, Thomas Reichmann, os quais considerava "pouco rígidos" e "ineficientes" em seus esforços para convencer o governo argentino a realizar cortes de gastos e reformar leis.
Em fevereiro, Loser foi retirado do comando das negociações com a Argentina. Em junho, perdeu para o indiano não só a responsabilidade sobre a economia do país, mas sobre todo o departamento.

"Soldados asiáticos"
As mudanças mais recentes incluem não só a indicação de Ruarte e de Dodsworth, mas também de outros técnicos ligados pessoalmente a Singh. Entre eles, o canadense Guy Meredith e o austríaco Markus Rodlauer - este também originário do Departamento Ásia Pacifico. Singh já havia trazido para o Departamento Charles Collyns, outro soldado de seu "exército asiático".
Ruarte, o novo homem do FMI para o Brasil, escreveu, em 1985, um trabalho sobre a economia da Coréia do Sul que transformou-se em referência acadêmica sobre ajustes econômicos de sucesso ("A Case of Successful Adjustment: Korea's Experience During 1980-84" - "Um Caso de Ajuste Bem Sucedido: a Experiência Coreana entre 1980-84").
Durante a crise russa iniciada em 1998, encarregou-se de ressuscitar o pacote do FMI depois de um rumoroso caso de corrupção envolvendo o uso indevido de recursos enviados pelo Fundo ao Banco Central do país.
Internamente, Ruarte comunicou à direção do FMI que o sucesso da economia russa dependia da renovação política no país. Embora não lidasse oficialmente com economias de países latino-americanos, Ruarte opinou, durante várias conversas desde 1997, que o regime de conversibilidade entre o dólar e o peso na Argentina era inviável e conduziria o país à crise.


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