|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Uma visão do risco Brasil
A teoria é uma abstração,
um ferramental utilizado
para entender a realidade. São
raríssimos os economistas que
conseguem casar esse duplo conhecimento -o da teoria e o da
prática. Menos ainda os que
conseguem tirar lições dessa capacidade de apreender a realidade.
Uma das exceções é o economista Paulo Tenani, estrategista
do UBS Wealth Management.
Seu artigo "Risco Brasil e Portfólio Global" é um achado relevante para entender um dos enigmas da economia atual: por que
o risco Brasil sempre sobe se, desde 1994, os "fundamentos" internos vem melhorando?
Há uma década, por meio do
Plano Brady, o Brasil securitizou
sua dívida, ou seja, transformou-a em títulos soberanos,
emitidos e negociados no mercado. Com o livre fluxo de capitais,
o preço dos ativos domésticos
passou a ser dado por arbitragem, diretamente influenciada
pelo tal risco Brasil -o diferencial entre as taxas de juros mundiais e as da dívida externa soberana.
Desde o início da série histórica, a taxa de risco Brasil variou
de um mínimo de 3,5%, em setembro de 1997, a um máximo
de 24%, em setembro de 2002,
mantendo-se, em média, ao redor dos 8,1% -0,8 ponto percentual acima da média dos emergentes (7,3%). Pior, a taxa de risco Brasil levou, por arbitragem,
ao aumento da dívida pública, e
não o contrário.
Tenani vai buscar a explicação
na Teoria de Portfólio. Por ela, o
risco total de qualquer investimento divide-se em duas partes
distintas: o risco não-sistêmico e
o risco sistêmico.
Não-sistêmicos são os riscos
inerentes ao investimento -no
caso do Brasil, os tais "fundamentos" da economia. Sistêmicos, os riscos inerentes ao mercado como um todo.
Para combater riscos não-sistêmicos, a Teoria do Portfólio indica a diversificação de carteiras. Para combater os riscos sistêmicos, indica a diversificação
em ativos contracíclicos (aqueles
que vão bem quando a economia geral vai mal e vice-versa).
A correlação entre o risco do
ativo e do mercado é dada pelo
"coeficiente beta". Quanto
maior (mais perto de um), significa que está mais colado no risco sistêmico e menos atraente é
para o investidor -que passa,
então, a exigir uma taxa de retorno maior.
Tenani montou um gráfico
com o universo de 25 países
emergentes que compõem o Embi Global. O Brasil está destacado no gráfico, com uma taxa de
risco de 5,2% e um beta de 0,95.
Pelo menos 35% das variações
do risco Brasil podem ser explicadas por seu beta, diz ele.
Toda vez que a economia global vai mal, os fundos se desfazem de seus ativos cíclicos. E o
Brasil, com seu coeficiente beta
de 0,95, é o primeiro a dançar. É
esse fenômeno que explica o aumento do risco Brasil, e não os
fundamentos da economia.
"Essa conclusão sugere uma lição aos formuladores de política
econômica do Brasil; pois os fundamentos domésticos devem ser
aperfeiçoados simplesmente pelo
bem do país, e não com um olho
na diminuição da taxa de risco",
conclui ele.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Artigo: "O Caminho da Servidão" evidencia o legado de Hayek Próximo Texto: Inflação: Prévia mostra IGP-M estável Índice
|