São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

País deve importar mais para ter crescimento contínuo, diz Fishlow

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO

O brazilianista Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia, de Nova York, afirmou ontem que o Brasil não deve ficar tão dependente das exportações e defendeu que, para ter crescimento sustentável, o país deve aumentar as importações.
Na visão de Fishlow, em vez de correr atrás de superávit na conta corrente (transações de bens e serviços com o exterior), o país poderia se dar ao luxo de ter déficit da ordem de 1,5% a 2% do PIB (Produto Interno Bruto). Nos últimos 12 meses, o saldo em transações correntes é de US$ 9 bilhões, representando 1,7% do PIB.
"O Brasil agora não tem de acreditar só nas exportações, não vejo motivo para criar uma dependência excessiva das exportações", disse. "Exportações são a maneira de pagar as importações, que são necessárias para o crescimento sustentável."
Fishlow participou ontem no Rio de Janeiro do seminário "Comércio Internacional e Desenvolvimento", em comemoração dos 40 anos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Também estava presente o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, fundador do Ipea e agraciado com uma homenagem especial.
Para o brazilianista, melhor do que o país crescer 15% reais nas exportações, como ocorre hoje, seria obter taxa contínua de 10%, sem grandes oscilações.
"A importância das exportações para o Brasil é exatamente a possibilidade de importar os bens de capital necessários para as empresas ampliarem e modernizarem a capacidade instalada e, assim, o país ter crescimento contínuo e sustentável. Se o Brasil está pensando que as exportações vão criar os empregos necessários, que as exportações vão criar a taxa de crescimento adequada, acho que não é verdade."
Segundo ele, os países asiáticos, como o Coréia do Sul, conseguiram embasar seu crescimento nas exportações porque o mundo estava em expansão. "No mundo duvidoso que vejo hoje, acho que a concentração sobre as exportações, deixando de lado o mercado interno, não faz sentido."
Fishlow defende o aumento da poupança doméstica e da taxa de investimento. Segundo o Ipea, a taxa deve ficar entre 19% e 20% do PIB em 2004. "Para satisfazer os problemas sociais, temos de ter uma taxa contínua de investimento de 24% a 25% do PIB."


Texto Anterior: Pirataria: EUA acusam o Brasil de "mistificação"
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.