São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2005

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ECONOMIA GLOBAL

Equipe econômica mostrará avanços para tentar convencer agências de risco, mas crise política atrapalha

País fará lobby nos EUA por "rating" melhor

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

De olho numa possível reavaliação do "rating" (nota) atribuída ao Brasil pelas agências internacionais de classificação de risco, o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, embarcou ontem para Washington com uma gravata "verde-esperança" na mala. Segundo o próprio Levy, o traje foi escolhido especialmente para a ocasião e acompanha uma série de números sobre a economia brasileira.
Nos EUA, Levy e os principais representantes da área econômica participarão da reunião anual conjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Paralelamente, acontecerá uma série de encontros com investidores estrangeiros e agências de classificação de risco.
Nessas ocasiões, com os novos dados mostrando a melhora no crescimento da economia, o recuo da inflação e a consistência do saldo comercial, Levy, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pretendem convencer o público externo de que o Brasil está melhor do que aparece na foto.
Quanto melhor o "rating" dado pela agência, menor o custo de empréstimos. O Brasil ainda está classificado como "grau especulativo", em média três notas abaixo do "grau de investimento".
Otimismo na equipe brasileira não falta. A gravata "pode ser entendida assim", brincou Levy. Ontem, boatos de uma possível melhora na nota brasileira animaram o mercado financeiro. Isso é o que falta para consolidar as teses de que a economia do país conseguirá seguir alheia à crise que corrói politicamente o governo.
"Tivemos avanços importantes. Os indicadores apontam para consolidação de um cenário positivo. Quando isso vai se refletir no "rating", não sei dizer", disse. Para ele, o mercado já percebe as melhoras e isso se refletiu na primeira emissão, nesta semana, de títulos da dívida externa em real.
Ainda assim, Levy defendeu uma maior atuação do setor empresarial para ajudar na melhora da classificação de risco. "Para algumas agências, um fator essencial é entender a transformação do setor industrial brasileiro, que saiu de uma economia fechada, com distorções inflacionárias, e hoje é outro país. O setor produtivo pode projetar essa robustez."
Alguns analistas, porém, acreditam que as agências ainda devem esperar o desfecho da crise política. "É o custo da crise para a economia", diz Nuno Câmara, economista para a América Latina do DresdnerBank, em Nova York. "Os fundamentos da economia, sem dúvida, justificariam uma revisão da nota. Mas ainda persistem nuvens de incertezas em relação à situação política", afirma.
Para o economista, embora o mercado financeiro não trabalhe com a possibilidade de mudanças na política econômica por causa da crise e isso não esteja refletido no preço dos ativos negociados diariamente, há a avaliação de que o Brasil está perdendo um tempo importante para aprovar reformas e medidas para assegurar o crescimento sustentável.
(SHEILA D'AMORIM)


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