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LUÍS NASSIF
A emissão do Tesouro
e os juros
Mensalmente ocorre
uma reunião em São
Paulo de economistas de alto
nível ligados ao mercado e à
economia real, o grupo "Tornos
e Planilhas". A reunião deste
mês rendeu uma discussão movimentada sobre os rumos da
política monetária.
Por problemas de espaço, vou
me fixar, hoje, na apresentação
de Paulo Tenani, do UBS. Sua
visão é que não pode existir inflação de demanda com superávit em conta corrente e superávit primário -esse superávit
significa excesso de oferta, não
de demanda.
Sua aposta é que as taxas de
juros irão subir bem menos e
cair muito mais do que acreditam aquelas pessoas que apostam em inflação de demanda.
Embora julgue que poderiam
cair abruptamente, não aposta
no prazo -porque depende
muito da cabeça do BC-, mas
no limite de baixa: 13% no final
do ciclo de queda.
Em um cenário de liquidez internacional ampla, a UBS aposta em taxas americanas por volta de 4,7% ao ano para papéis
de dez anos. Com isso, será difícil a taxa de risco Brasil ficar
acima de 300 pontos (ou três
pontos percentuais). Ainda
mais se ocorrer o aguardado
upgrade do país por agências de
risco. Enquanto o cenário internacional apontar riscos nas
moedas fortes, como dólar, euro
e iene, os grandes investidores
continuarão tomando risco em
todos os países do mundo.
Em sua opinião, o lançamento dos títulos do Tesouro em
reais poderá representar um
novo tempo do jogo das taxas.
Até agora ocorreram dois rallies
dos juros. O primeiro ciclo é
quando a liquidez internacional derruba as taxas de juros
em dólar para as captações externas. A segunda parte é quando as taxas de juros internacionais derrubam as taxas internas.
Hoje em dia há dois agentes
formadores de taxas, mas
atuando de forma desbalanceada: o Banco Central e o Tesouro.
A política monetária do BC machuca o Tesouro, aumentando
o custo de rolagem da dívida.
Do lado privado, também há
dois agentes relevantes. Em geral, os estrangeiros aceitam jogar os juros para baixo; mas os
investidores domésticos, acostumados com taxas mais altas,
empurram os juros para cima
-e essa pressão acaba sancionada pelo BC. Por enquanto é o
investidor doméstico, aliado ao
BC, que tem vencido a queda-de-braço -e mantido as taxas
elevadas.
Com o Tesouro indo comprar
lá fora, colocando títulos -ainda que em reais-, aumenta a
força do investidor externo para
"amassar" a taxa de juros interna, porque aceitará uma taxa
menor, em razão do risco cambial com moedas fortes e da necessidade de variar seu portfólio. Com isso, aumenta a capacidade de arbitragem das taxas
de juros, forçando a uma queda
mais acelerada das taxas internas.
A UBS chegou a recomendar a
seus clientes que aceitassem um
yeld de até 11,5% na recente
emissão do BC -que acabou
pagando 12,5% ao ano. A única
cautela é que, devido ao atual
carregamento de juros, os investidores optassem por papéis de
prazos mais longos, para minimizar os riscos de oscilação.
Sua aposta é de taxa de câmbio na faixa de R$ 2,30 a R$ 2,40
por bom tempo.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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