São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2005

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LUÍS NASSIF

A emissão do Tesouro e os juros

Mensalmente ocorre uma reunião em São Paulo de economistas de alto nível ligados ao mercado e à economia real, o grupo "Tornos e Planilhas". A reunião deste mês rendeu uma discussão movimentada sobre os rumos da política monetária.
Por problemas de espaço, vou me fixar, hoje, na apresentação de Paulo Tenani, do UBS. Sua visão é que não pode existir inflação de demanda com superávit em conta corrente e superávit primário -esse superávit significa excesso de oferta, não de demanda.
Sua aposta é que as taxas de juros irão subir bem menos e cair muito mais do que acreditam aquelas pessoas que apostam em inflação de demanda. Embora julgue que poderiam cair abruptamente, não aposta no prazo -porque depende muito da cabeça do BC-, mas no limite de baixa: 13% no final do ciclo de queda.
Em um cenário de liquidez internacional ampla, a UBS aposta em taxas americanas por volta de 4,7% ao ano para papéis de dez anos. Com isso, será difícil a taxa de risco Brasil ficar acima de 300 pontos (ou três pontos percentuais). Ainda mais se ocorrer o aguardado upgrade do país por agências de risco. Enquanto o cenário internacional apontar riscos nas moedas fortes, como dólar, euro e iene, os grandes investidores continuarão tomando risco em todos os países do mundo.
Em sua opinião, o lançamento dos títulos do Tesouro em reais poderá representar um novo tempo do jogo das taxas. Até agora ocorreram dois rallies dos juros. O primeiro ciclo é quando a liquidez internacional derruba as taxas de juros em dólar para as captações externas. A segunda parte é quando as taxas de juros internacionais derrubam as taxas internas.
Hoje em dia há dois agentes formadores de taxas, mas atuando de forma desbalanceada: o Banco Central e o Tesouro. A política monetária do BC machuca o Tesouro, aumentando o custo de rolagem da dívida.
Do lado privado, também há dois agentes relevantes. Em geral, os estrangeiros aceitam jogar os juros para baixo; mas os investidores domésticos, acostumados com taxas mais altas, empurram os juros para cima -e essa pressão acaba sancionada pelo BC. Por enquanto é o investidor doméstico, aliado ao BC, que tem vencido a queda-de-braço -e mantido as taxas elevadas.
Com o Tesouro indo comprar lá fora, colocando títulos -ainda que em reais-, aumenta a força do investidor externo para "amassar" a taxa de juros interna, porque aceitará uma taxa menor, em razão do risco cambial com moedas fortes e da necessidade de variar seu portfólio. Com isso, aumenta a capacidade de arbitragem das taxas de juros, forçando a uma queda mais acelerada das taxas internas.
A UBS chegou a recomendar a seus clientes que aceitassem um yeld de até 11,5% na recente emissão do BC -que acabou pagando 12,5% ao ano. A única cautela é que, devido ao atual carregamento de juros, os investidores optassem por papéis de prazos mais longos, para minimizar os riscos de oscilação.
Sua aposta é de taxa de câmbio na faixa de R$ 2,30 a R$ 2,40 por bom tempo.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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