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"Ninguém sabe de onde virá a próxima crise", afirma professor
Para Jagdish Bhagwati, ações anticrise devem considerar efeitos negativos
BRUNO REIS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para o professor de economia da Universidade de Columbia (EUA) Jagdish Bhagwati,
ninguém pode prever de onde
virá a próxima crise. Ele ressalta, porém, que as medidas geralmente usadas para enfrentar
as turbulências, tanto no caso
atual como nas crises anteriores, costumam ser tomadas
sem "estudo" e "reflexão" sobre
suas conseqüências. Segundo
ele, em "nenhum dos casos se
conseguiu administrar o lado
negativo [dessas ações]."
Bhagwati diz que a inovação
na política financeira não deve
ultrapassar o "entendimento
dos possíveis "downsides'".
Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Folha.
FOLHA - Qual é a sua opinião sobre
a crise vivida nos Estados Unidos?
JAGDISH BHAGWATI - A crise é
realmente grande porque leva
ao pânico uma imensa parcela
de pessoas que possuem qualquer tipo de aplicação nos bancos ou em fundos, ou aquelas
que pagam hipotecas de suas
casas, o que inclui uma parcela
significativa da população dos
Estados Unidos. Leva também
ao pânico os bancos, tanto comerciais quanto de investimentos, que correm o risco de
falir. Meu contador, um homem esperto, me disse que eu
deveria retirar meu dinheiro
dos fundos e abrir diversas contas, cada uma com depósitos de
US$ 100 [o limite de valor coberto pelo Seguro de Deposito
Federal].
Independente da pessoa com
quem você conversar, o sentimento generalizado é de que a
crise atual lembra a grande crise de 1929.
Entretanto, não há paralelo
real. A situação atual é complexa, mas está sendo contida. No
inicio, a crise de 1929 resultou
em terríveis conseqüências, em
desemprego maciço e depressão econômica. Até o momento, as demissões têm acontecido apenas nos bancos. A taxa de
desemprego não foi afetada de
maneira significativa.
Segundo, a situação de 1929
testemunhou uma politica monetária restritiva o que acentuou a depressão.
Terceiro, as políticas comerciais enlouqueceram em 1930
com a instituição da tarifa
"Smoot-Hawley" [que elevou as
tarifas sobre produtos importados] por parte dos Estados Unidos, o que provocou retaliações
de outros países.
Quarto, os responsáveis pela
elaboração das politicas econômicas, liderados pelo presidente do Fed (Federal Reserve, o
banco central dos EUA), Ben
Bernanke, e o Secretario do Tesouro, Henry Paulson, são totalmente pragmáticos e determinados a fazer o que for necessário para encerrar a crise
imediatamente.
FOLHA - O que podemos aprender
com a crise atual para ajudar na prevenção de crises futuras?
BHAGWATI - Ninguém sabe de
onde virá a próxima crise. Nos
últimos tempos, tivemos quatro grandes turbulências: a chamada "segunda-feira negra", em
outubro de 1997, quando os
mercados despencaram e todos
acharam que o próprio capitalismo tinha desmoronado junto. Mas não foi daquela vez.
Depois veio a crise do fundo
LTCM [Long Term Capital Management], hedge fund que super alavancou seus investimentos e gerou um grande temor de
que a crise atingisse todo o sistema, por conta do altíssimo
envolvimento de bancos e fundos de pensão. Tivemos também a crise do leste asiático,
que começou em julho de 1997
e durou ate 1998. Finalmente
chegamos à crise atual.
Qual e o tema recorrente?
Em cada situação, nos entregamos sem pensar à euforia que
surge com cada inovação da política financeira.
Em resumo, em quase todos
os casos, o problema foi que novos instrumentos e politicas financeiras foram implementados sem suficiente estudo e reflexão sobre seus efeitos e conseqüências. Em nenhum dos
casos, se conseguiu administrar o lado negativo.
O que eu considero ser a
maior lição disso tudo é que a
inovação não ultrapasse o entendimento dos possíveis
"downsides".
FOLHA - As medidas atuais são adequadas para resolver a crise?
BHAGWATI - Acho que Bernanke
e Paulson estão agindo corretamente. Intervieram com firmeza, tomando todas as medidas
possíveis. Se eu fosse um cartunista, desenharia uma charge
colocando a crise do subprime
como o bebê de Rosemary, dentro de uma banheira. Bernanke
e Paulson, estariam ao lado da
banheira segurando mangueiras com os dizeres: política monetária, política fiscal, nacionalização de Freddie Mac and
Fanny Mae, e por último, RTC.
Evidentemente, Bernanke e
Paulson tem uma tarefa gigantesca e ninguém sabe a real dimensão da crise, nem agora
nem depois que as medidas
adotadas começarem a surtir
efeito, revertendo a falta de
confiança que abala seriamente
o sistema.
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