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EUA propõem ao G20 novo equilíbrio global
Casa Branca quer que países com elevado saldo comercial, como China, Japão e Alemanha, consumam e importem mais
Governo Obama tenta obter apoio de emergentes no encontro de cúpula desta semana acenando com maior voz a eles no FMI
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Os norte-americanos vão
tentar convencer os países
membros do G20 nesta semana
em Pittsburgh, nos EUA, a aceitarem uma proposta ambiciosa
com o objetivo de reequilibrar
as contas externas das maiores
economias do mundo.
Em resumo, as economias
que têm hoje elevados superávits comerciais (como China,
Japão e Alemanha) se comprometeriam a estimular seu mercado interno para depender
menos dos EUA e absorver
mais exportações de países deficitários (dos EUA, principalmente, do Reino Unido e da Índia, por exemplo).
Acordos semelhantes já foram tentados no passado. Não
obtiveram sucesso principalmente diante da resistência da
China, que tem uma taxa de
câmbio artificial para estimular
suas exportações.
Dessa vez, no entanto, os
EUA querem convencer chineses e outros emergentes a se
engajarem na proposta acenando com uma considerável mudança no peso dos países em
desenvolvimento no FMI
(Fundo Monetário Internacional) e no Banco Mundial.
Em vez de uma participação
de 57% das economias avançadas e 43% dos emergentes no
Fundo, a divisão entre os dois
blocos ficaria meio a meio. Os
EUA são os maiores sócios do
Fundo, com cota de 17,5%.
Outra contrapartida norte-americana seria o compromisso de reduzir rapidamente seu
deficit público. Isso eliminaria
o temor de países (principalmente China) que têm trilhões
de dólares aplicados em títulos
do Tesouro dos EUA.
A maior resistência ao plano,
batizado de "Programa para o
Crescimento Sustentado e
Equilibrado", ainda parte da
União Europeia.
Especialmente porque o aumento das cotas dos emergentes no FMI e no Banco Mundial
se daria principalmente pela
redução do peso de alguns países do bloco europeu.
Para tentar convencer os europeus, os EUA também acenam com a imposição de limites para o pagamento de compensações a executivos de bancos em seu país.
Esta é uma das exigências das
duas maiores economias europeias (França e Alemanha) para levar adiante um acordo
mais abrangente no G20.
Ainda não está claro como
seria o formato geral do plano,
mas uma das principais ideias é
que o próprio FMI estabeleça
metas de deficit e superávit para vários países de forma a reequilibrar o papel de importadores e exportadores na economia global.
O plano não prevê um sistema de punições para quem não
atingir ou não caminhar no
sentido das metas. Mas elas seriam cobradas, acompanhadas
ou revistas em encontros periódicos no FMI. Na prática, os
representantes dos países no
Fundo já operam como uma espécie de secretariado do G20.
Os EUA também vêm sendo
muito incisivos junto aos líderes de outros países ao dizer
que eles não poderão mais contar com o mercado norte-americano funcionando como um
grande "aspirador" da produção e exportação globais.
Os americanos sinalizam
também que haverá estímulos
internos para que as famílias
poupem mais e reduzam o nível
recorde de endividamento
-que está na raiz desta crise.
Em carta dirigida a outros
membros do G20 há alguns
dias, Michael Froman, assessor
sênior da Casa Branca para assuntos econômicos, disse:
"Assim que as poupanças pública e privada começarem a
crescer nos EUA, o mundo sofrerá com um crescimento menor, a não ser que os outros países do G20 estimulem políticas
de crescimento de seu mercado
doméstico."
Os EUA contam ainda com o
temor de uma estagnação global ou de uma nova crise de
grandes proporções para tentar
aprovar a sua proposta.
Segundo um membro da
equipe brasileira, a proposta
norte-americana ainda não
chegou a ser discutida formalmente pelos membros do G20.
Colaborou CLÓVIS ROSSI , enviado especial a
Pittsburgh
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