São Paulo, terça-feira, 22 de setembro de 2009

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EUA propõem ao G20 novo equilíbrio global

Casa Branca quer que países com elevado saldo comercial, como China, Japão e Alemanha, consumam e importem mais

Governo Obama tenta obter apoio de emergentes no encontro de cúpula desta semana acenando com maior voz a eles no FMI

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Os norte-americanos vão tentar convencer os países membros do G20 nesta semana em Pittsburgh, nos EUA, a aceitarem uma proposta ambiciosa com o objetivo de reequilibrar as contas externas das maiores economias do mundo.
Em resumo, as economias que têm hoje elevados superávits comerciais (como China, Japão e Alemanha) se comprometeriam a estimular seu mercado interno para depender menos dos EUA e absorver mais exportações de países deficitários (dos EUA, principalmente, do Reino Unido e da Índia, por exemplo).
Acordos semelhantes já foram tentados no passado. Não obtiveram sucesso principalmente diante da resistência da China, que tem uma taxa de câmbio artificial para estimular suas exportações.
Dessa vez, no entanto, os EUA querem convencer chineses e outros emergentes a se engajarem na proposta acenando com uma considerável mudança no peso dos países em desenvolvimento no FMI (Fundo Monetário Internacional) e no Banco Mundial.
Em vez de uma participação de 57% das economias avançadas e 43% dos emergentes no Fundo, a divisão entre os dois blocos ficaria meio a meio. Os EUA são os maiores sócios do Fundo, com cota de 17,5%.
Outra contrapartida norte-americana seria o compromisso de reduzir rapidamente seu deficit público. Isso eliminaria o temor de países (principalmente China) que têm trilhões de dólares aplicados em títulos do Tesouro dos EUA.
A maior resistência ao plano, batizado de "Programa para o Crescimento Sustentado e Equilibrado", ainda parte da União Europeia.
Especialmente porque o aumento das cotas dos emergentes no FMI e no Banco Mundial se daria principalmente pela redução do peso de alguns países do bloco europeu.
Para tentar convencer os europeus, os EUA também acenam com a imposição de limites para o pagamento de compensações a executivos de bancos em seu país.
Esta é uma das exigências das duas maiores economias europeias (França e Alemanha) para levar adiante um acordo mais abrangente no G20.
Ainda não está claro como seria o formato geral do plano, mas uma das principais ideias é que o próprio FMI estabeleça metas de deficit e superávit para vários países de forma a reequilibrar o papel de importadores e exportadores na economia global.
O plano não prevê um sistema de punições para quem não atingir ou não caminhar no sentido das metas. Mas elas seriam cobradas, acompanhadas ou revistas em encontros periódicos no FMI. Na prática, os representantes dos países no Fundo já operam como uma espécie de secretariado do G20.
Os EUA também vêm sendo muito incisivos junto aos líderes de outros países ao dizer que eles não poderão mais contar com o mercado norte-americano funcionando como um grande "aspirador" da produção e exportação globais.
Os americanos sinalizam também que haverá estímulos internos para que as famílias poupem mais e reduzam o nível recorde de endividamento -que está na raiz desta crise.
Em carta dirigida a outros membros do G20 há alguns dias, Michael Froman, assessor sênior da Casa Branca para assuntos econômicos, disse:
"Assim que as poupanças pública e privada começarem a crescer nos EUA, o mundo sofrerá com um crescimento menor, a não ser que os outros países do G20 estimulem políticas de crescimento de seu mercado doméstico."
Os EUA contam ainda com o temor de uma estagnação global ou de uma nova crise de grandes proporções para tentar aprovar a sua proposta.
Segundo um membro da equipe brasileira, a proposta norte-americana ainda não chegou a ser discutida formalmente pelos membros do G20.


Colaborou CLÓVIS ROSSI , enviado especial a Pittsburgh


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