São Paulo, Sexta-feira, 22 de Outubro de 1999
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PROTECIONISMO

Importadores acusam governo de reter produto brasileiro na aduana para proteger industriais locais

Proibição a calçado pode ser manobra

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

Os importadores argentinos acreditam que o atraso na liberação dos mais de 1 milhão de pares de sapatos brasileiros retidos na alfândega é uma manobra para proteger os industriais locais.
Se a tese da Capcica (associação que reúne os importadores argentinos) estiver certa, hipótese que a diplomacia brasileira prefere descartar para evitar mais um conflito com o vizinho, metade da estratégia já funcionou.
No último domingo, os argentinos comemoraram o Dia das Mães, época em que as vendas aumentam. Os importadores estavam com mercadorias na aduana e tiveram prejuízos, segundo Juan Dumas, presidente da Capcica.
A chancelaria argentina nega que a demora tenha sido deliberada. Alega que a demora se deveu aos trâmites burocráticos normais. Caso a hipótese de conspiração da Capcica esteja correta, a segunda metade da manobra ainda não foi concluída.
Em acordo firmado no final do mês passado, entre empresários dos dois países, ficou acertado que o Brasil poderia vender 1,7 milhão de pares até o final do ano. As cotas mensais são 680 mil, em outubro, 680 mil, em novembro, e 340 mil, em dezembro. Se em outubro o Brasil vender menos de 680 mil sapatos, o saldo não pode ser compensado no mês seguinte, ou seja, no final do ano, a cota total será menor que 1,7 milhão.
Segundo a chancelaria argentina, na quarta, 6 das 50 licenças pendentes foram liberadas, o que equivale a cerca de 50 mil pares. Ontem, era esperada a liberação de pelo menos mais 12 licenças, 300 mil pares. Até o fechamento dessa edição, as novas liberações não estavam confirmadas.
A demora significa que, nos próximos seis dias úteis, a Argentina precisará liberar outros 330 mil pares de sapato para que a cota acertada seja cumprida.
Na opinião de Dumas, o tempo está curto para conseguir a entrada dos 680 mil pares de sapatos que teoricamente o Brasil tem direito de colocar no mercado argentino até o final do mês.
No Brasil, os diplomatas preferem não acreditar na teoria conspirativa, que reiniciaria a guerra comercial no Mercosul.
A promessa do governo argentino de suspender o leilão de sapatos brasileiros retidos na aduana foi avaliado como um gesto de boa vontade pelos diplomatas. Como os sapatos estão há muito tempo estocados, seria permitida a venda da mercadoria para cobrir os custos de armazenagem
O Itamaraty, no entanto, insiste para que os trâmites burocráticos sejam acelerados e que a cota de outubro seja cumprida.
Até as 19h de ontem, a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) não havia sido comunicada por nenhum importador argentino da liberação de lotes de sapatos retidos na aduana.


Colaborou Carlos Alberto de Souza, da Agência Folha, em Porto Alegre


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