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PROTECIONISMO
Importadores acusam governo de reter produto brasileiro na aduana para proteger industriais locais
Proibição a calçado pode ser manobra
ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires
Os importadores argentinos
acreditam que o atraso na liberação dos mais de 1 milhão de pares
de sapatos brasileiros retidos na
alfândega é uma manobra para
proteger os industriais locais.
Se a tese da Capcica (associação
que reúne os importadores argentinos) estiver certa, hipótese que a
diplomacia brasileira prefere descartar para evitar mais um conflito com o vizinho, metade da estratégia já funcionou.
No último domingo, os argentinos comemoraram o Dia das
Mães, época em que as vendas aumentam. Os importadores estavam com mercadorias na aduana
e tiveram prejuízos, segundo Juan
Dumas, presidente da Capcica.
A chancelaria argentina nega
que a demora tenha sido deliberada. Alega que a demora se deveu
aos trâmites burocráticos normais. Caso a hipótese de conspiração da Capcica esteja correta, a
segunda metade da manobra ainda não foi concluída.
Em acordo firmado no final do
mês passado, entre empresários
dos dois países, ficou acertado
que o Brasil poderia vender 1,7
milhão de pares até o final do ano.
As cotas mensais são 680 mil, em
outubro, 680 mil, em novembro, e
340 mil, em dezembro. Se em outubro o Brasil vender menos de
680 mil sapatos, o saldo não pode
ser compensado no mês seguinte,
ou seja, no final do ano, a cota total será menor que 1,7 milhão.
Segundo a chancelaria argentina, na quarta, 6 das 50 licenças
pendentes foram liberadas, o que
equivale a cerca de 50 mil pares.
Ontem, era esperada a liberação
de pelo menos mais 12 licenças,
300 mil pares. Até o fechamento
dessa edição, as novas liberações
não estavam confirmadas.
A demora significa que, nos
próximos seis dias úteis, a Argentina precisará liberar outros 330
mil pares de sapato para que a cota acertada seja cumprida.
Na opinião de Dumas, o tempo
está curto para conseguir a entrada dos 680 mil pares de sapatos
que teoricamente o Brasil tem direito de colocar no mercado argentino até o final do mês.
No Brasil, os diplomatas preferem não acreditar na teoria conspirativa, que reiniciaria a guerra
comercial no Mercosul.
A promessa do governo argentino de suspender o leilão de sapatos brasileiros retidos na aduana
foi avaliado como um gesto de
boa vontade pelos diplomatas.
Como os sapatos estão há muito
tempo estocados, seria permitida
a venda da mercadoria para cobrir os custos de armazenagem
O Itamaraty, no entanto, insiste
para que os trâmites burocráticos
sejam acelerados e que a cota de
outubro seja cumprida.
Até as 19h de ontem, a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) não havia
sido comunicada por nenhum
importador argentino da liberação de lotes de sapatos retidos na
aduana.
Colaborou Carlos Alberto de Souza, da Agência Folha, em Porto Alegre
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