|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMPANHIAS AÉREAS
Principal argumento é que com os "céus abertos" não seria possível suportar a concorrência
Empresas vetam liberalizar espaço aéreo
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
Endividadas e ameaçadas de fusão, as companhias aéreas brasileiras encararam como um ataque
a proposta do secretário de Transportes dos EUA, Rodney Slater,
de liberalização do espaço aéreo
nacional.
O principal argumento das brasileiras é que a adoção de "céus
abertos" liquidaria a aviação nacional, estratégica num país de 8,5
milhões de quilômetros quadrados. Varig, Vasp, TAM e Transbrasil não suportariam a concorrência.
"Isso tornaria ainda mais vulneráveis as empresas aéreas brasileiras, que, juntas, não chegam a um
terço de cada uma das maiores
norte-americanas", disse o presidente da Vasp, Wagner Canhedo,
por meio de sua assessoria. "Nossa posição é de cautela", acrescentou.
Segundo dados do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias), as quatro grandes não
reúnem nem metade do tráfego
de passageiros da Delta, que é a
terceira no ranking dos EUA.
Em 1998, enquanto a maior
companhia brasileira, a Varig,
atingiu 26,1 bilhões pax.km (passageiros vezes quilometragem
voada), a Delta registrou 166,2 bilhões; a American Airlines, 175,2
bilhões; e a United Airlines, 200,4
bilhões.
A reciprocidade -liberalização
do espaço norte-americano para
as brasileiras- não compensaria,
porque há uma desproporção
enorme no tamanho das empresas e na própria economia dos
países.
Hoje, os acordos bilaterais entre
Brasil e Estados Unidos permitem
105 vôos entre os dois países, por
semana, para cada um. As companhias norte-americanas operam todas as suas 105 vezes. As
brasileiras, apenas 57.
Cerca de 80% do tráfego entre
Brasil e Estados Unidos é gerado
no Brasil. Isso significa que a esmagadora maioria dos passageiros são brasileiros ou residentes
no Brasil, transferindo divisas para o exterior.
As quatro empresas dos EUA
que operam para o Brasil -além
de United, American e Delta,
também a Continental- transportaram cerca de 60% dos passageiros entre os dois países no ano
passado.
Esse percentual é muito maior
hoje, por causa da desvalorização
do real. A Varig, por exemplo, encerrou as linhas para Atlanta e
Washington, nos EUA. A participação percentual das estrangeiras
aumentou.
A desvalorização do real foi um
duplo golpe para as nacionais: os
custos aumentaram, porque os
equipamentos são em dólar, e a
demanda caiu, porque as passagens internacionais são em dólar
e passaram a custar mais em reais.
Com a liberalização do espaço
aéreo, alegam as empresas nacionais, a entrada maciça das estrangeiras aumentaria drasticamente.
Até mesmo a Varig, a maior empresa aérea da América Latina e
considerada estratégica, ficaria
ameaçada.
Ainda na opinião dos dirigentes
das empresas nacionais, a receita
com vôos Brasil-EUA-Brasil é
quase insignificante para as estrangeiras, mas fundamental para
as brasileiras, que pagam proporcionalmente mais em impostos,
combustível e encargos sociais.
Segundo o Snea, a receita com
vôos internacionais chega a
63,7% do faturamento da Varig,
21,5% no caso da Vasp, 8,3% no
da Transbrasil e 6,5% no da TAM.
Para as norte-americanas, porém, estima-se que os vôos para o
Brasil signifiquem entre 1% e 2%,
se tanto. A diferença é que as brasileiras operam num mercado interno pobre, e as norte-americanas, num mercado 25 vezes
maior.
Texto Anterior: Para Graça Lima, retenção é apenas acidente de percurso Próximo Texto: Varig fica fora da Bolsa em São Paulo Índice
|