São Paulo, Sexta-feira, 22 de Outubro de 1999
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COMPANHIAS AÉREAS

Principal argumento é que com os "céus abertos" não seria possível suportar a concorrência

Empresas vetam liberalizar espaço aéreo

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

Endividadas e ameaçadas de fusão, as companhias aéreas brasileiras encararam como um ataque a proposta do secretário de Transportes dos EUA, Rodney Slater, de liberalização do espaço aéreo nacional.
O principal argumento das brasileiras é que a adoção de "céus abertos" liquidaria a aviação nacional, estratégica num país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Varig, Vasp, TAM e Transbrasil não suportariam a concorrência.
"Isso tornaria ainda mais vulneráveis as empresas aéreas brasileiras, que, juntas, não chegam a um terço de cada uma das maiores norte-americanas", disse o presidente da Vasp, Wagner Canhedo, por meio de sua assessoria. "Nossa posição é de cautela", acrescentou.
Segundo dados do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias), as quatro grandes não reúnem nem metade do tráfego de passageiros da Delta, que é a terceira no ranking dos EUA.
Em 1998, enquanto a maior companhia brasileira, a Varig, atingiu 26,1 bilhões pax.km (passageiros vezes quilometragem voada), a Delta registrou 166,2 bilhões; a American Airlines, 175,2 bilhões; e a United Airlines, 200,4 bilhões.
A reciprocidade -liberalização do espaço norte-americano para as brasileiras- não compensaria, porque há uma desproporção enorme no tamanho das empresas e na própria economia dos países.
Hoje, os acordos bilaterais entre Brasil e Estados Unidos permitem 105 vôos entre os dois países, por semana, para cada um. As companhias norte-americanas operam todas as suas 105 vezes. As brasileiras, apenas 57.
Cerca de 80% do tráfego entre Brasil e Estados Unidos é gerado no Brasil. Isso significa que a esmagadora maioria dos passageiros são brasileiros ou residentes no Brasil, transferindo divisas para o exterior.
As quatro empresas dos EUA que operam para o Brasil -além de United, American e Delta, também a Continental- transportaram cerca de 60% dos passageiros entre os dois países no ano passado.
Esse percentual é muito maior hoje, por causa da desvalorização do real. A Varig, por exemplo, encerrou as linhas para Atlanta e Washington, nos EUA. A participação percentual das estrangeiras aumentou.
A desvalorização do real foi um duplo golpe para as nacionais: os custos aumentaram, porque os equipamentos são em dólar, e a demanda caiu, porque as passagens internacionais são em dólar e passaram a custar mais em reais.
Com a liberalização do espaço aéreo, alegam as empresas nacionais, a entrada maciça das estrangeiras aumentaria drasticamente. Até mesmo a Varig, a maior empresa aérea da América Latina e considerada estratégica, ficaria ameaçada.
Ainda na opinião dos dirigentes das empresas nacionais, a receita com vôos Brasil-EUA-Brasil é quase insignificante para as estrangeiras, mas fundamental para as brasileiras, que pagam proporcionalmente mais em impostos, combustível e encargos sociais.
Segundo o Snea, a receita com vôos internacionais chega a 63,7% do faturamento da Varig, 21,5% no caso da Vasp, 8,3% no da Transbrasil e 6,5% no da TAM.
Para as norte-americanas, porém, estima-se que os vôos para o Brasil signifiquem entre 1% e 2%, se tanto. A diferença é que as brasileiras operam num mercado interno pobre, e as norte-americanas, num mercado 25 vezes maior.


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