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OPINIÃO ECONÔMICA
Linha de largada
BENJAMIN STEINBRUCH
A julgar pelas pesquisas, só
um milagre tira a eleição de
Lula. Tudo indica que o PT chegará ao poder com mais de 50 milhões de votos na eleição presidencial deste domingo. Então,
mesmo alertado pela máxima do
futebol de que o jogo só "acaba
quando termina", já dá para fazer algumas considerações sobre
as razões dessa provável vitória
de Lula e sobre as obrigações de
vencedores e vencidos.
O PT deve ir para o poder por
uma razão aparentemente simples: a população brasileira quer
mudar e entende que um grupo
político ligado à produção e ao
emprego, neste momento, é o
mais adequado para unir o país e
fazer as mudanças que a gestão
neoliberal de Fernando Henrique
Cardoso não conseguiu. Não há
nenhuma novidade nisso. No Reino Unido, por exemplo, os trabalhistas de Tony Blair ganharam o
governo depois das gestões conservadoras de Margaret Thatcher
e John Major. Sem querer comparar Blair com Lula, o fato é que,
nos dois casos, um partido mais à
esquerda foi guindado para reequilibrar o país depois de um largo período de reformas de viés
conservador.
Nessas condições, se as urnas
confirmarem as pesquisas, Lula
assumirá a Presidência com a responsabilidade de cumprir algumas tarefas que Fernando Henrique Cardoso não conseguiu. O desemprego é o maior eleitor de Lula. Ainda que o candidato do governo, José Serra, prometa criar 8
milhões de vagas, ele não consegue responder a uma pergunta
básica: por que seu partido não
fez isso nos oito anos de poder?
Então, caberá a Lula propor um
plano agressivo de estímulo ao
crescimento econômico para gerar empregos sem descuidar da
estabilização. Essa é uma tarefa
difícil para qualquer governo. Porém ela se torna impossível quando as autoridades, como as da
atual equipe econômica, não têm
apetite para priorizar o desenvolvimento. Quase todas as mazelas
brasileiras decorrem, em última
instância, da falta de empregos: a
fome, a desigualdade, a violência,
a deseducação e a precariedade
da saúde e da habitação. Só a
oferta de trabalho não resolve esses problemas, mas certamente os
atenua bastante.
Os que devem vencer a batalha
de domingo deveriam pensar numa coisa básica: não podem e não
devem tripudiar sobre os derrotados, exagerar nas comemorações
ou partir para provocações. Na
quarta-feira passada, no clássico
São Paulo e Santos, o jovem atacante santista Diego caiu na tentação de comemorar um gol do
Santos sobre o escudo do tricolor.
Provocou os jogadores adversários e criou grande confusão, porque pisou no símbolo do São Paulo. O PT, se de fato ganhar as eleições no domingo, não deve cometer o erro de pisar em símbolos
dos perdedores, até porque precisará deles para governar a partir
de 1º de janeiro. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, precisa ser preservado pelo que fez em
seus oito anos e pelo que ainda
pode ajudar a fazer.
Aos que devem perder, sempre
segundo as pesquisas, seria interessante lembrar que a guerra
acaba domingo. Eles já foram
acusados de promover "terrorismo eleitoral" durante a campanha e não podem cair na tentação de continuar na tática de
amedrontar e incendiar o país.
Lula, como qualquer outro que se
elegesse, enfrentará momentos difíceis: a inflação está em alta; a
economia, estagnada; e a credibilidade do Brasil no exterior, abalada, não só por razões econômico-financeiras mas também pela
violência e pela insegurança. Entre parênteses, vale citar aqui
uma frase que o professor da Universidade de Chicago e Prêmio
Nobel de Economia de 1992, Gary
S. Becker, escreveu em um artigo
sobre as eleições brasileiras na
"BusinessWeek" da semana passada: "O Rio de Janeiro foi a única cidade do mundo em que eu tive de tirar o relógio para caminhar em um bairro chique".
Por tudo isso, será desonesto começar a culpar Lula e o PT a partir de 1º de janeiro, ou mesmo já
antes da posse, por problemas que
não foram criados pelo seu governo. É preciso dar tempo aos vencedores.
A esses -e outra vez lembro
que faço esses comentários confiando nas pesquisas-, seria interessante lembrar que, terminada a batalha da eleição, no próximo domingo, terão chegado apenas à linha de largada.
Eu confio em que Lula, se tiver
apoio não ressentido da sociedade, inclusive das classes empresariais, poderá ser um grande presidente. Sem diploma universitário, mas com garra, honradez, coragem e sentimento nacional. O
Brasil precisa disso.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail -
bvictoria@psi.com.br
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