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BC fica de olho na expectativa da inflação futura para definir taxa
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto o mercado aposta em
nova queda dos juros hoje, o Banco Central observa um indicador
que inspira maior cautela daqui
para a frente: a expectativa dos investidores para a inflação futura
não cai há mais de dois meses -e
está em patamar superior à meta
fixada para 2004.
Segundo pesquisa realizada
constantemente pelo BC sobre as
projeções de bancos e consultorias, espera-se hoje que, nos próximos 12 meses, a inflação medida
pelo IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) acumule
6,27%, segundo o ponto médio
das respostas coletadas.
Trata-se de um índice praticamente idêntico ao apurado no início de agosto passado, de 6,11%,
mas superior aos 5,50% almejados para o próximo ano.
Os dados indicam uma guinada
nos resultados da política de juros, que é baseada no sistema de
metas de inflação e adota como
parâmetro o IPCA, calculado pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
De janeiro a agosto, o aperto
monetário patrocinado pelo BC
-que, nos dois primeiros meses,
do ano elevou os juros de 25% para 26,5% anuais- obteve uma
queda espetacular das expectativas de inflação futura, que haviam
iniciado o governo Luiz Inácio
Lula da Silva em 13,44% nos 12
meses seguintes.
Eliminados os temores do mercado quanto a um descontrole da
inflação, o Banco Central pôde
começar a redução dos juros em
junho, numa trajetória que, espera-se, deve continuar até o final do
ano. Os números do IPCA, porém, indicam que o ritmo de queda tende a se desacelerar.
A permanência, com pequenas
alterações para cima e para baixo,
das expectativas de inflação futura desde agosto mostra que se
consolida no mercado a projeção
de uma inflação no próximo ano
superior à meta fixada pelo BC.
Não por acaso, as pesquisas do
BC referentes às previsões para a
inflação em 2004 também convergem para o patamar de 6%.
Isso não significa necessariamente que a meta corra riscos
-mesmo porque há um intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais, o que torna aceitável um
IPCA de 8% em 2004. Mas se o
Banco Central pretende perseguir, como diz que pretende, o
centro da meta, a margem para
novas quedas fica menor.
Lógica da meta
Em um sistema de metas de inflação, a importância das expectativas do mercado é muito maior
do que parece. A própria lógica do
mecanismo estabelece que o Banco Central deve conquistar credibilidade para balizar essas expectativas, o que deve levar a inflação
ao nível almejado.
Em outras palavras: se investidores, empresas e trabalhadores
acreditam na meta fixada pelo
Banco Central, os reajustes de
preços e salários vão convergir
para os índices fixados, e a meta
será cumprida.
Foi justamente para recuperar a
credibilidade das metas de inflação que o Banco Central, surpreendendo vários analistas e
quase criando uma crise na base
política do governo, elevou os juros a 26,5% e os manteve assim
por mais tempo que o esperado.
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