UOL


São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC fica de olho na expectativa da inflação futura para definir taxa

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enquanto o mercado aposta em nova queda dos juros hoje, o Banco Central observa um indicador que inspira maior cautela daqui para a frente: a expectativa dos investidores para a inflação futura não cai há mais de dois meses -e está em patamar superior à meta fixada para 2004.
Segundo pesquisa realizada constantemente pelo BC sobre as projeções de bancos e consultorias, espera-se hoje que, nos próximos 12 meses, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumule 6,27%, segundo o ponto médio das respostas coletadas.
Trata-se de um índice praticamente idêntico ao apurado no início de agosto passado, de 6,11%, mas superior aos 5,50% almejados para o próximo ano.
Os dados indicam uma guinada nos resultados da política de juros, que é baseada no sistema de metas de inflação e adota como parâmetro o IPCA, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
De janeiro a agosto, o aperto monetário patrocinado pelo BC -que, nos dois primeiros meses, do ano elevou os juros de 25% para 26,5% anuais- obteve uma queda espetacular das expectativas de inflação futura, que haviam iniciado o governo Luiz Inácio Lula da Silva em 13,44% nos 12 meses seguintes.
Eliminados os temores do mercado quanto a um descontrole da inflação, o Banco Central pôde começar a redução dos juros em junho, numa trajetória que, espera-se, deve continuar até o final do ano. Os números do IPCA, porém, indicam que o ritmo de queda tende a se desacelerar.
A permanência, com pequenas alterações para cima e para baixo, das expectativas de inflação futura desde agosto mostra que se consolida no mercado a projeção de uma inflação no próximo ano superior à meta fixada pelo BC.
Não por acaso, as pesquisas do BC referentes às previsões para a inflação em 2004 também convergem para o patamar de 6%.
Isso não significa necessariamente que a meta corra riscos -mesmo porque há um intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais, o que torna aceitável um IPCA de 8% em 2004. Mas se o Banco Central pretende perseguir, como diz que pretende, o centro da meta, a margem para novas quedas fica menor.

Lógica da meta
Em um sistema de metas de inflação, a importância das expectativas do mercado é muito maior do que parece. A própria lógica do mecanismo estabelece que o Banco Central deve conquistar credibilidade para balizar essas expectativas, o que deve levar a inflação ao nível almejado.
Em outras palavras: se investidores, empresas e trabalhadores acreditam na meta fixada pelo Banco Central, os reajustes de preços e salários vão convergir para os índices fixados, e a meta será cumprida.
Foi justamente para recuperar a credibilidade das metas de inflação que o Banco Central, surpreendendo vários analistas e quase criando uma crise na base política do governo, elevou os juros a 26,5% e os manteve assim por mais tempo que o esperado.


Texto Anterior: Copom: Economia brasileira reage rápido a cortes nos juros
Próximo Texto: Panorâmica - Bancos: BB lança título agrícola na internet
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.