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TENSÃO PÓS-COPOM
Depois de Selic subir para 16,75%, presidente fala mal do governo FHC e diz que "não brinca" com a economia
Após críticas, Lula tenta tirar foco dos juros
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva afirmou ontem que "não
brinca" com a economia, que a
prioridade do seu governo é reduzir os juros ao consumidor e reiterou que seu projeto é permitir um
crescimento duradouro do país.
A fala de Lula aconteceu um dia
depois de o Banco Central ter elevado a taxa básica de juros, Selic,
de 16,25% para 16,75% ao ano.
Anteontem, o presidente não falara sobre a decisão.
A decisão provocou uma avalanche de críticas do setor produtivo, do varejo e de sindicatos. E
abriu uma crise dentro da equipe
econômica. Membros do Ministério da Fazenda e do BC trocaram farpas, não públicas, e discutem se o aperto foi correto ou não.
O próprio presidente ficou contrariado com a decisão do BC, segundo a Folha apurou. Primeiro,
era contra aumentar os juros, temendo interrupção do crescimento. Convencido pelo ministro
da Fazenda, Antonio Palocci Filho, da necessidade da alta, foi
surpreendido pela sua dimensão.
Em público, porém, o presidente tentou tirar o foco da decisão,
durante a posse do presidente da
Firjan (Federação das Indústrias
do Estado do Rio de Janeiro),
Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.
"Eu não ia falar, mas vou dar
um dado. Eu fico pensando, todo
mundo fala de juros, juros, juros.
De vez em quando, vejo meus
companheiros fazerem discurso
porque a taxa Selic está muito alta.
É muito engraçado, porque o consumidor ia num lugar comprar
uma geladeira e pagava 150% de
juros. Nunca vi ninguém defender o consumidor."
A Selic referencia os demais juros praticados no país. À medida
que ela aumenta, as taxas cobradas dos consumidores sobem.
O presidente defendeu ainda a
decisão do BC do ponto de vista
político, uma vez que o segundo
turno das eleições municipais
acontece no final do mês. "Eu não
quero tomar nenhuma atitude
que signifique um gesto eleitoral."
Segundo ele, o Brasil já perdeu
duas vezes por decisões pensadas
eleitoralmente. "Se o presidente
Fernando Henrique Cardoso, nas
eleições de 98, tivesse mudado a
política cambial, não teriam fugido US$ 10 bilhões em poucas horas neste país", disse, relembrando a disputa presidencial na qual
FHC foi reeleito. A eleição foi em
outubro. Em janeiro de 1999, houve a desvalorização do real.
No início do discurso, que durou cerca de 50 minutos, Lula disse que, desde a posse, decidiu
"não ficar falando do governo
passado", que, segundo ele, já foi
julgado na eleição de 2002. Vinte
minutos depois, citou FHC.
As declarações relacionadas às
eleições municipais foram dadas
quando citou o fato de seu governo ter aumentado a meta fiscal
deste ano de 4,25% para 4,5% do
PIB (Produto Interno Bruto).
"A eleição municipal, por mais
importante que ela seja, não irá
fazer com que o governo tome nenhuma atitude em função dela",
afirmou. "O povo está cansado.
Esse povo não pode viver subordinado a mentiras. Já mentiram
demais, já prometeram demais, já
falaram demais." Em seguida, cometeu um deslize: "E esse povo
continua, a cada dia, vendo que a
sua situação está mais difícil".
(GABRIELA WOLTHERS)
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