São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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TENSÃO PÓS-COPOM

Depois de Selic subir para 16,75%, presidente fala mal do governo FHC e diz que "não brinca" com a economia

Após críticas, Lula tenta tirar foco dos juros

DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que "não brinca" com a economia, que a prioridade do seu governo é reduzir os juros ao consumidor e reiterou que seu projeto é permitir um crescimento duradouro do país.
A fala de Lula aconteceu um dia depois de o Banco Central ter elevado a taxa básica de juros, Selic, de 16,25% para 16,75% ao ano. Anteontem, o presidente não falara sobre a decisão.
A decisão provocou uma avalanche de críticas do setor produtivo, do varejo e de sindicatos. E abriu uma crise dentro da equipe econômica. Membros do Ministério da Fazenda e do BC trocaram farpas, não públicas, e discutem se o aperto foi correto ou não.
O próprio presidente ficou contrariado com a decisão do BC, segundo a Folha apurou. Primeiro, era contra aumentar os juros, temendo interrupção do crescimento. Convencido pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, da necessidade da alta, foi surpreendido pela sua dimensão.
Em público, porém, o presidente tentou tirar o foco da decisão, durante a posse do presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.
"Eu não ia falar, mas vou dar um dado. Eu fico pensando, todo mundo fala de juros, juros, juros. De vez em quando, vejo meus companheiros fazerem discurso porque a taxa Selic está muito alta. É muito engraçado, porque o consumidor ia num lugar comprar uma geladeira e pagava 150% de juros. Nunca vi ninguém defender o consumidor."
A Selic referencia os demais juros praticados no país. À medida que ela aumenta, as taxas cobradas dos consumidores sobem.
O presidente defendeu ainda a decisão do BC do ponto de vista político, uma vez que o segundo turno das eleições municipais acontece no final do mês. "Eu não quero tomar nenhuma atitude que signifique um gesto eleitoral."
Segundo ele, o Brasil já perdeu duas vezes por decisões pensadas eleitoralmente. "Se o presidente Fernando Henrique Cardoso, nas eleições de 98, tivesse mudado a política cambial, não teriam fugido US$ 10 bilhões em poucas horas neste país", disse, relembrando a disputa presidencial na qual FHC foi reeleito. A eleição foi em outubro. Em janeiro de 1999, houve a desvalorização do real.
No início do discurso, que durou cerca de 50 minutos, Lula disse que, desde a posse, decidiu "não ficar falando do governo passado", que, segundo ele, já foi julgado na eleição de 2002. Vinte minutos depois, citou FHC.
As declarações relacionadas às eleições municipais foram dadas quando citou o fato de seu governo ter aumentado a meta fiscal deste ano de 4,25% para 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto).
"A eleição municipal, por mais importante que ela seja, não irá fazer com que o governo tome nenhuma atitude em função dela", afirmou. "O povo está cansado. Esse povo não pode viver subordinado a mentiras. Já mentiram demais, já prometeram demais, já falaram demais." Em seguida, cometeu um deslize: "E esse povo continua, a cada dia, vendo que a sua situação está mais difícil". (GABRIELA WOLTHERS)


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