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BASTIDORES
Alta causa conflito interno
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A elevação da taxa básica
de juros acima do esperado
desencadeou conflitos no governo. O ministro da Casa Civil, José
Dirceu, reclamou ontem da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) em conversa com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E as equipes do Ministério da
Fazenda e do Banco Central trocam críticas nos bastidores a respeito da correção da medida.
Do ponto de vista público, a cúpula do governo vai procurar abafar a versão de conflitos internos a
respeito da decisão de anteontem,
que elevou a Selic de 16,25% para
16,75% ao ano. Nos bastidores,
porém, a "confusão" já começou.
Cobrado por Lula a dar explicações, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse a ele que
os dois últimos aumentos da Selic
(de 0,25 ponto percentual em setembro e de 0,50 ponto agora) foram uma forma de combater uma
"bolha inflacionária" e que, no
início de 2005, será retomada a
trajetória de queda da taxa.
Lula era contra os dois aumentos, o que manifestou a Palocci e a
Henrique Meirelles, presidente
do BC, mas não teve sua opinião
levada em conta pelo Copom. A
segunda alta (0,50 ponto) o surpreendeu e o contrariou. Mas, como de hábito, ele mantém o apoio
público ao Banco Central, dizendo que prefere fazer as coisas com
calma, mas fazê-las direito.
Nas conversas internas, porém,
o tom das manifestações dos
membros do governo é oposto. A
começar da Fazenda, em que o secretário de Política Econômica,
Marcos Lisboa, e o secretário do
Tesouro, Joaquim Levy, criticam
a atuação de Afonso Bevilaqua,
que até a reunião do Copom comandava interinamente a diretoria de Política Monetária e que,
com a chegada de Rodrigo Azevedo, reassumiu ontem a diretoria
de Política Econômica do BC.
Para Lisboa e Levy, Bevilaqua lidera um grupo interno no BC que
é o mais influente e com uma visão mais pró-mercado do que a
dos demais diretores. Com a chegada de Azevedo, a diretoria do
BC volta a ter nove integrantes
(incluindo Meirelles).
Lisboa e Levy avaliam que foi
Bevilaqua quem liderou movimento para impedir queda maior
da Selic quando isso era possível e
que, agora, foi o principal defensor de uma alta maior. Como vazou para a imprensa que havia
um trio mais pró-mercado, o Copom tomou decisão unânime anteontem para evitar carimbos específicos e mostrar que não se
curva à pressão política.
Bevilaqua, ex-professor da
PUC-RJ, é visto no Planalto como
o homem mais influente do BC.
Avesso a políticos, costuma dizer
que não foi nomeado diretor para
atender congressistas e os encaminha para assessores.
Já Lisboa e Levy têm duas preocupações principais em relação às
decisões do BC. Primeira: temem
que mine a retomada do crescimento econômico, por influírem
negativamente nas expectativas
dos empresários. Segunda: quanto mais alta a Selic, mais cresce a
dívida pública. Levy, do Tesouro,
queria fechar 2004 com queda na
relação entre a dívida pública e o
PIB (Produto Interno Bruto). As
decisões do Copom, no mínimo,
dificultam isso.
Dirceu e superávit primário
Em reunião com Lula, Dirceu
lembrou que a recente elevação
da meta do superávit primário
deste ano, de 4,25% do PIB para
4,5%, foi vendida por Palocci como medida para frear a necessidade de alta dos juros logo após a
reunião de setembro. Para o chefe
da Casa Civil, o "sacrifício" de elevar o superávit (economia para
pagar os juros da dívida) está sendo desconsiderado pelo BC.
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