São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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TENSÃO PÓS-COPOM

Presidente do BC fala a investidores; Palocci defende decisão

Aperto pode aumentar, diz Meirelles

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A BOSTON
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A uma platéia de investidores estrangeiros, em Boston (EUA), o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ignorou as críticas à atual política monetária e transmitiu um recado. "Não dá para dizer que [o aperto] acabou."
"Acho que não existe um momento em que qualquer BC possa dizer: ‘Acabou, daqui para a frente está tudo feito’. É um trabalho constante de ação e monitoramento, como fazem todos os bancos centrais do mundo, que vão adotando as políticas adequadas a cada momento do ciclo econômico", afirmou, durante uma sessão de perguntas no New England Latin America Business Council.
"As pessoas reclamam da política monetária apertada", afirmou, "mas a verdade é que nunca os índices de confiança estiveram tão altos". Nesta semana, dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e da Fecomercio SP (Federação do Comércio) indicaram que empresários e consumidores seguem otimistas em relação ao futuro da economia.
Meirelles estressou, em suas respostas, que o importante, para o governo, é tentar assegurar a sustentabilidade do crescimento. E disse achar normal as críticas ou divergências de opinião em relação à atitude do BC: "Em última análise, os resultados no Brasil são positivos, e a economia está crescendo".
"Temos que resistir à tentação do passado de crescer inflando a economia", complementou.
O dirigente não falou explicitamente sobre a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de elevar os juros nesta semana. Como sempre, explicações mais detalhadas devem vir na ata da reunião, que será divulgada na semana que vem.
Mas tocou de novo no assunto da independência do BC --que virou foco de discussão novamente, a partir de uma possível pressão do presidente Lula para que os juros não subissem. "O BC é hoje praticamente autônomo", afirmou. Ele explicou que a independência da autoridade monetária é um assunto em discussão dentro do governo e que um projeto de lei propondo a autonomia do BC será apresentado ao Congresso, mas ele disse que ainda não há expectativa de votação.
Bem-humorado, Meirelles disse que não estava em Boston fugindo das críticas à elevação dos juros. A viagem, segundo ele, estava marcada com antecedência.

Defesa
Distante dali, em Brasília, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) saiu em defesa do BC, ao ser questionado por jornalistas se o aumento dos juros no dia anterior não havia sido exagerado. Isentando-se de responsabilidade sobre a decisão, o ministro disse que "confia integralmente" no Copom.
"Essa foi uma avaliação que o Copom fez [de que o aumento da taxa deveria ser de 0,5 ponto percentual, e não de 0,25, como esperava a maioria dos analistas financeiros]. Eu confio no Copom, sobre suas avaliações", disse Palocci pela manhã.
Ao ser indagado sobre que avaliação ele, como ministro, faria da elevação de 0,50 ponto, Palocci insistiu no apoio ao BC: "Nós confiamos integralmente nas avaliações do Copom. As atas [das reuniões] têm sido muito claras. O Banco Central tem sido absolutamente transparente. Estão muito claras as decisões e as atas".
Para o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), o aumento dos juros é uma situação passageira. Segundo ele, o governo continua trabalhando por juros menores. "É importante ler a ata da decisão do Banco Central e compreender que é uma situação transitória. Nós vamos certamente prosseguir em uma trajetória de juros menores, conforme tem colocado o governo Lula no seu plano plurianual", afirmou.
Ele disse que não ficou surpreso com o aumento de 0,5 ponto percentual. "Eu acho que o mercado inteiro esperava um ajuste da taxa de juros e havia opiniões entre 0,5 e 0,25 ponto. Essa era uma das alternativas do mercado", afirmou.

Melhor agora
Na parte da tarde, Palocci recebeu o presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base), Paulo Godoy. Entre os assuntos tratados no encontro, foram discutidas as questões do aumento dos juros e das perspectivas para a inflação.
Segundo Godoy, o ministro teria dito que era preferível fazer o ajuste da política monetária agora para evitar constrangimentos mais fortes na economia no futuro. Ele concordou com a explicação de Palocci. "Há uma incerteza com relação aos combustíveis e ao comportamento dos preços do petróleo. Então, é uma medida segura para que as medidas posteriores não sejam mais rudes", disse Godoy.
Segundo ele, na opinião do ministro, a trajetória dos juros não precisaria necessariamente ser ascendente. De acordo com Godoy, Palocci teria afirmado que o aumento dos juros poderia ser uma correção momentânea e que o ministério trabalharia com a possibilidade de redução da taxa, mas sem falar em prazo.


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