São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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TENSÃO PÓS-COPOM

Redes dizem que tentarão adiar repasse da alta da Selic para evitar efeito negativo nas vendas de final de ano

Varejo estuda segurar juros para "salvar" Natal

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As redes varejistas colocaram em banho-maria a decisão de alterar os juros do crediário, após a alta na taxa Selic definida anteontem. A Folha apurou que a estratégia é tentar adiar a alta para o início de 2005, pelo menos, para evitar um efeito psicológico negativo nas vendas natalinas.
As redes Extra e Carrefour informam que não irão alterar os juros agora. A Casas Bahia está analisando a questão. A Panashop irá "esperar um pouco mais" antes de optar por uma eventual subida. O Ponto Frio não se manifestou a respeito.
Essa discussão precisa, em alguns casos, envolver as financeiras e tem de ser decidida com base num possível aumento dos custos financeiros das empresas, com a alteração na Selic. Explica-se: lojas sem capital próprio para financiar as compras a prazo formam parcerias com as financeiras, que pertencem aos bancos e oferecem o parcelamento.
Alguns analistas acreditam que o país entra numa faixa de risco para o bom desempenho das vendas natalinas neste ano, com a segunda alta consecutiva na Selic.
"O momento agora é delicado. Se as lojas perceberem um arrefecimento nas vendas nas próximas semanas e o Copom vier com nova alta nos juros em novembro, então a data ficará comprometida e as estimativas de Natal gordo vão ao chão", explica Miguel Oliveira, presidente da Anefac, a associação nacional dos executivos de finanças.
"O varejo não tem "colchão" para absorver subidas consecutivas nas taxas. Além disso, provavelmente essa medida vai ter efeito psicológico nas vendas natalinas, pois o consumidor reage a essas notícias", diz Guilherme Afif Domingos, presidente da Associação Comercial de São Paulo.
Isso não é um consenso entre os economistas. Fabio Silveira, sócio da MS Consulting, acredita que a indústria não vá alterar os planos de compra por conta de um aumento nas taxas. "O que vai ocorrer é uma inibição no ritmo de expansão para 2005", diz.
A estimativa das associações e das lojas, até o momento, é de um Natal com vendas superiores às dos últimos quatro anos.

Pressão da concorrência
Na prática, alterações na taxa básica de juros acabam respingando no mercado, mas não imediatamente.
Isso acontece por uma questão de concorrência. As lojas aguardam a posição da loja vizinha e a forma como o mercado agirá, para dar o passo. Ninguém quer ser o primeiro a subir a taxa.
"Há uma questão de competição aí que é levada em conta. Você não irá subir as taxas se o mercado segura. Além disso, já há uma comunicação montada com base nas taxas atuais. Então, pode haver um impacto, mas não acontece agora", diz Edson Pinto, diretor financeiro da Panashop.
Na reunião anterior do Copom, em setembro, que determinou uma elevação de 0,25 ponto percentual na Selic, a Casas Bahia fez uma alteração, por exemplo.
Retirou, dias após o anúncio do governo, a promoção da taxa de 1% ao mês e começou a veicular uma ação que determinava extensão no prazo para pagamento da primeira parcela da compra. Em outubro, a taxa mensal de 1% voltou só para alguns produtos.
A rede nega que tenha feito mudanças por conta de alteração na Selic. Informa ainda que já planejava acabar com a promoção da taxa de 1% ao mês neste ano e que a decisão apenas foi acelerada.


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