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Brasil "exporta" investimentos produtivos
Pela primeira vez na história, recursos investidos por empresas nacionais no exterior vão superar valor que o país recebe
Dado indica fortalecimento de setores da economia brasileira e a pouca atratividade do país para investidores estrangeiros
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil vai bater neste ano o
recorde de investimentos no
exterior e, pela primeira vez na
história, a saída de recursos
destinados a atividades produtivas vai superar a entrada.
Entre janeiro e outubro, as
empresas brasileiras investiram US$ 22,8 bilhões em outros países, mais que o dobro do
recorde anterior de US$ 9,47
bilhões registrado em 2004,
quando houve a fusão da AmBev com a belga Interbrew.
No mesmo período, o país recebeu US$ 13,6 bilhões de IED
(Investimento Estrangeiro Direto) -uma diferença de menos US$ 9,2 bilhões em relação
ao que saiu. Ainda que se concretize a previsão oficial de entrada de US$ 18 bilhões em IED
neste ano, a conta continuará
negativa, pela primeira vez na
história do país.
O resultado mostra o fortalecimento de alguns setores da
economia brasileira, que ganharam músculos e estão se internacionalizando para sobreviver em um mundo globalizado. Mas também revela a pouca
atratividade do país para os investidores estrangeiros, que
destinam recursos crescentes a
outros emergentes, especialmente os asiáticos.
"Países emergentes como o
Brasil devem ser importadores
de capitais, porque têm necessidades de investimentos que
superam em muito a sua capacidade de geração de divisas e
de produtividade", diz Álvaro
Cyrino, professor do centro de
internacionalização da Fundação Dom Cabral. Ou seja, o problema não está na saída, mas no
baixo volume de entrada de recursos que o Brasil precisa para
se desenvolver.
Dos US$ 22,8 bilhões investidos por empresas brasileiras no
exterior, US$ 13,2 bilhões se referem à compra da canadense
Inco pela Vale do Rio Doce.
Ainda que o valor seja reduzido,
o resultado (US$ 9,6 bilhões)
supera o recorde de 2004.
A Vale atua em um setor -a
mineração- concentrado em
poucas empresas, no qual o ganho de escala e fatias relevantes do mercado são cada vez
mais importantes para a sobrevivência, avalia Antonio Corrêa
de Lacerda, professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo).
A siderurgia é outra área que
passa por reestruturação mundial e no qual se intensificam os
investimentos brasileiros no
exterior. A gaúcha Gerdau lidera o ranking de internacionalização de empresas brasileiras
feito pela Fundação Dom Cabral, seguida da Norberto Odebrecht, da Vale e da Petrobras.
Só neste ano, a Gerdau comprou três siderúrgicas nos
EUA. O estudo da fundação foi
realizado antes da compra da
Inco e leva em conta fatores como valor de ativos e número de
empregados no exterior.
Efeito câmbio
Na avaliação de Cyrino, a valorização do real também estimula o investimento em outros
países, na medida em que reduz
os custos em dólar. "As empresas têm oportunidade de comprar ativos mais baratos e de
entrar em mercados mais
atraentes que o Brasil."
Para Lacerda, o mesmo raciocínio é feito pelas empresas
que analisam investimentos
aqui -com o real em alta, os
custos em dólar sobem, o que
reduz a atratividade do país.
"É suicídio um país emergente entrar na globalização com o
câmbio valorizado", afirma Lacerda, autor do livro "Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil".
O baixo crescimento do país
completa a equação negativa.
Enquanto a expansão da economia mundial foi em média de
4,8% no ano passado, a do Brasil ficou em 2,3%. O FMI prevê
que o mundo crescerá 5,1% em
2006, e o Brasil, 3,6% -analistas do mercado, porém, prevêem cerca de 3%.
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