São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

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Brasil "exporta" investimentos produtivos

Pela primeira vez na história, recursos investidos por empresas nacionais no exterior vão superar valor que o país recebe

Dado indica fortalecimento de setores da economia brasileira e a pouca atratividade do país para investidores estrangeiros


CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil vai bater neste ano o recorde de investimentos no exterior e, pela primeira vez na história, a saída de recursos destinados a atividades produtivas vai superar a entrada.
Entre janeiro e outubro, as empresas brasileiras investiram US$ 22,8 bilhões em outros países, mais que o dobro do recorde anterior de US$ 9,47 bilhões registrado em 2004, quando houve a fusão da AmBev com a belga Interbrew.
No mesmo período, o país recebeu US$ 13,6 bilhões de IED (Investimento Estrangeiro Direto) -uma diferença de menos US$ 9,2 bilhões em relação ao que saiu. Ainda que se concretize a previsão oficial de entrada de US$ 18 bilhões em IED neste ano, a conta continuará negativa, pela primeira vez na história do país.
O resultado mostra o fortalecimento de alguns setores da economia brasileira, que ganharam músculos e estão se internacionalizando para sobreviver em um mundo globalizado. Mas também revela a pouca atratividade do país para os investidores estrangeiros, que destinam recursos crescentes a outros emergentes, especialmente os asiáticos.
"Países emergentes como o Brasil devem ser importadores de capitais, porque têm necessidades de investimentos que superam em muito a sua capacidade de geração de divisas e de produtividade", diz Álvaro Cyrino, professor do centro de internacionalização da Fundação Dom Cabral. Ou seja, o problema não está na saída, mas no baixo volume de entrada de recursos que o Brasil precisa para se desenvolver.
Dos US$ 22,8 bilhões investidos por empresas brasileiras no exterior, US$ 13,2 bilhões se referem à compra da canadense Inco pela Vale do Rio Doce. Ainda que o valor seja reduzido, o resultado (US$ 9,6 bilhões) supera o recorde de 2004.
A Vale atua em um setor -a mineração- concentrado em poucas empresas, no qual o ganho de escala e fatias relevantes do mercado são cada vez mais importantes para a sobrevivência, avalia Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
A siderurgia é outra área que passa por reestruturação mundial e no qual se intensificam os investimentos brasileiros no exterior. A gaúcha Gerdau lidera o ranking de internacionalização de empresas brasileiras feito pela Fundação Dom Cabral, seguida da Norberto Odebrecht, da Vale e da Petrobras. Só neste ano, a Gerdau comprou três siderúrgicas nos EUA. O estudo da fundação foi realizado antes da compra da Inco e leva em conta fatores como valor de ativos e número de empregados no exterior.

Efeito câmbio
Na avaliação de Cyrino, a valorização do real também estimula o investimento em outros países, na medida em que reduz os custos em dólar. "As empresas têm oportunidade de comprar ativos mais baratos e de entrar em mercados mais atraentes que o Brasil."
Para Lacerda, o mesmo raciocínio é feito pelas empresas que analisam investimentos aqui -com o real em alta, os custos em dólar sobem, o que reduz a atratividade do país.
"É suicídio um país emergente entrar na globalização com o câmbio valorizado", afirma Lacerda, autor do livro "Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil".
O baixo crescimento do país completa a equação negativa. Enquanto a expansão da economia mundial foi em média de 4,8% no ano passado, a do Brasil ficou em 2,3%. O FMI prevê que o mundo crescerá 5,1% em 2006, e o Brasil, 3,6% -analistas do mercado, porém, prevêem cerca de 3%.


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